Maria Carolina Gonzalez
Quando somos confrontados a realizar um desafio, todo nosso conhecimento é colocado a prova. Você pode ser um grande paleontólogo e conhecer toda a estrutura óssea de um Tiranossauro Rex, mas e se fosse preciso fugir de um? Ou você pode ser um renomado cineasta com vários filmes premiados na carreira, mas e se você fosse desafiado a trazer para as telas animais extintos há 65 milhões de anos?
E foi justamente com esse desafio que Steven Spielberg trouxe o clássico Jurassic Park (1993) para os cinemas há 25 anos. O filme inspirado no livro homônimo de Michael Crichton, que também colaborou nas filmagens, só foi produzido graças a uma condição posta a Spielberg. O diretor queria filmar A Lista de Schindler (1993), no entanto, ele deveria produzir Jurassic Park primeiro. Sem dúvida essa condição foi vantajosa para os dois filmes.
Jurassic Park conta a história de um parque temático, localizado na Ilha Nublar, próxima à Costa Rica, construído pelo excêntrico milionário John Hammond (Richard Attenborough). O diferencial do parque? Dinossauros reais trazidos de volta à vida graças aos milagres da engenharia genética. Após um acidente envolvendo um dos funcionários, Hammond precisa da autorização de especialistas para continuar o funcionamento do parque. É aí que conhecemos o paleontólogo Alan Grant (Sam Neill), a paleobotânica Ellie Sattler (Laura Dern) e o cético matemático Ian Malcolm (Jeff Goldblum).
O elenco infantil fica por conta dos sobrinhos de Hammond, Tim (Joseph Mazzello) e Lex Murphy (Ariana Richards), que compõem o público alvo do parque: as crianças. A aventura de verdade começa quando o programador Dennis Nedry (Wayne Knight) desliga todo o sistema de segurança do parque para roubar embriões de dinossauros a serviço dos concorrentes de Hammond. Sem as cercas elétricas funcionando, os dinossauros estão livres para tomar conta de toda a ilha.
Dentro desse roteiro aparentemente simples para qualquer filme de aventura, cada personagem demonstra um pouco de sua história que reflete muito na personalidade. John Hammond é uma pessoa muito positiva, não apenas em relação ao parque, mas também em relação as pessoas que ele vai conhecendo. Confrontando esse otimismo exagerado, Ian Malcolm surge carregado de sarcasmo e com muita ironia em suas falas. O matemático – e também galã – a todo momento se mostra incrédulo e demonstra conhecer muito bem os efeitos da Teoria do caos. Em destaque está Alan Grant, um homem que faz questão de mostrar o quanto é rude, um tanto ignorante e que diz não ter paciência para crianças.
E claro que devemos falar sobre Ellie Sattler. A todo momento, a paleobotânica é confrontada com comentários tão arcaicos quanto os dinossauros. Claro que construíram uma personagem de traços delicados e até com um instinto materno, mas também mostraram que a mesma pessoa é capaz de colocar sua mão em toneladas de fezes de um Tricerátops doente para salvá-lo. Sua relação amorosa com Alan (que não são romanticamente envolvidos no livro) ou a reação aos comentários indecentes de Ian são pouco explorados, já que ela foi convidada graças ao seu trabalho, assim como todos os homens presentes. Laura Dern já empolgava, e continua empolgando, meninas do mundo inteiro com suas personagens cativantes.
Em E.T. – O Extraterrestre (1982) e A Cor Púrpura (1985), percebemos que Steven Spielberg busca explorar o lado emocional em seus filmes. Em Jurassic Park isso fica por conta da relação entre Alan e as crianças Tim e Lex. O homem que se diz rude e ignorante não pensa duas vezes antes de arriscar sua vida para salvar os netos de alguém que ele nem conhece direito. A ideia de juntar um especialista e crianças extremamente curiosas não é mera coincidência para aproximar seus laços. Tim e Lex despertaram um lado paterno que Alan desconhecia.
Para trazer um dinossauro de volta à vida, a equipe de Spielberg, em parceria com a Industrial Light & Magic de George Lucas, utilizou uma exclusiva mistura de animatronics e animação 3D para dar o máximo de realidade aos movimentos dos dinossauros. Jurassic Park tem apenas 15 minutos de dinossauros em cena, mas foram suficientes para deixar um legado. Um Tiranossauro Rex atacando um Ford Explorer ou dois Velociraptors caçando crianças em uma cozinha industrial são exemplos das cenas memoráveis que o filme trouxe.
Analisando mais profundamente, talvez de maneira exagerada, Jurassic Park carrega muitos ensinamentos verdadeiramente humanos. Os monstros do filme nunca foram os dinossauros, muito pelo contrário. Alan, Ian e Ellie trazem a todo momento uma análise, um tanto quanto filosófica, sobre saber se adaptar em um ambiente desconhecido, mesmo em termos científicos. Saber que algumas espécies de sapo mudam de sexo para reprodução, como Alan explicou para as crianças, acaba ensinando mais sobre adaptação do que qualquer outro tipo de filosofia aprofundada. A vida sempre encontra um meio.
Hammond pensa somente no funcionamento completo do parque, sem demonstrar qualquer tipo de preocupação com o bem-estar dos animais que um dia já dominaram a Terra, mas agora estão em um ambiente completamente desconhecido servindo como atrações. Um roubo foi o suficiente para o caos se espalhar na ilha e colocar muita gente em perigo. Percebemos que os vilões são os humanos, um dinossauro, assim como qualquer animal, apenas segue seus instintos quando é necessário.
A ganância humana foi o problema até nas sequências da antiga trilogia, O Mundo Perdido: Jurassic Park (1997) e Jurassic Park III (2001), e continua sendo nos novos filmes Jurassic World (2015) e Jurassic World: Reino Ameaçado (2018). E isso era tudo que Steven Spielberg queria passar em sua obra, trazer o máximo de realidade plausível mesmo em uma história com criaturas extintas. Por isso ficamos tão fascinados.
Assim como outros clássicos de Spielberg, Jurassic Park é atemporal. Mesmo com sequências que não fizeram tanto sucesso quanto o primeiro, as pessoas ainda vão no cinema para ver dinossauros e homens na mesma cena. Mais do que mera ficção, é muito empolgante e sempre carrega muita curiosidade e um brilho nos olhos, tanto em crianças quanto em adultos. Esse deslumbramento que começou 25 anos atrás não pode ser controlado, afinal, a vida encontra um meio.