A terceira temporada de Heartstopper é um lembrete de que nunca estamos sozinhos

Cena de Heartstopper com dois adolescentes se encarando de forma carinhosa em um ambiente externo à noite. O menino da esquerda, chamado Nick, tem cabelo liso e veste um moletom cinza com capuz. Ele sorri de maneira suave enquanto olha para o menino da direita, chamado Charlie, que tem cabelo cacheado e veste um casaco verde claro. O fundo está escuro, com leves sombras de árvores e uma cerca.
Demorou três temporadas, mas finalmente Nick e Charlie disseram ‘eu te amo’ um para o outro (Foto: Netflix)

Arthur Caires

A atmosfera positiva e idealizada de Heartstopper é uma marca registrada da série desde a sua estreia, gerando algumas críticas por parte do público. Embora certos momentos possam ser considerados caricatos, a produção tem como objetivo ser uma fuga da adolescência corrompida de obras como Euphoria, focando em ser quase como um ‘manual’ para a nova geração e um acalento para os mais velhos. Na terceira temporada, lançada em Outubro de 2024, o original Netflix segue com o tom adocicado, mas oferece um retrato mais realista e autêntico ao tratar de temas mais maduros.

O distúrbio alimentar de Charlie Spring (Joe Locke) introduzido na segunda temporada é ampliado e dá o pontapé inicial para o tema que vai permear o novo ano: saúde mental. Além do protagonista, Nick Nelson (Kit Connor) também apresenta sinais de estresse, pois não sabe como ajudar seu namorado e não consegue se ver longe dele.

Cena de Heartstopper com dois adolescentes sentados em uma cama, em um quarto. O menino da esquerda, chamado Charlie, tem cabelo cacheado e veste um cardigã rosa sobre uma camiseta listrada. Ele olha para o menino da direita, chamado Nick, que tem cabelo liso, veste um suéter verde e também olha para Charlie com expressão séria e carinhosa. O ambiente é iluminado por uma luz quente vinda de um abajur ao fundo.
Nick e Charlie nunca estiveram tão unidos quanto nesta temporada (Foto: Netflix)

Até a metade da temporada, acompanhamos a trajetória do casal descobrindo como lidar com este desafio. Nick tenta ao máximo convencer Charlie a procurar ajuda, que, por sua vez, nega que algo esteja errado. Tudo isso culmina no cuidadosamente dirigido e roteirizado quarto episódio, intitulado Jornada, em que Locke e Connor entregam performances marcantes mostrando como seus personagens tiveram que lidar com essa situação. 

Para uma produção destinada ao público jovem, é muito importante que Heartstopper tenha esse papel de representação e conscientização. Desde as cenas de Charlie visitando centros de ajuda até o diálogo de Nick na praia com sua tia Diane (Hayley Atwell’s), a série busca mostrar que não estamos sozinhos nesses momentos e que sempre há uma luz no fim do túnel.

A partir da metade final da temporada, a questão da saúde mental continua a ser abordada, mas fica em segundo plano. O novo arco foca em tratar de outras experiências da adolescência, como a ‘primeira vez’ e a escolha de uma faculdade. Além disso, abre-se mais espaço para o desenvolvimento dos personagens secundários e de discussões diferentes porém igualmente importantes.

A imagem mostra um grupo de nove adolescentes posando juntos para uma foto em um ambiente ao ar livre, com uma girafa ao fundo. Eles estão sorrindo e parecem felizes, em um zoológico com árvores e construções ao fundo. O grupo é diverso, com diferentes estilos e roupas coloridas.
A diversidade de personagens de Heartstopper reflete na larga abrangência de temáticas diferentes (Foto: Netflix)

A jornada de Elle Argent (Yasmin Finney) se destaca entre as histórias paralelas da série. Além de lidar com questões de disforia corporal, a personagem precisa navegar pelo mundo online, onde ganha notoriedade como artista. Essa exposição inesperada a coloca em uma posição complexa, confrontando-a com as expectativas de ser uma representante ativa da comunidade trans. Ao mesmo tempo, a produção mostra a vida cotidiana de Elle e seus relacionamentos, como seu romance com Tao Xu (William Gao); humanizando sua experiência e oferecendo uma representação multifacetada e positiva de uma jovem trans.

Além de Elle, Tori Spring (Jenny Walser) deixa de fazer aparições repentinas e também ganha um maior destaque nesta temporada. A personagem, além de ser um pilar de apoio para Charlie, representa a irmã mais velha que, muitas vezes, assume responsabilidades além de sua idade. Ao explorar a jornada de Tori, a série oferece uma representação autêntica da experiência de muitos jovens que se encontram em situações semelhantes, cuidando de familiares e amigos enquanto lidam com seus próprios desafios.

Vale também mencionar outras narrativas que foram menos trabalhadas, mas que deram uma diversidade para os temas de Heartstopper. É o caso da pressão acadêmica sofrida por Tara Jones (Corinna Brown) ao se ver diante da escolha de uma faculdade e o progressivo entendimento de Darcy Olsson (Kizzy Edgell) como pessoa não-binária e a forma leve como isso é retratado.

Cena de Heartstopper com dois adolescentes deitados em uma cama. O menino da esquerda, chamado Charlie, tem cabelo cacheado e está sem camisa. Ele olha para o menino da direita, chamado Nick, que tem cabelo liso, está sem camisa e também olha para Charlie, com a mão em seu rosto, com uma expressão feliz e afetuosa. O ambiente é iluminado por uma luz quente.
O cuidado e a intimidade da ‘primeira vez’ de Nick e Charlie é um dos destaques da temporada (Foto: Netflix)

A última grande trama de Nick e Charlie da temporada se consistiu na ‘primeira vez’ dos dois. O tema foi motivo de críticas no ano anterior, pela suposta falta de relações sexuais entre os dois adolescentes. A mensagem que fica é que tudo acontece no momento certo, e a forma com que Locke e Connor representam essa cena não poderia ter sido feita de uma melhor maneira. A narrativa evita a sexualização excessiva e se concentra na importância do consentimento e da vulnerabilidade, oferecendo um retrato positivo e realista da sexualidade adolescente.

O maior legado de Heartstopper será a forma como a série conseguiu abordar diversos tópicos pertinentes da juventude e, principalmente, sobre a minoria LGBTQIAPN+ com cuidado e respeito, de maneira que todos sentissem o seu ‘quentinho’ característico. Na cena final da terceira temporada, os dois passam a noite inteira conversando deitados na cama. É como um lembrete de que as coisas podem ser simples e positivas, e que podemos encontrar uma ou várias pessoas que nos fazem sentir em casa.

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