Giovani Zuccon
No dia 17 de abril de 2011, a HBO exibiu o primeiro episódio de Game of Thrones, dando início a um dos maiores marcos da cultura pop da década passada. A experiência de acompanhar a série durante o lançamento de seus capítulos, e até mesmo a decepção do final, pode ser comparada à de assistir Lost, a todo momento um cérebro explodindo e um olhar desesperado de “e agora?”.
Todo encerramento de temporada deixou aquela expectativa pelo que viria em seguida, e era fácil encontrar as mais variadas teorias na internet. A série comandada pelos showrunners David Benioff e D.B. Weiss contou com um elenco misto de jovens talentos e atores renomados como Sean Bean, Lena Headey e Peter Dinklage (este último sendo um dos grandes destaques da série), juntamente de caras novas como Kit Harington, Emilia Clarke, Sophie Turner e Maisie Williams que roubaram a cena e marcaram seus nomes entre os grandes.
O enredo da série se passa em Westeros, seguindo as intrigas políticas e pessoais de vários personagens (que em sua maioria morrem), um grande elenco de diretores ficaram responsáveis pela tarefa de dar vida a trama, entretanto, três destes foram mais recorrentes e valem ser destacados, sendo eles Alex Graves, David Nutter e Alan Taylor (cada um dirigiu um total de 6 episódios). Já na primeira cena, somos apresentados ao maior perigo, os Caminhantes Brancos, aquele que deveria ser o clímax máximo da série.
Infelizmente, não foi, e este é apenas um dos vários problemas do último ano da produção. Ainda assim, é impossível não reconhecer os inúmeros méritos de Game of Thrones: se trata do maior vencedor de Emmy Awards da história, com incríveis 160 indicações e 59 vitórias, inúmeras citações em outras séries, abertura especial em The Simpsons e, claro, a própria inesquecível sequência inicial que coloco todas minhas fichas que já foi a mais recriada e parodiada de todas.
Existe a produção televisiva antes e após Game of Thrones. Sem contar sua influência em outras séries como Vikings, The Last Kingdom e recentemente The Witcher. O nível de desenvolvimento e produção foi quase irretocável durante os oito anos de serialização, e olhar para Westeros era se sentir na maioria das vezes sujo e enojado. Ao contrário de Harry Potter e outras produções fantasiosas, você não queria estar lá.
Cada pequeno acontecimento que, às vezes, passava despercebido, poderia desencadear uma morte inesperada. Você está sentado, assistindo a série de Ned Stark, pensa que está tudo bem e que ele vai ser o herói dessa história, e, de uma cena para outra, não só Ned, mas você também perde sua cabeça e fica incrédulo.
O chamativo da série é o fato de não haver em si um herói e um vilão. Em sua grande maioria, os personagens têm arcos onde são completos babacas ou se tornam. Em alguns momentos agem de forma correta, mas, em geral, movidos pelo ego e por ambições, cometem ações maldosas. Grande exemplo é o de Sandor Clegane (Rory McCann), que cuidou de Arya Stark (Maisie Williams) e demonstrou ser mais que um brutamontes mal encarado, mas, ainda assim, só fez isso por dinheiro e, no fim, leva uma das maiores surras da série de Brienne (Gwendoline Christie), que havia jurado sua espada para a proteção das irmãs Stark.
Tentar lembrar de momentos chocantes e marcantes é perder a conta e deixar alguns de fora. Além da já citada morte de Ned Stark, na primeira temporada, tivemos o nascimento dos dragões de Daenerys (Emilia Clarke) para fechar com chave de ouro. Daí para frente estes momentos se intensificaram, mas nada se compara ao Casamento Vermelho.
Talvez, só pela citação ao nome, já é possível ouvir o violino ao fundo, e nada preparou os espectadores para uma das maiores reviravoltas já vistas na série. Robb Stark (Richard Madden), que naquele momento era o Rei e comandante da revolta nortenha, foi assassinado, juntamente de sua esposa grávida e sua mãe Catelyn (Michelle Fairley). Assim, mais dois personagens importantes morriam, sem mais nem menos, em uma cena que visualmente choca por ter uma construção de tensão gradual e desesperadora.
Nem só de momentos que nos desesperamos por nossos personagens preferidos é feito Game of Thrones. Às vezes, aquele odiado pelo público se dá mal, como foi o caso de Joffrey Baratheon (Jack Gleeson) morrendo envenenado; Tywin Lannister (Charles Dance) sendo pego com as calças na mão; e Mindinho (Aidan Gillen) que tentou até o fim manipular e orquestrar a seu favor, mas tinha metido o dedo na relação das irmãs erradas.
Mas, nenhum momento se compara em níveis de produção e execução com a Batalha dos Bastardos, o esperado momento em que os Stark recuperariam sua casa e chutariam a bunda de Ramsay Bolton (Iwan Rheon). O nível técnico foi digno de Cinema. A tensão e o sufoco quando Jon Snow (Kit Harington) foi derrubado e pisoteado, cada detalhe fazia prender a respiração e quando tudo parecia perdido, com toques de Senhor dos Anéis: As Duas Torres, a cavalaria aliada chega salvando uma batalha perdida. Infelizmente, nessa temporada a série chegava em seu ápice, como uma queda bem acentuada dali em diante.
A oitava e última temporada chegou com várias pontas soltas para serem explicadas, além da expectativa pelo embate final contra o exército de mortos do Rei da Noite (Richard Brake nas temporadas 4 e 5; Vladimir Furdik nas temporadas 6 á 8). O teaser lançado com vários cenários sendo tomados por neve e com aspecto gélido gerou uma ansiedade imensa em qualquer fã. Era o clímax, o fim de uma jornada épica que infelizmente não atingiu metade de seu potencial.
O enredo apresentado foi cheio de furos e momentos que mais serviam para agradar fãs, o famoso fan service, mas não foi o suficiente para maquiar as falhas. No fim, várias pontas ficaram em aberto, e revelações como quem eram os pais de Jon Snow foram apenas jogadas e mal utilizadas, perdendo espaço para uma cena de tour aéreo do casal Jon e Daenerys pelo Norte.
Não apenas os fãs se decepcionaram com o fim da série, mas seu elenco também demonstrou insatisfação. Como não lembrar da reação de Emilia Clarke quando perguntada se havia gostado do final de seu personagem? Ou de Kit Harington descrevendo a última temporada como decepcionante?
Tudo que dava a Game of Thrones singularidade foi jogado fora. Nada de mortes inesperadas e surpreendentes de grandes personagens, talvez por falta de coragem ou apenas por uma escrita preguiçosa, e a grande tentativa de surpreender com quem salvaria Westeros do exército de Caminhantes Brancos jogou fora praticamente o trabalho de desenvolvimento de quatro temporadas. No apagar das luzes, o questionamento que ficou é se vale a pena uma ótima viagem com um péssimo destino.
Game of Thrones foi e sempre será, ainda que com todos os problemas, uma das maiores séries da história. Talvez em dez ou vinte anos ainda seja relevante e lembrada, não apenas pelo que aconteceu dentro da produção, mas fora, como no especial para arrecadação de fundos junto a banda Coldplay. Talvez demore mais uma década para uma série de mesmo impacto surgir na Televisão. Não que as atuais deixem a desejar, muito pelo contrário, mas se manter no auge por tanto tempo é para poucos, e com toda certeza ainda deixa um buraco nas noites de domingo da HBO.
Felizmente, para os que se sentem órfãos de Game of Thrones, mais produções do universo estão engatilhadas e prometem contar mais sobre as histórias de Westeros no passado. House of the Dragon deve mostrar as tramas da família Targaryen e sua chegada ao continente, atualmente planejada para estrear em 2022. Talvez aprendendo com os erros de seu predecessor tenhamos a mesma sensação das temporadas iniciais de Game of Thrones mais uma vez. A frase mais famosa da série vai ter que ser atualizada, o inverno está chegando abre espaço para os dragões estão chegando!