Maria Vitória Bertotti e Nathalia Tetzner
Lançado em Abril de 2024, Evidências do Amor é a mais nova comédia romântica brasileira banhada a humor e uma trilha sonora um tanto quanto inesquecível. Com Fábio Porchat e Sandy Leah protagonizando o longa e formando um casal mediano e sem química, o filme conta a história de amor dos dois e de como a música Evidências, de Chitãozinho e Xororó, acompanha essa jornada de (muitas) lembranças, visitas literais ao passado e reconquista.
Para quem já assistiu ao filme, é um fato, e para quem ainda não, um spoiler: a atuação de Sandy Leah decepciona. Se você é uma daquelas pessoas que foi assistir Evidências do Amor esperando pelo triunfo da cantora, lamentamos pois o que ela realmente sabe fazer de melhor é soltar a voz. Sua tentativa de emplacar como atriz falha e deixa a desejar com a falta de carisma e emoções verdadeiras, sendo suas melhores cenas as em que canta – ainda assim, são um pouco entediantes. Sandy entrega visuais e boas canções, mas prefere manter o estereótipo de estrela da Música e filha do Xororó.
Também no protagonismo, Fábio Porchat ainda carrega o teor daquelas investidas humorísticas datadas à la Porta dos Fundos, porém, apesar de momentos exagerados, consegue entregar uma atuação pontual e genuinamente engraçada. Dividindo a tela com a cantora que, antes da comédia romântica apenas havia se aventurado na novela Sandy & Junior, o eterno Olaf ameniza a falta de experiência da companheira para tentar arrancar o sorriso do telespectador.
Toda a reflexão proposta por Evidências do Amor sobre o que faríamos de diferente se pudéssemos voltar ao passado, acaba se saindo bem melhor em termos de atingir os sentimentos da audiência com o arco secundário: a relação – ou melhor, a falta dela – entre pai e filho. Inconscientemente em busca de uma lista de melhores filmes da história criada pelo seu genitor, Marco Antônio demanda que Porchat coloque para fora as inseguranças internalizadas de seu personagem.
Na única cena realmente dramática – calculadamente inserida no longa para atrair compaixão ao casal principal –, o comediante entrega poucas lágrimas com dificuldade, que somente não causam um mal-estar maior do que a poker face da cantora como a ingênua Laura. Sim, assim como na vida real, a faceta de ‘mocinha’ permanece intacta e inabalável nas telonas do Cinema, mesmo diante da sequência com maior potencial de tocar os corações. Pelo visto, drama e emoção não são o forte de Porchat e Sandy.
Se a dupla principal deixa faltar química de vez em quando, Evelyn Castro rouba a cena no papel de Júlia, síndica e conselheira de Marco Antônio. Com uma alegria contagiante frente ao desânimo e desespero do outro, Castro traz aquela dose de racionalidade que acompanha e ajuda a equilibrar as loucuras cometidas pelo protagonista nas viagens ao passado. Larissa Luz também está ótima como a chefe de Marco Antônio, sendo um destaque mesmo diante de poucas aparições.
Quem nunca foi assombrado por uma faixa grudada feito chiclete na mente que atire a primeira pedra. Com os nervos à flor da pele, o casal se encontra no pior cenário possível: estarem presos em um loop de memórias atreladas a uma das composições mais célebres da história, Evidências. Esse pesadelo acaba respingando no telespectador que, após tanta exposição ao ‘hino não-oficial’ do Brasil, começa a se irritar também.
Para surpresa de poucos e certeza de muitos, era inevitável que a dupla sertaneja dona do hit que embala o filme aparecesse para ocupar alguns minutos de tela. É bem satisfatório ver Chitãozinho e Xororó dando o ritmo de cenas finais ao longa com sua música tocando mais uma vez (dentre as outras milhares que já foram citadas), mas agora, pessoalmente e em uma tentativa, um tanto quanto amena, da produção pegar seu público de surpresa.
A maioria dos filmes de Comédia sempre tem alguma falha basal na sua produção, e nesse não poderia ser diferente. O que mais chama a atenção é a rapidez com que a personagem de Sandy supera o namoro, quase casamento, que teve com Marco Antônio após longos anos de relacionamento, e já fica noiva de outro homem em 365 dias. É compreensível e super normal superar longas relações na vida real em pouco tempo, mas na ficção, essa rapidez incomoda e até atribui um ar de ‘sem coração’ para Laura. De resto, só risadas mesmo.
Pelo fato das viagens ao passado só ocorrerem quando alguém coloca Evidências para tocar, a pós-produção teve de elaborar transições aceitáveis para o longa. Surpreendentemente para o gênero de comédia romântica, os efeitos visuais são decentes, com as falhas técnicas se tornando mais aparentes na mixagem de som que, durante os momentos de ‘cantoria’, soa desconfortável. Inclusive, é possível perceber quando algum diálogo teve de ser regravado em estúdio.
Repleto de espaços para referências culturais nacionais, Evidências do Amor também possui até mesmo uma sequência que lembra um pouco o musical hollywoodiano La La Land: Cantando Estações (2017). Dirigido por Pedro Antônio, com roteiro escrito pelo cineasta – já acostumado com a Comédia – e Álvaro Campos, Fábio Porchat e Luanna Guimarães, o filme é a aposta brasileira para a onda de retomada das comédias românticas que trazem para os cinemas títulos como Que Horas Eu Te Pego? (2023) e Uma Ideia de Você (2024). Todos com números de bilheteria positivos em relação à última década.
Evidências é uma faixa chiclete desde que foi lançada e já ganhou o coração dos brasileiros há anos, mas fazer um filme inteiro com a música sertaneja exige força e coragem para emplacar nas telonas do país. A produção consegue dar um tom bem enfático com a canção entrelaçada ao roteiro e, apesar de alguns furos na história, Evidências do Amor pode ser considerada a mais nova comédia romântica ‘queridinha’ do público tupiniquim.