Estante do Persona – Setembro de 2024

Imergindo no universo literário, o Persona marcou presença na maior edição dos últimos dez anos da Bienal Internacional do Livro de São Paulo (Texto de Abertura: Jamily Rigonatto / Arte: Aryadne Xavier)

Chegando a sua 27ª edição, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo –  o maior evento literário da América Latina – ocorreu dos dias 06 a 15 de Setembro de 2024. A editoria do Persona esteve presente no primeiro domingo, 08/09, para conferir lançamentos, estandes e discussões que compuseram a programação do dia. Os integrantes acessaram o espaço credenciados como Imprensa para realizar a cobertura.

Com um público visitante de 722 mil pessoas no total do ano, a Bienal de 2024 se consagrou como a maior dos últimos dez anos. O evento, que é promovido a cada dois anos pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), foi realizado no Distrito Anhembi, região central da Grande São Paulo. O cronograma extenso se debruçou em autores nacionais e internacionais, trazendo grandes nomes como Hayley Kyoko (Girls Like Girls), Vitor Martins (Quinze Dias), Rafael Montes (Jantar Secreto) e Jeff Kinney (Diário de um Banana).

Divididos por blocos identificados por letras, estavam dispostos 227 expositores e mais de 500 selos editoriais para o público escolher, sendo alguns deles a Companhia das Letras, Editora Intrínseca, PANINI, Sesc, Rocco e Editora Record. Em alguns estandes as filas davam voltas, com leitores animados para aproveitar promoções e descontos especiais oferecidos nas compras dos exemplares.

A credencial de imprensa para a Bienal do Livro pode ser solicitada antes do evento por portais, revistas e demais veículos jornalísticos que trabalhem com cultura (Foto: Acervo Pessoal)

No dia 08, o autor Vitor Martins, dono de sucessos do nicho LGBTQIA+ e Young Adult, compareceu a uma mesa da Amazon para falar sobre processos de escrita, relembrou a representatividade e destacou o lançamento de seu novo livro intitulado Mais ou menos 9 horas. O escritor, que também é tradutor, assina textos como Quize dias, Um milhão de finais felizes e Se a casa 8 falasse. Em suas declarações, refletiu sobre como o acolhimento nas páginas pode mudar as perspectivas de pessoas e minorias que se encontram menos em espaços de identificação.

Na arena cultural, o tema se voltava a outra ótica, com o autor de suspense e literatura policial Raphael Montes, que, por meio da Cia das Letras, trouxe um debate sobre os gêneros literários que escreve. Além dele, a Companhia também trouxe a vencedora do Prêmio Jabuti de Romance Literário de 2023, Micheliny Verunsky para um bate-papo sobre a herança do passado nos discursos da contemporaneidade, no Salão de Ideias. 

Algumas editoras tinham mais de um estande espalhado pelo espaço (Foto: Guilherme Leal)

Embarcando em outro tipo aspecto do perfil de leitores e escritores, o Sesc Edições ainda promoveu a mesa “Vozes Negras na Literatura” que trazia Camilla Dias, assistente social, crítica literária e curadora literária, Mario Medeiros, autor do livro “A descoberta do insólito”, Sidney Santiago, ator e performancer, e Midria, poetisa e mestranda em antropologia. Fazendo leituras de referências como Conceição Evaristo e Mirian Alves, o debate trouxe discussões sobre espaços, pertencimento e acessos da comunidade negra.

“Mas independentemente da idade, tem muita gente que se sente como se não pertencesse a essa ‘paulicéia’ desvairada. É que tem muita gente que não se apropria desse espaço – maior da América Latina, maior do Brasil – uma cidade tão grande, mas que se perde em dinheiro…” – Mídria

Os integrantes do Persona gostaram muito de encontrar a diversidade dos livros e contam um pouco mais sobre o momento especial e suas novas aquisições literárias abaixo.


Dicas do mês + relatos

“Todas as pessoas grandes foram um dia crianças – mas poucas se lembram disso.”(Foto: Harper Kids)

O Pequeno Príncipe – Antoine de Saint-Exupéry

O Pequeno Príncipe é um clássico da literatura e quase um clichê. É o equivalente a quando se pergunta a uma pessoa qual o filme favorito dela e ela responde Harry Potter, ou qual a série favorita e a resposta é Friends. Porém, diferentemente desses exemplos, a história de Antoine de Saint-Exupéry não se saturou com o tempo. Ao contrário, ganha um novo significado conforme ficamos mais velhos.

Minha relação com este livro é engraçada. Comecei a leitura quando tinha 16 anos na biblioteca da minha cidade, mas nunca cheguei a terminar. Sempre que voltava ao lugar eu recomeçava, na esperança de ler de uma vez só. O tempo se passou e nunca mais havia sequer pensado nessa história, foi quando o encontrei novamente em um estande da Bienal e decidi levá-lo para casa com a intenção de finalmente conhecer O Pequeno Príncipe. – Arthur Caires


Pessoas Normais disseca as inquietações que assolam todo e qualquer jovem adulto (Foto: Companhia das Letras)

Pessoas Normais – Sally Rooney

Em 2023, eu li pelo Kindle a obra Pessoas Normais, da irlandesa Sally Rooney, e o meu mundo mudou. Quando fomos para a Bienal, decidi comprar a versão física para voltar ao mundo criado pela autora. A trama se concentra em Connell e Marianne, dois jovens que estão em grupos diferentes no que se relaciona à pirâmide social do ambiente escolar. Enquanto ela é a odiada do colégio, o jovem é querido por todos.

Na universidade, os papeis se invertem: o rapaz se torna um mero estudante, e a garota encontra um grupo de amigos e se torna conhecida e amada. Muito mais do que apenas amigos, Connel e Marianne são a pessoa da vida um do outro. O que torna o romance tão único é a forma como, de alguma maneira, eles sempre se desencontram. Não se limitando a tópicos amorosos, o livro também aborda situações mais sensíveis, como depressão, ansiedade e abuso. O maior feito de Rooney ao escrever Normal People (título original) é comprimir em 262 páginas todo o medo, insegurança e excitação que vêm com a chegada da vida adulta. – Guilherme Leal


Um bom suspense é escolher pelo acaso (Foto: Seguinte)

Fumaça Branca – Tiffany Jackson

Quem disse que um livro não pode ser escolhido pela capa? Na minha primeira vez visitando a Bienal Internacional do Livro em São Paulo, as capas brilhantes e cheias de ilustrações instigantes com certeza foram um dos principais motivos de um colapso no meu cartão de crédito, que não pode deixar de ser usado para um bem maior. Em uma dessas armadilhas envoltas em boa estética, encontrei Fumaça Branca, escrito por Tiffany D. Jackson e traduzido por Solaine Chioro.

A escolha foi certeira, já que o texto repousa sobre meu gênero literário favorito: o suspense. Em uma reinvenção da ideia clássica dos filmes e contos do nicho, a narrativa escolhe retratar o conceito de casa mal assombrada com elementos de reviravolta e mistério. Assim, ir contra o famoso ditado “Não escolha o livro pela capa” parece ter sido uma das melhores ideias que uma leitora poderia ter no maior festival literário da América Latina. – Jamily Rigonatto


Na Ponta da Língua: Reflexões sobre Linguagem e Sentido – Peter Brook

“Todas as formas são degraus para se chegar ao sentido. E o sentido é o eterno graal que inspira a busca” (Foto: Edições Sesc)

O estande das Edições Sesc na Bienal é uma constante: todo ano vale a pena entrar. As prateleiras se enchem de Arte, Cultura, História, Política, Filosofia e tudo que é humano. Para cada cantinho que você olha, tem joias escondidas, e foi nessa que Na ponta da Língua me chamou a atenção. O livro é definido em sua contracapa como uma investigação da relação entre a palavra e seu verdadeiro sentido, por Peter Brook, grande nome do teatro contemporâneo europeu. 

O senhor inglês, de 94 anos na época, traz uma perspectiva única sobre a linguagem, a partir de sua carreira e vivências internacionais. Nascido na Inglaterra, mas residente da França há meio século, o artista explora no livro as diferenças e semelhanças entre sua língua materna e a segunda língua. Sobretudo, Na Ponta da Língua é um depoimento e uma análise dos elementos mais básicos da comunicação humana, que exercemos todos os dias. – Giovanna Freisinger


Holocausto Brasileiro – Daniela Arbex

“Se existe inferno, o Colônia era esse lugar” (Foto: Editora Intrínseca)

Sou apaixonada pela escrita da Daniela Arbex há anos, li o Holocausto Brasileiro: Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil durante o meu primeiro ano de faculdade e logo me senti no caminho certo da graduação. Talvez o fato dela ser uma excelente jornalista investigativa tenha me incentivado a continuar acompanhando, também, suas outras produções. Quando soube que iríamos à Bienal, logo pensei em comprar seu livro físico para ler novamente e (quem sabe um dia) conseguir seu autógrafo.

Em Holocausto Brasileiro, a jornalista reporta, por meio de entrevistas, documentos e relatos, a chocante realidade do Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, onde cerca de 60 mil pessoas foram mortas. O livro denuncia o tratamento impiedoso e a negligência extrema com que os internos foram submetidos, de maneira surpreendente, Arbex reconstrói a história de um dos maiores fatos cruéis, trazendo à tona um capítulo tão sombrio da história brasileira. – Vitória Borges

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