
Lucas Barbosa
Para alguns, Deftones tem certos períodos primordiais ao longo da sua trajetória. Primeiramente com Around the fur e todo seu som pesadíssimo que era condizente com o Nu Metal da época; White Pony, um dos álbuns que revolucionaria o Metal de sua época, e o período entre Saturday Night Wrist e Diamond Eyes, onde a banda faria uma revolução, mas na sua própria maneira de fazer Música.
Para entender Diamond Eyes, primeiramente tem que compreender todo o contexto que antecedeu o registro. A banda estava já em períodos finais de produção do seu sexto álbum de estúdio, que foi chamado de Eros. Músicas basicamente definidas e em processo de finalização, o sucessor de Saturday Night Wrist, lançado em 2006, já estava se encaminhando para ser lançado no começo de 2009. Entretanto, no dia 4 de novembro de 2008, o baixista da banda, Chi Cheng, se envolveu em um gravíssimo acidente em Santa Clara na Califórnia, que o deixou em coma durante um grande período (Chi veio a falecer em 2013, pelas complicações do incidente), com a tragédia, a banda decidiu entrar em um hiato e cancelar o lançamento de Eros.
Após alguns shows feitos em 2009, o grupo decidiu entrar no processo de criação de um álbum totalmente novo. Para substituir Chi, Sergio Vega, que era baixista do Quicksand e amigo pessoal do baixista e do vocalista Chino Moreno, se juntou a banda para a produção do disco, e, com a produção de Nick Raskulinecz, em Maio de 2010, Diamond Eyes é lançado, sendo o álbum de reinício pessoal do Deftones. O instinto do Nu Metal ainda foi assegurado com riffs pesados, mas existe toda a emoção da perda, da dor, e da saudade de não ter quem se ama por perto.

A crítica e o público recebeu muito bem o disco, que teve quatro singles bem sucedidos: Diamond Eyes, You’ve seen the Butcher e Sextape, chegou também em #6 na Billboard 200. Stephen Erlewine disse na época que era um álbum muito maduro, que era uma resposta óbvia à tragédia. Diamond Eyes foi um novo amanhecer pro grupo, o acidente de Chi foi um ponto de mudança inesperado, mas que teve uma relevância gigantesca pessoal e profissional para a banda. O hiato, o cancelamento de Eros e uma produção totalmente do zero foram importantes para que alcançassem um novo patamar em sua musicalidade.
Existia um sentimento melancólico na banda, sabendo das condições do seu amigo que estava na banda desde 1998. Faixas como Beauty School e Prince, demonstram que a tristeza era muito presente, mas a Música se tornou uma terapia para todos, uma válvula de escape para a ‘injustiça’ que o mundo proporcionou a todos eles, do mesmo jeito que um entusiasmo em homenagear Chi Cheng, trouxe o calor e a vibração de um álbum completamente cativante e cheio de energia.
Em entrevista para a LOUD!, O baterista Abe Cunningham, diz sobre a evolução da banda com a produção de Diamond Eyes: “é o som da banda se reencontrar, de ter todo mundo ali para partilhar o mesmo estado de espírito e, acima de tudo, a vontade de continuarmos a fazer música juntos”, todos sabiam que mais do que produzir músicas, eles precisavam estar juntos, entender como cada um estava passando por aquele momento, viverem a dor de forma unida, e ver se aquilo ainda era o que cada um queria, e foi exatamente isso que aconteceu.
Diamond Eyes tem uma experiência única nas suas duas versões. Quando não se sabe o que ocorreu para que esse álbum acontecesse, existe uma profundidade nas letras, na interpretação do Chino, nos acordes das canções, que diferem do que a banda já fez algum dia. É um sentimento que todo mundo sabe o que está fazendo, e que percebeu o quão grande isso se tornaria. E quando já entende todo o ocorrido, dá pra compreender porque o peso de cada acorde, de cada letra, um disco de agradecimento, uma melancolia que envolve e faz refletir sobre perdas.
Depois de 15 anos, Diamond Eyes ainda é um álbum emotivo e cativante. A responsabilidade de homenagear uma pessoa amada, é difícil, dolorosa e tem vários percalços no caminho, mas é lindo ver a ideia cumprida. As músicas condizem com o momento que a banda passava, a pancadaria do som do Nu Metal combinando com as letras que transmitem dor e saudade, entretanto enexalam também carinho e admiração. Nesse disco, o Deftones dá a mesma voz para a amizade, a tristeza, a saudade e a esperança.