Henrique Marinhos
Dirigido por Anthony Schatteman e presente na seção Novos Diretores, Corações Jovens (Young Hearts, no original) foi exibido na 1ª Mostrinha da 48ª Mostra de Cinema Internacional de São Paulo. Em meio à calmaria das paisagens rurais belgas, o filme é uma viagem ao que há de mais doce e confuso na vida: a primeira vez que nos apaixonamos. Elias (Lou Goossens), um menino de treze anos, enfrenta as primeiras grandes emoções em um mundo que começa a se revelar mais amplo e, ao mesmo tempo, mais incerto. Atravessamos campos verdes e vemos o mundo pelos olhos dele, assim, sentimos suas descobertas – desde sua primeira desilusão até seu primeiro amor.
Nesse cenário de sonhos e de luz suaves, a linguagem do amor é algo ainda sem forma. Elias não sabe o que é amar, mas sente em si algo que transborda. A chegada de Alexander (Marius De Saeger), seu novo vizinho e colega de classe, desperta nele um sentimento inédito e intenso, algo que faz seu coração bater diferente. Essa paixão nasce da simplicidade de estar ao lado do outro e da admiração que cresce em cada gesto ou olhar que os dois compartilham. O toque leve das mãos, os risos abafados, as pedaladas em uma tarde ensolarada; tudo é amor, mesmo que ele não saiba nomeá-lo assim.
Não há muitos momentos surpreendentes ao longo da produção. Poderíamos esperar alguma tragédia devastadora; o verdadeiro clichê contemporâneo de filmes do gênero. No entanto, a verdadeira surpresa aqui é a previsibilidade. Young Hearts é um Comfort movie em sua essência mais genuína. Sem desníveis, névoa e curvas sinuosas. Vemos todo caminho a frente e seguimos pedalando vagarosamente até o final, enquanto aproveitamos a vista.
A Fotografia do filme, por Pieter Van Campe, dá vida à emoção de Corações Jovens. A luz natural dos campos e o uso das sombras criam uma sensação de nostalgia e fragilidade. Cada cena é enquadrada de modo a parecer memórias da nossa infância, borradas, sentimentais, inventivas e com total foco nas pessoas, suas falas e acontecimentos. O cenário é um mero coadjuvante, como acontece na própria mente ao guardarmos só o mais importante.
Com sensibilidade, a narrativa atravessa a jornada da primeira paixão em seus altos e baixos. Para muitos de nós, LGBTQIA+, descobrir o amor pela primeira vez não é só sobre o calor dos sentimentos e a alegria do novo; é também sobre confrontar o medo e a vergonha que a sociedade ainda nos impõe. E, se há algo que possa aquecer nossos corações e nos representar com dignidade, porque não fazê-lo? Clichês são o que são porque funcionam.
Corações Jovens é uma história sobre descobertas – sobre o amor em suas formas mais genuínas e conflitantes, a vergonha que nos prende, a coragem que nos liberta e o desejo de pertencimento que pulsa em quem está crescendo. O longa nos lembra que essa paixão adolescente, tão única e, ao mesmo tempo, tão compartilhada, é o que molda nossas primeiras escolhas e, por consequência, quem somos e quem queremos ser para nós ou alguém especial.