Davi Marcelgo
O Papa está morto. A reunião para os cardeais do Vaticano escolherem o próximo pontífice está para começar. Quem é a pessoa correta para assumir o manto e quem tem certeza de ser capaz de conduzir o catolicismo? As questões de certo e errado, certezas e dúvidas são a principal temática de Conclave, dirigido por Edward Berger (Nada de Novo no Front) que isola personagens e espaços em uma linguagem pomposa para criticar e conduzir ideias sobre a Igreja Católica.
A Fotografia de Stéphane Fontaine e os planos de Berger são extremamente estilizados, ora lembrando um tabuleiro de xadrez, ora emulando uma pintura Renascentista. O formalismo impera nas escolhas para filmar o thriller do papado de uma forma grandiosa em quadros que esbanjam elementos em cena e destacam cores – seja o vermelho ou o branco. São decisões para figurar a imponência da Igreja Católica, mas principalmente dos sentimentos de egoísmo, orgulho e vaidade dos membros da instituição. O que poderia ser um elemento de antítese, uma história de crítica que torna pitoresco seus quadros, na verdade, se revela um contraste entre o luxo e a sujeira do Vaticano.
No entanto, apesar do calor em cenas bonitas, o trunfo de Conclave é privar a história de ser contada por lentes externas às portas cessadas. Rumores, informações e até notícias de jornais são transmitidos ao espectador pela mediação de alguma figura da Igreja. Não há personagens comuns, fiéis e cenas na Itália ou qualquer parte do mundo, tudo se condensa nos muros da Capela Sistina a fim de transpassar a situação da religião que não enxerga o mundo por outras óticas, apenas vendo e ouvindo de dentro dos olhos e cabeças de homens.
A decisão final sobre quem deve ocupar o lugar do chefe de Estado é consumada quando uma janela é aberta dentro da sala do conclave, como se uma luz divina pairasse sobre as cabeças dos líderes, entregando-os à razão. O filme aproveita o seu espaço para construir suas ideias a partir de signos do catolicismo, como, por exemplo, o isolamento obrigatório para manter o sigilo da votação e impedir influências de fora. Assim como, a demonstração de pecados e vícios através de montagens que evidenciam roupas, comida e cigarros.
Por fim, o clímax é muito corajoso, o que poderia cair em um final que atende às expectativas de um papa semelhante às características de humildade e abnegação de Jesus Cristo, prefere subverter com condições que quebram as certezas de um ambiente convicto de si. Além disso, continua na narrativa bíblica, principalmente quando há a presença de alguém que se assemelha aos “anjos” da Igreja Católica.
Conclave impressiona e acaba por provar que não temos certeza de nada, nem de que um filme sobre eleição de papa pode ser inquietante e apunhalar o coração com um dos finais mais fortes de 2024. É um thriller bem feito com elementos potentes do gênero: desde de uma trilha sonora inquietante a revelações que você nem vê chegando, apenas crê.
CONCLAVE – Official Trailer 2 [HD] – Only In Theaters October 25