Da ficção da Pixar aos documentários da Netflix, da comédia de Taika Waititi ao drama de Ryûsuke Hamaguchi, fomos presenteados com produções nacionais e internacionais para os amantes da Sétima Arte em Março de 2022. Tudo isso regado com a cobertura do caótico Oscar e muitas outras movimentações nas premiações de Cinema. Teve de tudo, mas não se estresse a ponto do panda vermelho se libertar! Entre a cozinha de Sebastian Stan, a caverna de Robert Pattinson e os aposentos nobres de Jonathan Bailey, o Cineclube de Março esmiuça a TV e o Cinema do Mês da Mulher.
Março começou agitado com o último dos prêmios do Cinema independente, o Spirit Awards. Lá, A Filha Perdida de Maggie Gyllenhaal fez a festa, como de praxe. Na semana seguinte, foi a vez do BAFTA e do Critics Choice Awards dividirem o mesmo domingo e incendiarem ainda mais a corrida para os prêmios da Academia. Mas nada saiu do planejado, com vitórias para os eventuais campeões do dia 27 de março. O que aconteceu depois que mudou o jogo: depois de triunfar no SAG, No Ritmo do Coração (CODA) acabou por vencer os outros dois Sindicatos, primeiro o dos Produtores, que usa o mesmo método preferencial do Oscar, e depois o dos Roteiristas, onde seu adversário Ataque dos Cães estava inelegível. Para quem computou as informações e leu nas estrelas o caminho até Melhor Filme, a coroação da produção da Apple TV+ não foi surpresa.
Na premiação da Academia, o filme foi o vencedor máximo de 2022. Além do principal troféu da noite, a roteirista – e também diretora – Siân Heder saiu premiada pela sua adaptação audiovisual de A Família Bélier. Ainda na cerimônia do último dia 27, o nome de CODA foi lembrado uma terceira vez, quando Troy Kotsur venceu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, em um dos momentos mais marcantes da edição. Agora, ele figura nas melhores atuações da temporada ao lado de Ariana DeBose, coadjuvante de Amor, Sublime Amor, Jessica Chastain, pelo seu protagonismo em Os Olhos de Tammy Faye, e Will Smith, o centro de King Richard: Criando Campeãs e símbolo do 94º Oscar pelos motivos errados.
O momento mais comentado da premiação precedeu – além de uma demonstração de reações racistas – uma das vitórias mais importantes da noite: Melhor Documentário para Summer of Soul. Para completar a dupla de ouro do Oscar, Drive My Car foi brilhantemente eleito o Melhor Filme Internacional de 2022. E para completar o Encanto da temporada, a produção da Disney confirmou os favoritismos e saiu como a Melhor Animação, assim como Billie Eilish não decepcionou quem apostou em No Time To Die, sua composição para 007 – Sem Tempo Para Morrer, para a estatueta de Melhor Canção Original. Nos curtas, Riz Ahmed se tornou oscarizado, The Queen of Basketball foi coroada, o romance artístico de The Windshield Wiper foi celebrado.
Mas mesmo com a comemoração do finalmente primeiro Oscar de Kenneth Branagh (pelo Roteiro Original de Belfast) nenhum outro filme festejou a noite como Duna, o mais premiado pela Academia em 2022. Dentre suas 6 estatuetas, o filme de Denis Villeneuve gabaritou as categorias técnicas de Fotografia, Trilha Sonora, Montagem, Design de Produção e Som, fazendo a obra mais indicada da temporada, Ataque dos Cães, comer sua poeira. O longa de Jane Campion só não perdeu seu prêmio garantido e vitória mais importante – Melhor Direção, na terceira vez na história e segunda consecutiva em que uma mulher saiu vitoriosa da categoria, e primeira a ser indicada mais de uma vez.
O mês, que se encerrou com as confusões do Oscar, nos presenteou com alguns documentários, como Olivia Rodrigo: dirigindo até você (OLIVIA RODRIGO: driving home 2 u (a SOUR film). O filme do Disney+ se apresenta com uma narrativa repleta de depoimentos sobre as faixas em que a artista expõe como se sentiu com um primeiro disco tão bem-sucedido. Além disso, o longa também apresenta novas versões das canções de 2021, que valorizam bastante a influência do rock e devem ser lançadas em formato de álbum em breve.
Outro documentário de destaque é Lucy e Desi (Lucy and Desi), dirigido por Amy Poehler. A película sobre Lucille Ball, a estrela da série de grande sucesso nos EUA, I Love Lucy, explora sua relação com o marido Desi Arnaz, que dividia o protagonismo do show ao lado da esposa. Sua estreia ocorreu por meio do Festival de Sundance em janeiro de 2022 e chega agora ao Amazon Prime Video, mesma casa do ficcional Apresentando os Ricardos, que também trabalha a relação do power couple. A obra relata por meio de depoimentos e fitas que o casal costumava gravar falando sobre os mais diversos assuntos, o longa apresenta um tom intimista acerca da vida do casal.
Além de documentários, março nos proporcionou diversos filmes de ficção científica, como After Yang, um drama de sci-fi que apresenta a jornada de uma família em busca do concerto de Yang (Justin H. Min), um robô adotado para auxiliar a filha biológica do casal (Colin Farrell e Jodie Turner-Smith) a se adaptar à cultura norte-americana. Com o tempo todos acabam se afeiçoando ao familiar androide e não conseguem mais viver sem ele. O novo longa da A24, que foi lançado no Festival de Cannes de 2021, trouxe o cineasta sul-coreano Kogonada para assumir o papel de roteirista e diretor desse sci-fi, que se assemelha a A.I. – Inteligência Artificial, por sua relação familiar envolvendo seres biônicos.
Outro destaque de ficção científica do mês de março é O Projeto Adam (The Adam Project). O longa escalou Ryan Reynolds para viver uma viagem do tempo em que tenta salvar o mundo, voltando para o ano de 2022 e se deparando com o seu eu mais jovem. Apesar do roteiro clichê, o longa apresenta uma narrativa descolada e divertida, com grandes atores, como Jennifer Garner e Mark Ruffalo. Com esse novo sci-fi, o ator de Deadpool é agora o único com 3 filmes no Top 10 da Netflix.
Ainda com o pezinho na ficção científica, mas puxando para o lado do romance, Nossos Sonhos de Marte (Moonshot) entrelaça esses elementos em um clichê adolescente, feel good e coming-of-age, em que dois amigos muito diferentes embarcam em uma aventura e percebem novos sentimentos um pelo outro. O longa, disponível no HBO Max, não se diferencia das demais produções do gênero, apesar de contar com nomes conhecidos do ramo, como Lana Condor (Para Todos os Garotos que Amei) e Cole Sprouse (Riverdale).
Outro romance lançado em março está disponível no HBO Max. A produção brasileira selecionada para representar o país no Oscar 2022, Deserto Particular narra uma das histórias de amor mais lindas de 2021, sob comando de Aly Muritiba e guiado pelas performances de Antonio Saboia e Pedro Fasanaro. A narrativa acompanha Daniel, um policial dedicado que acaba cometendo um erro gravíssimo e, após o incidente, acaba indo atrás de Sara, sua namorada virtual que mora no outro lado do país.
Também no gênero do romance, A Pior Pessoa do Mundo (Verdens verste menneske) finalmente chegou ao Brasil. Com direito a indicação ao Oscar de Melhor Filme Internacional e Melhor Roteiro Original, a obra de Joachim Trier, que desconstrói as comédias românticas, apresenta quatro anos da vida de Julie (Renate Reinsve), sua turbulenta vida amorosa e sua jornada de autoconhecimento em um mundo que não para por um segundo. O filme norueguês descreve, ao longo de seus frames, a sensação de estar perdido na vida aos 20 e poucos anos e como alguns relacionamentos nos marcam ao longo do caminho.
Encerrando os lançamentos dos indicados ao Oscar, Drive My Car também aterrissou oficialmente em solo brasileiro. O longa, que foi dirigido por Ryûsuke Hamaguchi e roteirizado por ele ao lado de Takamasa Oe, é uma adaptação do conto homônimo do escritor japonês Haruki Murakami. A adaptação audiovisual também se inspirou em outros dois textos do autor, todos da coletânea Homens sem mulheres, que foi a leitura de março do Clube do Livro Persona. A história acompanha Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima), um ator de teatro viúvo de meia idade que contrata Misaki Watari (Toko Miura) como sua motorista particular. A partir do cotidiano, os dois estabelecem uma relação e compartilham seus sentimentos de solidão. Depois de uma breve passagem pelos cinemas, chegou agora, no dia 1º de abril, na plataforma da MUBI.
Além dos filmes conceituais, março trouxe o aguardado lançamento do blockbuster Batman (The Batman) de Matt Reeves (Planeta dos Macacos: A Guerra). Na nova trama, o Cavaleiro das Trevas (Robert Pattinson) está em seu segundo ano de luta contra o crime e investiga o submundo de Gotham, na busca pela verdadeira identidade do Charada (Paul Dano), um serial killer que está matando figuras políticas importantes na cidade.
A narrativa, apresentada ao longo de três horas de duração, utiliza bem o tempo para dar espaço para todos os seus personagens – com destaque para a Selina Kyle de Zoë Kravitz – e conduzir a investigação do Homem-Morcego de um jeito que prende o espectador. Além do roteiro, a fotografia de Greig Fraser (vencedor do Oscar 2022 por Duna) e a trilha sonora de Michael Giacchino intensificam os elementos da obra.
Nas telonas dos cinemas, também está disponível outra produção de ação, Morbius. Depois do sucesso comercial de Venom, a Sony continua a investida de trabalhar vilões do universo do Homem-Aranha em projetos soltos, que agora traz o protagonismo do Vampiro Vivo, vivido por Jared Leto. Amargando aprovações negativas de crítica e audiência, o filme conta a direção de Daniel Espinosa, e coroa uma semana relativamente péssima do ator principal, reconhecido como o pior ator coadjuvante do ano no Framboesa de Ouro por Casa Gucci e, dias depois, sendo massacrado pela aventura da Marvel. No fim das contas, o filme parece precisar de água benta. Queime e não volte para uma sequência.
Mudando o gênero das produções, Fresh foi destaque dentre os lançamentos do mês como um suspense cômico. A trama nos apresenta a realidade de Noa (Daisy Edgar-Jones), uma jovem já cansada de se aventurar por aplicativos de namoro que decide dar uma chance a Steve (Sebastian Stan), a quem conheceu em um supermercado. No entanto, logo no primeiro encontro, o amante começa a apresentar apetites peculiares. Ao longo da narrativa, a cineasta busca pela inovação, mas acaba pecando pela obviedade. Sua estreia ocorreu no Festival de Sundance e logo foi adquirido pelo Hulu, chegando ao Brasil pelo streaming mais adulto da Disney, o Star+.
Ainda falando em suspense, Águas Profundas (Deep Water) chamou atenção no mês. Com direção de Adrian Lyne (Atração Fatal, Flashdance), o longa é uma adaptação do romance homônimo de Patricia Highsmith e conta com Ben Affleck e Ana de Armas no elenco, atuando como o casal protagonista. Filmado na época em que os atores ainda eram namorados na vida real, o filme tem uma primeira hora interessante, onde estabelece um clima de desconfiança intrigante, porém não explora isso tanto quanto poderia e o resultado é decepcionante.
O filme seria lançado nos cinemas em janeiro de 2022, mas foi removido do calendário de lançamentos da Disney e acabou indo para o Amazon Prime Video. Outro streaming que também lançou um suspense em março foi a Netflix, com Sorte de Quem? (Windfall). Lily Collins, Jason Segel e Jesse Plemons estrelam a narrativa sobre um homem que invade a casa de férias de um casal bilionário mas é surpreendido pela chegada dos dois. O clima de tensão aumenta ao decorrer do filme prendendo o espectador mais a cada cena.
Então, chegamos nas produções para deixar os telespectadores tensos. Master é um terror psicológico dirigido por Mariama Diallo e estrelado por Regina Hall, que acompanha a vida de três mulheres em uma universidade de prestígio no Estado da Nova Inglaterra. Aos poucos, elas percebem que o ambiente elitista e frio esconde algo sombrio. O longa estreou no Festival de Sundance, integrou a programação do Festival South By Southwest em 2022 e, agora, está disponível no Amazon Prime Video.
Outro destaque do mês foi Ambulância – Um Dia de Crime (Ambulance), dirigido e produzido por Michael Bay (Transformers). No thriller, o veterano Will Sharp (Yahya Abdul-Mateen II) precisa de dinheiro para pagar as contas de hospital de sua mulher. Para isso, ele aceita realizar o maior assalto a banco na história de Los Angeles ao lado de seu irmão adotivo, o carismático Danny (Jake Gyllenhaal). O elenco da nova produção explosiva de Bay conta também com Eiza González (Em Ritmo de Fuga), Moses Ingram (A Tragédia de Macbeth) e Garret Dillahunt (Army of the Dead: Invasão em Las Vegas).
Já como um lançamento mais inusitado, Terror no Estúdio 666 (Studio 666) mostra a banda de rock Foo Fighters vivendo a sua experiência mais assustadora ao se mudar para uma mansão para gravar seu décimo álbum de estúdio. Com o tempo, os integrantes do grupo musical passam a vivenciar experiências sobrenaturais assustadoras e cômicas. De forma boba e despretensiosa, o longa brinca com clichês do gênero thriller e com a ideia de rock ser “coisa do demônio”. A história foi criada por Dave Grohl, vocalista do Foo Fighters, roteirizada por Jeff Buhler e dirigida por BJ McDonnell, sem nenhuma pretensão em criar algo inovador ou que contemple um público além dos fãs da banda.
Além de terror, o que não faltou em março foram produções de comédia, começando por Jackass Para Sempre (Jackass Forever). O novo capítulo da franquia estreia 11 anos depois de Jackass 3.5. Dessa vez, o grupo retorna para realizar mais manobras malucas que não devem ser testadas em casa de jeito nenhum. O filme conta, ainda, com as participações de Tyler, The Creator e Machine Gun Kelly. A película seria lançada nos cinemas no Brasil, mas teve sua estreia cancelada e está disponível apenas na internet.
Já nas produções nacionais, o gênero sempre se destaca, e esse mês, através de Me Tira da Mira. O filme narra a história de Roberta (Cleo), uma funcionária da Polícia Civil do Rio de Janeiro que passa a trabalhar como agente secreta infiltrada na Clínica Bianchini de Realinhamento Energético para investigar a morte da atriz Antuérpia Fox (Vera Fischer). A espiã também conta com a ajuda de sua terapeuta (Bruna Ciocca) para solucionar o caso. O longa tem como diretor Hsu Chien Hsin, um cineasta nascido em Taiwan naturalizado brasileiro e, ainda, conta com um elenco de peso, de nomes Gessica Kayane (Gkay), Fiuk e Fábio Júnior. Mesmo recheado de rostos conhecidos, as piadas pastelão não sustentam a narrativa.
Outro destaque dos cinemas brasileiros é Vale Night, uma comédia dirigida por Luis Pinheiro e roteirizado por Caco Galhardo. O filme acompanha o casal Daiana, interpretada por Gabriela Dias, e Vini, interpretado por Pedro Ottoni, que saem para se divertir em uma noite e acabam perdendo o seu filho. A película tem, ainda, a participação de Linn da Quebrada e Yuri Marçal no elenco. Entre as risadas, a obra traz um retrato da cultura da favela e traça muito levemente e de forma básica algumas críticas de gênero, visto que é escrito e dirigido por dois homens.
Pensando em comédias voltadas para o público infantil, o Disney+ lançou Doze é Demais (Cheaper by the Dozen), um remake dos filmes de 1950 e 2003. Nele, os atores Gabrielle Union e Zach Braff estrelam nos papéis dos pais de uma grande família. A produção renovou a trama, atualizando-a com discussões sobre pautas que estão em alta, mas ainda assim sem abrir mão da comédia pastelão.
De lá, também veio outro destaque infantil do mês – e do ano. Red: Crescer é uma Fera (Turning Red) narra a história de Mei (Rosalie Chiang), uma menina de 13 anos que se transforma em um panda vermelho toda vez que fica muito animada. O longa revisita a cultura asiática para apresentar uma relação de mãe e filha durante a fase da adolescência, valendo-se dos mesmos clichês de fofura e comoção emocional dos demais filmes da Pixar. Sob a direção da vencedora do Oscar Domee Shi, Red é a primeira produção do estúdio com comando feminino.
Mas nem só de Cinema foi feito o mês de março. Ao longo dos últimos 31 dias, acompanhamos o spin-off de Big Mouth, Recursos Humanos (Human Resources), uma nova série focada nos monstros do universo e seu ambiente de trabalho. A produção é uma mistura ideal entre a obra original e The Office, e então, você adiciona loucuras, atores de renome dublando personagens asquerosos e hilários e uma trama simples mas competente. Do time original da série da Boca Grande, retornam para a nova produção da Netflix quase todos. Dentre os novos rostinhos, estão Aidy Bryant, Randall Park, Rosie Perez, Harvey Guillén, Ariana DeBose, Helen Mirren e Lupita Nyong’o.
E esse não foi o único spin-off do mês. A 1ª temporada de Como Eu Conheci Seu Pai (How I Met Your Father) terminou sua exibição no Star+ com uma energia bem parecida com a de How I Met Your Mother: personagens bastante carismáticos, mas o timing de comédia não muito afiado, com piadas um pouco batidas. Apesar disso, a série, que contou com Hilary Duff e Kim Cattrall no mesmo papel em idades diferentes, já foi renovada para a segunda temporada, que terá uma quantidade maior de episódios.
Mas uma série já conhecida que retornou agora para sua 4ª temporada é The Marvelous Mrs. Maisel. Depois do que pareceu ser uma eternidade, a Maravilhosa Sra. Maisel está de volta (e mais triste do que esperávamos). Após o desastre e a demissão que fecharam o ano anterior, Midge (Rachel Brosnahan) precisa lidar com o fracasso e passa a trabalhar contando piadas em um clube de strip-tease. Lá, a mulher bota ordem no pedaço e acaba revolucionando o local, assim como costuma fazer por onde passa.
Dessa vez, a nova fase da comédia vencedora do Emmy está menos envolvente em quesito progressão da narrativa, ao apenas posicionar suas peças frente ao vindouro e já anunciado ano final. Em contrapartida, a produção do Amazon Prime Video deu mais espaço para personagens não-brancos e para mulheres trans, Amy Sherman-Palladino e Daniel Palladino reservam piadas certeiras, e a participação mais que especial de alguns rostinhos conhecidos de Stars Hollow. No fim, resta à Lenny Bruce (Luke Kirby) colocar juízo na cabeça de Miriam e, se tudo der certo, sua jogada foi positiva.
Os risos de março não pararam por aí. Depois da Festa (The Afterparty), criada por Phil Lord e Chris Miller, dupla responsável pelos dois Anjos da Lei e por Uma Aventura LEGO, é uma série que conta a história de um assassinato que ocorreu durante o reencontro de colegas da escola. Tiffany Haddish, Sam Richardson, Zoë Chao, Ben Schwartz e Dave Franco compõem o elenco da 1ª temporada da produção da Apple TV+, que se mostra muito divertida ao fundir investigação com humor, assim como Only Murders in the Building. Cada um dos episódios brinca com um gênero cinematográfico diferente de acordo com o ponto de vista de quem narra, demonstrando a criatividade de Miller na direção.
Além das risadas, março também nos proporcionou alguns sustos. O lançamento da Netflix, Ninguém Pode Saber (Pieces oh Her), com a ganhadora do Emmy Toni Collette como a protagonista Laura, não atingiu o nível de qualidade esperado. O piloto dá um tom muito bom de suspense, mas rapidamente tudo se transforma em uma trama insossa. A série utiliza flashbacks com lembranças da protagonista para contar a história, formando os “pedaços” dela, mas tudo isso se perde com o desenrolar da história.
Já na Apple TV+, a 3ª e penúltima temporada de Servant, produzida por M. Night Shyamalan (Tempo), acompanha o casal formado por Dorothy (Lauren Ambrose) e Sean Turner (Toby Kebbell) lidando com forças ainda mais sinistras, três meses depois do final do segundo ano da série. Nell Tiger Free e Rupert Grint também retornaram para seus respectivos papéis como Leanne e Julian Pearce, e nova adição ao elenco fica por conta de Sunita Mani (Mr. Robot).
Com uma pegada assustadora e invocando elementos da ficção científica, Expresso do Amanhã (Snowpiercer) retorna para mais 10 episódios. O novo ano do thriller apocalíptico da Netflix é dirigido por Christoph Schrewe, Erica Watson e Leslie Hope, com base no filme homônimo lançado em 2013 sob a direção de Bong Joon-Ho, que por sua vez, se inspirou no romance gráfico Le Transperceneige (1982). Sua trama se passa num futuro distópico, onde os últimos habitantes da Terra tentam sobreviver dentro de um trem que está em constante movimento enquanto o mundo foi totalmente congelado. Com o agrado da série, a 4ª temporada já está confirmada e, dessa vez, terá um novo showrunner.
Seguindo para outras produções de sci-fi, o segundo ano de Raised by Wolves, produzida por Ridley Scott para o HBO Max, continua a narrativa dos desafios existenciais vividos pelos androides Mãe (Amanda Collin) e Pai (Abubakar Salim) para criar seus filhos humanos longe da Terra. A temporada possui 8 episódios ao todo e conta com atores, como Travis Fimmel (Vikings), James Harkness (Macbeth: Ambição e Guerra) e Kim Engelbrecht (The Flash) no elenco.
Ainda com esse lado da ficção científica, Upload concluiu seu segundo ano repleto de viagens por realidades alternativas. A série do Amazon Prime Video, criada por Greg Daniels (de The Office e Parks and Recreation), acompanha a jornada de Nathan (Robbie Amell) em um mundo em que as pessoas podem escolher uma realidade para viverem após a morte.
Ainda tivemos algumas produções de super-herói para agradar o público geek. DC’s Legends of Tomorrow finaliza sua sétima temporada com um ano em que Sara Lance (Caity Lotz), Ava Sharpe (Jes Macallan) e os membros da tripulação estiveram presos no passado, em um lugar cada vez mais suspeito. Perseguidos por um inimigo que viaja no tempo e ameaçados pelo espaço temporal, a equipe se une para tentar manter a paz na Terra em um de seus trabalhos mais arriscados. A peça da CW conta com Tala Ashe, Nick Zano, Shayan Sobhian, Lisseth Chavez e Olivia Swann no elenco, e movimentou a equipe para introduzir um personagem querido das HQs no final do ano 7.
E enquanto o Morcegão se pendura pelo Cinema, sua aliada faz o mesmo na TV – só que com menos orçamento. Na 3ª temporada de Batwoman, a protagonista (Javicia Leslie) trabalha para manter as ruas de Gotham seguras e Batwing (Camrus Johnson) se junta ao combate ao crime. Na produção do HBO Max, além de Leslie, Rachel Skarsten retorna no papel de Alice e as novas adições ao elenco são Bridget Regan e Victoria Cartagena, que interpretam Hera Venenosa e Renee Montoya.
Tem super-herói em desenho também: The Boys Apresenta: Diabólico (The Boys Presents: Diabolical). A 1ª temporada da antologia do Amazon Prime Video é composta por 8 curtas, desenhados em estilos diferentes, que contam histórias soltas dentro do universo da Vought. Ora resgatando traços e construções dos quadrinhos originais, ora emocionando com tramas marcantes e singulares, o experimento criativo faz valer sua investida. O elenco de voz manda muito bem, com destaque para Youn Yuh-Jung, Antony Starr, Ben Schwartz, Michael Cera, Elisabeth Shue, Nasim Pedrad, Awkwafina, Jason Isaacs, Kieran Culkin, Simon Pegg, Andy Samberg, só para citar alguns.
Saindo dessa realidade fictícia e mergulhando em um universo mais sóbrio, março nos proporcionou uma porção de minisséries documentais, a começar por Renascendo das Cinzas (Phoenix Rising). Na produção, realizada para o HBO Max, somos guiados pela história da atriz Evan Rachel Wood e sua trajetória como ativista pelo fim da violência contra mulher, desde que tornou públicas as suas denúncias contra Marilyn Manson. Na direção tivemos Amy Berg, com o papel de comandar essa narrativa tão perversa pela qual a figura feminina enfrenta na sociedade.
Infelizmente compartilhando as vivências da atriz estadunidense, Elza Soares foi protagonista de Elza e Mané – Amor em Linhas Tortas, que relata várias eras de seu relacionamento com Mané Garrincha. Mas o documentário do Globoplay apresenta foco na história do jogador de futebol, um dos melhores do país que teve um fim trágico por alcoolismo, uso de drogas e assédio midiático. Além disso, o atleta também agredia a cantora, ponto que é tratado na série, de forma meio deslocada diante da adoração à memória do futebolista. A produção é composta por quatro episódios dirigidos por Caroline Zilberman, editora do Globo Esporte, e já se tornou o maior sucesso do streaming deste ano. O roteiro é de Rafael Pirrho, que combina 30 entrevistas, entre Chico Buarque, Caetano Veloso, Sandra de Sá e Lobão, além dos ex-jogadores Gerson, Rivelino, Jairzinho e Pepe.
Dentre outras produções do grupo Globo, está o encerramento de Um Lugar ao Sol. A novela das 9 não foi bem recebida pelo público, que ficou aguardando por uma reviravolta na trama do personagem Christian (Cauã Reymond), mas deixou os telespectadores apenas no desejo. A narrativa de Lícia Manzo também sofreu muito com a ausência de um horário fixo estipulado pela emissora e, ainda, acabou sendo encurtada de sua duração inicialmente planejada.
O terceiro mês do ano também proporcionou uma produção sobre o artista por trás da obra das latas de sopas Campbell. Diários de Andy Warhol (The Andy Warhol Diaries) é uma minissérie documental em 6 episódios que utiliza os diários do pintor como base para retratar a vida pública e íntima de Warhol, conhecido como ícone da pop art. Produzida por Ryan Murphy, a série da Netflix conta com relatos de artistas como a cantora Debbie Harry, o ator Rob Lowe e o diretor John Waters.
Um artista polêmico que também teve sua história narrada por meio de uma produção da Netflix é Kanye West, com Jeen-yuhs: Uma Trilogia Kanye. A minissérie sobre o rapper que revolucionou a indústria do rap e do hip-hop se divide em 3 episódios/atos (Visão, Propósito e Despertar), narrados com uma linguagem bem próxima e bastante íntima, sob a direção de Clarence Simmons. O documentário começou a ser exibido semanalmente no dia 16 de fevereiro e não se desvia dos momentos polêmicos e controversos da vida do artista, como o apoio que manifestou a Donald Trump nas eleições para presidência dos EUA e sua candidatura em 2020.
Entre uma narrativa e outra, assistimos à minissérie Pam & Tommy. Antes mesmo de acompanhar a trama que envolve o vazamento da sex tape do casal titular, a produção já se faz notar pela escolha de Sebastian Stan para encarnar Tommy Lee, o protagonista que vive um relacionamento com a atriz Pamela Anderson, interpretada na série disponível no Star+ por Lily James. Apresentada com uma estética nostálgica para referenciar os anos 90, a história não complementa o trabalho visual desenvolvido. Talvez buscando agradar Anderson, que não autorizou a produção da minissérie, a direção se perde em não conseguir equilibrar as facetas das personagens, ora complexos, ora travados na mesmice.
Com esse mesmo enquadramento de minissérie, tivemos One Perfect Shot, que apresenta composições visuais de filmes e séries, dando origem a produção narrada em capítulos de meia-hora com o intuito de convidar cineastas famosos para desvendarem suas próprias cenas. Recebida de forma morna pela audiência, a série do HBO Max surgiu como conta nas redes sociais, e tem narração de Ava Duvernay, com a participação dos diretores Aaron Sorkin, Patty Jenkins, Jon M. Chu, Kasi Lemmons, Malcolm D. Lee e Michael Mann.
E não foi apenas One Perfect Shot que desagradou. A rede Peacock teimou em transformar em ficção as tramas de Tiger King, sucesso de 2020 da Netflix, e lançar Joe vs Carole em forma da sátira. Batizada com o nome mais inventivo e criativo do mês, a série limitada tem como protagonistas John Cameron Mitchell, na pele de Joe Exotic, e Kate McKinnon encarnando Carole Baskin. Ao longo de 8 episódios, os dois se mastigam em cena, mas nada sai do supérfluo e o pedido fica para que, se for para fazer algo do gênero mais uma vez, é melhor McKinnon continuar restrita aos sets do Saturday Night Live.
Guiando para outras direções, somos apresentados a eventos históricos narrados de forma peculiar. A 1ª temporada de Nossa Bandeira é a Morte (Our Flag Means Death) une ação e comédia para narrar a vida de Stede Bonnet, um famoso pirata do século XVIII. Para a produção, foi recrutado o ator Rhys Darby para desempenhar esse papel a bordo do navio Revenge, no qual o navegador cruza com o conhecido Barba Negra (Taika Waititi). Criada por David Jenkins e produzida por Taika Waititi, a série do HBO Max revisita eventos históricos de modo cômico e surpreendente.
Navegando por outros mares, The Last Kingdom chegou ao fim. Iniciada em 2015, a jornada de Uhtred (Alexander Dreymon) concluiu sua narrativa após cinco temporadas, alimentando os fãs apaixonados por tramas nórdicas, muita sujeira e muitas espadas enferrujadas sendo degradadas em campos de batalhas.
Passando dos vikings para um período pré-vitoriano, a 2ª temporada de Bridgerton demorou, mas a continuação dos contos de amor dos irmãos Bridgerton finalmente chegou. Dessa vez sem o Duque Simon (o indicado ao Emmy Regé-Jean Page), mas com relances da Duquesa Daphne (Phoebe Dynevor), a série de Chris Van Dusen e Shonda Rhimes adapta o segundo livro de Julia Quinn, O Visconde Que me Amava. Na história, Anthony (Jonathan Bailey) decide se casar ao mesmo tempo em que duas jovens vindas da Índia retornam à Londres da Rainha e de Lady Whistledown.
Seguindo a cartilha de emoção e tensão, dessa vez o foco recai na exímia paixão proibida e em performances mais internalizadas. Destaque absoluto, Kate Sharma (Simone Ashley) é o diamante da temporada. Com desenvolvimento nas narrativas particulares dos irmãos mais próximos à idade do matrimônio, a produção da Netflix se distancia um pouco da obra literária, mas mantém com a vibração de humor e fervor, com direito, é claro, às canções modernas reimaginadas para a época, de Robyn e Miley Cyrus à RIhanna e Madonna.
Do outro lado do oceano, vemos os eventos da 1ª temporada de A Idade Dourada (The Gilded Age). Inspirada em eventos reais, a série conta a história da jovem Marian Brook (Louisa Jacobson), que se muda, após a morte de seu pai, da vida rural na Pensilvânia para a cidade de Nova Iorque para viver com suas tias ricas (Christine Baranski e Cynthia Nixon). Em seu novo lar, Marian começa a questionar os valores e princípios da sociedade. Criada por Julian Fellowes, o mesmo de Downton Abbey, a nova série original da HBO, e disponível no HBO Max, já foi renovada para a segunda temporada.
Fincando o pé em terra firme, a 4ª temporada de F1: Dirigir Para Viver (F1: Drive to Survive) veio bem dramatizada, para combinar com a própria temporada da F1 de 2021. Nela, a Netflix segue focada em equipes específicas, como a Haas e McLaren, mas os chefes da Mercedes e Red Bull renderam muito procurando o drama mesmo. É um universo para quem não vê a Fórmula 1 tecnicamente, mas é isso que torna a série tão empolgante.
Nesse mesmo ambiente sobre rodas, nós viajamos para a 1ª temporada de O Turista (The Tourist), protagonizada por Jamie Dornan. Nela, um homem que, após se envolver em um acidente de carro, acorda no hospital, com amnésia. Com a ajuda de uma policial australiana (Danielle Macdonald), ele tenta descobrir quem é e o que aconteceu, enquanto é perseguido por pessoas de seu passado que o querem morto. O elenco da produção disponível no HBO Max também conta com Shalom Brune-Franklin e Damon Herriman, de Mindhunter. O thriller de 6 episódios, que conta com os mesmos produtores de Fleabag, Harry e Jack Williams, já foi renovado para a segunda temporada.
Já com a pegada de La Casa de Papel, temos a minissérie 3 Tonelada$: Assalto ao Banco Central, que tenta recriar o que aconteceu em 2005, quando ladrões cavaram um túnel de 75 metros, com uma estrutura bem profissional, e roubaram quase 170 milhões de reais do Banco Central em Fortaleza. Para a produção nacional, o caminho subterrâneo realizado pelos bandidos foi reproduzido em estúdio. A série também manteve na trama a teoria do “dinheiro maldito” pela corrupção da PF.
Do Brasil para o mundo, finalizamos nossa lista de indicações com a 1ª temporada de RuPaul’s Drag Race UK vs. the World. O tão esperado All Stars Internacional reuniu 9 drags de diversas franquias. Dos Estados Unidos, tivemos Jujubee (em sua quarta disputa pela Coroa) e Mo Heart (a artista anteriormente conhecida como Monique Heart); do Canadá, retornaram Jimbo e Lemon; do Reino Unido, o time de três era formado por Baga Chipz, Cheryl Hole e Blu Hydrangea; da Holanda, veio Janey Jacké e, da Tailândia, a jurada Pangina Heals estreou como competidora.
A temporada resgatou o formato original do All Stars 2, e contou com apenas 6 episódios exibidos originalmente pela rede BBC Three na TV. Entre eliminações chocantes, passarelas abaixo do esperado e uma confusão narrativa que deixou um gosto amargo na boca, a drag queen irlandesa Blu Hydrangea foi coroada Queen of the Mother-Tucking World. Assim como no Oscar 2022, os naturais de Belfast tiraram a sorte grande (ou, o mais próximo disso, já que o prêmio da temporada é um remix gravado ao lado de RuPaul).
Com essa lista esmagadora de produções recém-saídas do forno escolhidas a dedo pela equipe do Persona, o que não falta são opções de filmes e séries para agradar os mais diferentes gostos. E esse é só o fim do primeiro trimestre de 2022, que continuará sendo observado por nós em cada movimento do ano. Até abril, onde nos aguardam a chegada dos Animais Fantásticos, a segunda aventura do ouriço azul e a nova Super Estrela Drag da América.
Texto: Gabriel Gatti
Pesquisa e Pauta: Ana Júlia Trevisan, Caio Machado, Marcela Zogheib, Nathália Mendes, Raquel Dutra e Vitor Evangelista