Ana Laura Ferreira
Veterano da premiação, John Legend concorre a Melhor Álbum R&B no Grammy 2021 com seu mais recente lançamento: Bigger Love (2020). A categoria, que já premiou Bruno Mars por 24K Magic em 2018 e H.E.R por seu homônimo álbum em 2019, pode se tornar a oportunidade de Legend conquistar seu décimo segundo gramofone de ouro. Exalando romantismo e poesia, a produção de 16 faixas, com potencial para inúmeras leituras, entrega uma bela e cansativa narrativa.
A influência de diversas décadas, em especial dos anos 1990, perpassam todo o disco. Entretanto, as referências trazidas por Legend não o impedem de imprimir sua própria personalidade nesse que é seu sétimo álbum em estúdio. Abrindo com Ooh Laa, a música que puxa a sonoridade dos anos cinquenta pode passar despercebida por ouvintes desatentos. Mas a melodiosa canção, que remete muito a clássicos da distante década como Put Your Hands On My Shoulders, na verdade esconde uma letra sensual, escrachada e nem um pouco tímida.
As menções que orientaram o trabalho do cantor são sutis na maior parte do tempo, porém é em Actions que ele decide explanar uma de suas principais intervenções. Usando a conhecida batida de McCallum na música de 1968, The Edge, popularizada nos anos 2000 por Dr.Dre em The Next Episode, Legend ressignifica a melodia com seu timbre único, a trazendo para uma esfera muito mais branda que suas antecessoras. A letra, quase como um protesto a si mesmo, é uma das mais marcantes de toda a coletânea.
E apesar de não nomear a produção, Wild pode ser reconhecida como seu carro chefe, uma vez que a canção sintetiza os sentimentos e sons que encontramos por todas as faixas. Desenvolvida como uma poética carta, a batida marcante e envolvente soa quase como uma história de amor contada a nossos ouvidos. Mas o que realmente destaca essa obra helenística entre as demais é a bela parceria entre o cantor e o guitarrista Gary Clark Jr, responsável por trazer um tom mais agressivo e até mesmo metálico para o sereno e habitual estilo de John Legend.
Fica a cargo de Conversations In The Dark solidificar a narrativa que o cantor vem construindo por todo disco. Comovente e verdadeiramente linda, a música se complementa entre letra e som como a glorificação das relações familiares, em especial do casamento. Bem como uma dedicatória a sua própria história de amor, e de tantos outros casais, Legend entrega junto a ela um encantador e harmonioso clipe que apenas enriquece mais essa trama.
E ao trazer cinco parcerias para Bigger Love, sendo quatro delas com vocais, a que mais chama atenção é a participação de Jhené Aiko em U Move, I Move. A sonata, que pode ser comparada a clássica All of Me do cantor, ganha mais personalidade ao contrastar com a suave e delicada voz de Aiko. Privilegiando seus timbres, a música abre espaço para que possamos sentir o poder vocal de ambos, não com notas exageradamente altas ou graves, mas sim com a transparência de sentimentos que eles transmitem.
Apesar de conter boas canções, o maior problema de Bigger Love é sua interminável duração. Com uma quantidade exagerada de faixas, o álbum deixa de ser aproveitado em sua completude para se tornar cansativo. Sua quase uma hora de duração pode parecer triplicada a ouvidos que conheçam as obras passadas de Legend. Isso porque, apesar de belo e poético, o álbum não traz nenhuma inovação ou grande diferencial quando comparado a seus antecessores, quase como uma tentativa de reproduzir o sucesso de Love In The Future (2013).
Mas apesar de parecer pouco atrativo, não podemos negar o talento de John Legend como cantor. Suave quando necessário e acentuado quando indispensável, Bigger Love chega como uma obra a ser apreciada aos poucos e sentida a fundo. Assim, talvez essa não seja a mais promissora oportunidade do cantor – que ainda concorre a Melhor Performance de R&B ao lado de Aiko por Lightning & Thunder – de conquistar mais um gramofone dourado, mas isso apenas o Grammy pode nos responder.