Nos é prometida uma comédia, mas as pessoas são mais complexas do que isso
Arthur Almeida
AJ and the Queen é uma das primeiras séries a estrear na Netflix neste ano de 2020. A produção estadunidense, projeto da plataforma, tem como eixo narrativo as entrecruzadas histórias de AJ (Isabella “Izzy” Gaspersz) e Robert Lee (RuPaul Andre Charles).
Amber Jasmine (AJ) é uma menina de 10 anos que, para sobreviver na cidade sem o auxílio de um responsável adulto presente em sua vida, engana outras pessoas e realiza furtos. Robert Lee é um homem com cerca de 50 anos que ganha a vida em cima dos palcos como a Drag Queen Ruby Red.
À primeira vista, o enredo da série é simples e a coexistência das personagens é objetiva: Robert havia juntado dinheiro para montar sua própria boate, mas, enganado por seu ex-namorado, Hector (Josh Segarra), perde suas finanças e vê em uma turnê de performances como Ruby uma oportunidade de recuperação monetária e emocional. Deixada de lado por sua mãe, uma mulher viciada em drogas que trabalha como prostituta, AJ vê na turnê da Drag Queen uma potencial carona para o estado do Texas, onde poderia encontrar-se com seu avô. Apesar de não conhecê-lo pessoalmente, sempre mostrou-se atencioso para com ela, enviando presentes e cartas.
Robert quer ajudar AJ, mas não sabe como pode fazê-lo e, assim, a trama se desenvolve. É uma situação não ideal, mas que, dadas as circunstâncias, precisa ser superada pelas personagens para a realização de seus objetivos. Com o passar dos episódios, os dois personagens que à princípio compartilhavam somente do mesmo endereço, aprendem a não apenas conviver, mas também se respeitarem.
A série marca a volta de RuPaul às telas, fora de seu reality show RuPaul’s Drag Race e seus spin-offs. A Drag, uma das figuras de maior destaque do meio LGBTQ+ mundial desde a década de 80, além de atriz e apresentadora, também é cantora e modelo.
Com todo o seu charisma, uniqueness, nerve and talent, RuPaul também é uma das criadoras de AJ and the Queen e deixou suas marcas no roteiro. Humor de teor queer, referências a filmes e músicas clássicas dos anos 80 e 90, figurinos extravagantes, e claro, a participação de Drags, como Manila Luzon, Latrice Royale, Valentina, Bianca Del Rio, Trinity The Tuck, e outras figuras de Drag Race.
O lúdico da série, porém, não deixa de abrir espaço para a problematização de temas atuais de grande importância e que ainda são vistos como tabus sociais. Assim, trazendo à tona discussões acerca de maturidade, sexualidade, responsabilidade afetiva, representatividade, vício, masculinidade tóxica, deficiências, maternidade, direitos LGBTQ+, e construções de gênero – como transgeneridades, termo que invoca a leitura da binaridade e da não-binaridade.
Com 10 episódios de menos de uma hora de duração cada, a peça televisiva, de maneira cuidadosa, consegue reunir linguagens objetivas e metafóricas em uma narrativa que se apresenta leve, cômica, saudosista e reflexiva. Engana-se o desavisado que, levado pelo trailer e pela sinopse, acredita que a série é mais uma comédia rasa recheada de clichês. Citando uma fala de Ruby: “ninguém é só uma coisa, as pessoas são mais complexas do que isso”. Trata-se de um convite ao entretenimento rápido, sem esquecer da função político-ativista de uma produção pensada por e para LGBTQ+s.
MELHOR RESENHA/CRÍTICA EVEEEEEER <3
Sempre disse, quem critica a série chamando de superficial não entendeu NADA!