Nathalia Tetzner
É graças à figura imponente do Zorro que, no universo dos heróis, não há nada tão clássico quanto um vigilante trajado de preto com sede de vingança e senso de justiça por aqueles que não podem se defender. Criado pelo escritor pulp Johnston McCulley em 1919, o mascarado assistiu a sua história se repetir nos quadrinhos, na Televisão e nas grandes telas do Cinema em incontáveis versões. Mas, foi apenas oito décadas depois de seu nascimento que, graças a genialidade de Steven Spielberg através das lentes de Martin Campbell, ele se consagrou como um símbolo universal no longa A Máscara do Zorro, uma aventura de pouco mais de 120 minutos marcada pelo entretenimento afiado como a rapieira usada para esculpir o Z nos corpos dos inimigos.
No filme que completa 25 anos, o Zorro de Anthony Hopkins, já debilitado pelas cicatrizes abertas do passado, enxerga o sucessor perfeito em Alejandro Murrieta, um ladrão que toca o terror no faroeste e é interpretado por Antonio Banderas. Movidos pelo sentimento amargo da vingança que se apossa de ambos, a conexão acontece pela existência de um inimigo em comum: o tirano espanhol Don Rafael Montero (Stuart Wilson). Para o primeiro, honrar a memória de sua esposa e reencontrar a sua filha são prioridades, já para o jovem fugitivo, a vontade de lutar surge do assassinato de seu irmão, Joaquin (Victor Rivers).
De Hopkins para Banderas, o apego emocional do público com o protagonista não se esvazia nem por um segundo, o que é de se admirar levando em consideração não somente o alto nível de atuação imposto pelo veterano como também o fato de que a sequência de cenas iniciais de A Máscara do Zorro, com ele ainda em ação, proporciona momentos de êxtase, incluindo a icônica despedida do justiceiro que, em cima do cavalo Tornado, levanta a espada contra o sol logo após marcar a sua incial no vilão Montero. Imediatamente, a Fotografia de tirar o fôlego de Phil Méheux se mostra essencial para a característica atemporal e nostálgica da obra.
Inspirado em personagens da América Latina como o ‘fora-da-lei’ Joaquín Murietta, o Zorro de Johnston McCulley esbarra em questões políticas complexas do período da febre de ouro na Califórnia que envolvem a rivalidade mexicano-estadunidense e um certo romantismo colonial. Porém, no filme de 1998, o cineasta Martin Campbell tenta deixar tudo de lado em prol do entretenimento. E ele consegue conquistar e fazer o público esquecer do contexto histórico por meio da grandiosidade: é difícil não ficar de queixo caído como os irmãos Murrieta quando foram presenteados na infância com o medalhão do cavalheiro em uma espécie de destinos cruzados.
A história de Ted Elliott, Terry Rossio e Randall Jahnson parte da primeira aparição do mascarado no livro A Maldição de Capistrano e entrega para o roteiro de John Eskow, Elliott e Rossio uma aventura bem amarrada. O que eles nitidamente não esperavam era que Catherine Zeta-Jones fosse roubar a cena na pele de Elena, filha de Don Diego de la Vega, o Zorro original. Sequestrada por Don Rafael Montero quando bebê, ela protagoniza em meio a tantos conflitos emocionais, ultrapassando os limites do interesse amoroso, mesmo sendo uma personalidade feminina escrita a partir de uma visão masculina.
Indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som, A Máscara do Zorro realmente se sobressai com os trabalhos de Kevin O’Connell, Greg P. Russell, Pud Cusack e Dave McMoyler. No âmbito da caracterização, Graciela Mazón recebeu uma nomeação ao BAFTA de Melhor Figurino pela fidelidade ao ambiente do século XIX. No entanto, é de se surpreender que os visuais tenham passado despercebidos pelas premiações: em entrevista ao Yahoo Entertainment, Antonio Banderas revelou: “Steven Spielberg me disse uma vez quando estávamos filmando: ‘Esse filme, provavelmente, será um dos últimos faroestes feito como nos velhos tempos, com cenas reais, cavalos, lutas de espadas, sem computação gráfica.’ Na época, tudo foi construído de forma prática”.
Repleto de cenas memoráveis, o longa faz justiça ao legado que influenciou heróis desde Indiana Jones até Batman. Ironicamente, a sequência da produção, A Lenda do Zorro (2005), falhou em continuar a expertise, sendo, provavelmente, um dos únicos defeitos da união entre Spielberg e Campbell. A caminho do seu 25º aniversário, a marca deixada pelo entretenimento de A Máscara do Zorro ainda está gravada no imaginário popular e deixa a questão sobre o seu futuro em aberto.