Guilherme Barbosa
Não é por acaso que Taylor Swift é considerada a indústria da Música. A cantora, que acumula mais de 100 milhões de ouvintes mensais no Spotify, lançou em Outubro de 2023 a regravação de uma de suas maiores obras musicais, o álbum 1989 – agora intitulado 1989 (Taylor’s Version). Após o anúncio da remasterização de seus seis primeiros discos, a intérprete tem se mostrado muito engajada em apresentar ao público novas versões que se mostrem atuais, mas ao mesmo tempo, preservem sua essência original.
Desde o lançamento do Fearless (Taylor’s Version), em 2021, a artista tem apresentado um novo formato de consumo de suas criações, presenteando os fãs com músicas inéditas que compõem o conjunto original de faixas, adicionando novas histórias e sentimentos às composições mais pessoais de cada álbum. Quando lançou o projeto original, em 2014, a cantora se adentrava 100% no gênero pop, apresentando canções que viriam a fazer um sucesso estrondoso e a consolidaria como uma das maiores divas pop da atualidade. Swift estava presente em todo lugar: streamings, rádios e televisões. Seu sucesso era inegável e hoje se torna algo inerente à sua carreira.
Anunciado como sua regravação favorita, o tão aguardado disco traz consigo temáticas como o amor, novas descobertas e decepções. Os cenários que vão desde a cidade grande até a praia se fazem presentes para criar uma atmosfera calorosa que irá transitar entre as 21 faixas da nova versão. Com o desafio de manter a qualidade do registro original, a loirinha não decepciona ao trazer vocais mais maturados, suaves e amistosos às suas canções. Um dos maiores sucessos da era, Blank Space nos traz o mesmo ambiente, mas de maneira mais madura em seus versos. Os vocais nos oferecem uma sensação de ironia, contrários ao sentimento de raiva dos cânticos originais.
O álbum mantém suas referências dos anos 1980, que funcionam muito bem em quase toda a obra, como Welcome to New York, I Wish You Would e This Love. Style se mostra como uma das, se não a única música da versão repaginada que, simplesmente, não funcionou. Seus vocais decepcionam, tirando toda a vivacidade que a canção pede. A mudança no instrumental é perceptível, confirmando que a produção falhou ao tentar realçar o que já era bom.
Com sua estética única, o registro traz cinco faixas inéditas para fazer conjunto com as originais. De forma muito sensível, todas trazem assuntos como a decepção, mas também a superação. Now That We Don’t Talk se mostra como aquela canção que (quase) todo mundo irá se identificar. De maneira autêntica e sincera, a Miss Americana nos conta como é ver alguém que era presente em nossa vida e hoje não é mais, seguindo em frente. Taylor Swift reafirma seu status de uma das maiores compositoras de todos os tempos ao nos contar de um jeito tão particular, em forma de composição, como é crescer, amar, se decepcionar e ainda assim, no fim de tudo, se sentir limpo.
A nova versão não apenas resgata a nostalgia dos fãs, mas também oferece uma nova perspectiva da relação entre os artistas e seu catálogo na indústria musical. Ao revisitar um álbum já consagrado como o 1989, Swift não só fortalece seu vínculo com os ouvintes antigos – o famoso fan service – como também encanta uma nova geração ao proporcionar uma experiência musical renovada. Esta conexão com as gerações Z e Alpha são perceptíveis, especialmente durante os shows da gigante The Eras Tour, onde foi possível notar a presença de crianças e adolescentes cantando as músicas com muita energia. A abordagem desafia os tradicionais costumes, redefinindo a maneira como os artistas preservam seus legados, ao mesmo tempo em que reimaginam criações de anos atrás.
Sua legião de fãs é imensa e isso se torna ainda mais explícito durante a turnê atual, a The Eras Tour. No Brasil, os swifties se uniram para uma homenagem no Cristo Redentor, celebrando a chegada da cantora no país. Este é apenas um exemplo de como ela estabelece uma conexão profunda em suas obras. Os versos contam emoções vividas por quase todos, afinal, quem nunca passou por um término de relacionamento? Ao revisitar sentimentos, Swift não apenas proporciona uma perspectiva renovada de seus discos, mas também adiciona camadas emocionais profundas a eles. Essa conexão vai além de simplesmente ‘ouvir música’; é um laço emocional que transcende o tempo, construindo uma relação autêntica de identificação entre a artista e seu público.
É inegável o impacto que o 1989 teve na indústria musical: foram muitos recordes e shows que ficarão para a história. A regravação vem para reafirmar esse sucesso, nos mostrando que apesar das adversidades, foi possível manter a qualidade original trazendo novos elementos que compõem de forma extraordinária o disco. De fato, há algumas incorreções que se fazem questionáveis, mas que ainda assim, não diminuem o quesito qualidade de uma obra que é uma das mais premiadas da história do Grammy. Com o lançamento de sua quarta Taylor’s Version, a artista se consolida ainda mais como uma das maiores deste século, demonstrando ser extremamente completa e versátil.