Regina Spektor – Remember Us to Life: um novo gosto à memória

Embora previsível, o sétimo álbum da cantora emerge sentimentos e faz convite ao cultivo de lembranças

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Luis Felipe Silva, estudante de jornalismo da UNESP-Bauru

Como quem musicou um velho diário, Regina Spektor lançou, no último dia 30 de setembro, seu mais recente álbum. Sem muitas surpresas, Remember us to life – o sétimo de estúdio da cantora – vem a público depois de um pseudo-hiato de mais de quatro anos. Nesse meio tempo, Regina foi mãe e emplacou “You’ve Got Time” como tema de Orange is the new Black (série original da Netflix), que lhe rendeu a indicação de Melhor Canção Composta para Mídia Visual no Grammy Awards em 2014.

Regina conquistou o público com o single “Fidelity” (lançado em 2006) e imprime um estilo peculiar em suas canções. Cada música tem caráter único e, num mesmo álbum, podem-se perceber traços de jazz, folk e rock. Ainda assim, sua identidade vocal não deixa dúvidas de quem as interpreta. As letras são um caso à parte: em sua maioria, tratam de sentimentos de maneira introvertida, geralmente em primeira pessoa, embora Regina negue que sejam autobiográficas.

“Bleeding Heart”, faixa que abre o mais recente disco, traz um ritmo marcante que ressalta as habilidades vocais da cantora que não se acanha em usar toda sua extensão vocal e fazer melodias com pouco ou nenhum auxílio de instrumentos. Previsivelmente, sua voz se sobressai, seca e inexorável, sob uma marcação rítmica simples. A melodia fica por conta das construções vocais que Regina, com maestria, executa com afinação ímpar.

A versatilidade de Spektor é inegável e neste disco fica mais evidente. “Older and Taller”, por exemplo, agrada por sua musicalidade com arranjo mais complexo. Em contrapartida, já em clima intimista, “Grand Hotel” e “The Light”, demonstram que Regina precisa de pouco para fazer boa música.

Em comparação com seu álbum anterior (What We Saw From The Cheap Seats, 2012), Regina emerge em suas canções tantas emoções quanto o fez com “How” (faixa que era quase uma súplica interna). Em dados momentos, ao ouvir Remember us to life, sente-se tanta calma como quando se ouve “All Is Well” de Austin Basham. Excluindo-se as divergências estilísticas, lembra Norah Jones em “Don’t Know Why” e tem-se a leveza e graça de Corinne Bailey Rae quando convida todas as garotas a aumentar o som em “Put Your Records On”. Por fim, destoante e autorreflexiva, em dado momento mergulha na melancolia como Florence + The Machine.

Autobiográfico ou não, Remember us to life, dá novo gosto à memória. Talvez, por conta da recente maternidade de sua intérprete, parece até querer convencer quem o ouve a adotar um diário para não perder as lembranças pelo caminho. Regina parece ter dado melodia às sensações antigas e, embora previsível, deixa claro a razão pela qual ela conquistou as paradas musicais: qualidade. Mais que isso, a capacidade de dar nova roupa a seu estilo e fazê-lo indissociável de sua voz.

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Regina Spektor à época de sua indicação para o Grammy (Créditos: WENN.com)

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