Lara Ignezli
Fine Line nos convida a assistir a uma história de amor protagonizada por seu criador, através de uma ótica melancólica e, principalmente, nostálgica. As músicas carregadas de influências do pop, do rock clássico e do marcante R&B psicodélico transparecem em suas letras a vontade desesperadora que Harry Styles tem de estabelecer uma comunicação com o “sentir”.
Em seu primeiro álbum de estúdio autointitulado, em 2017, o ex-membro da One Direction parecia prestar uma homenagem aos grandes nomes do rock clássico. Não era uma afirmação de como seria o futuro, mas uma contemplação de tudo que o levou até aquele momento.
E é importante frisar que suas referências não ficam para trás nesse novo álbum. Cherry é uma faixa que descende diretamente de Fleetwood Mac, enquanto She poderia ter sido lançada pelo Pink Floyd.
Mas é interessante perceber como o cantor se entrega nos novos versos. Para quem ouve, ficam claros os conflitos amorosos vividos com sua ex-namorada, a modelo Camille Rowe. A música Lights Up, em contrapartida, é o desabafo metafórico de alguém que acabou de se resolver com sua bissexualidade — e não coincidentemente foi lançada no “Dia de Sair do Armário”, uma data criada pela comunidade LGBT+.
Agora Styles possui a própria assinatura e (por que não?) o próprio universo. Adore You, o terceiro single lançado, ganhou um lugar fictício para seu videoclipe, uma ilha chamada Eroda (ao contrário, “adore”).
O single estabelece uma conexão entre aquilo que é platônico e o mundo real. Em todos os sentidos. O videoclipe nada tem a ver com letra da música; é uma nova narrativa cheia de simbolismos e efeitos especiais.
A história, narrada pela cantora Rosalía, conta a vida de um menino que foi isolado pela população nativa e encontrou em um peixe suicida seu único amigo. Sim, isso mesmo. Em um peixe suicida.
Quanto à letra, também é possível apontar fatores fantásticos, porém muito mais ligados ao romantismo. Expressões como “I get so lost inside your eyes” e “I’d walk through fire for you”, descrevem uma relação em que a pessoa amada é quase uma entidade, distante e perfeita. Uma forma de amor irreal.
A linha tênue entre o único e o universal
Talvez essa a linha tênue (tradução livre da expressão “Fine Line”) sintetize o álbum: o que reside entre o único e o universal. São sentimentos intransferíveis, que apresentam as vivências particulares de Harry Styles ao público, maravilhosamente traduzidos em palavras universais. As melodias, envolventes, dão um quê contemplativo às músicas e tornam tudo mais gostoso de ser ouvido.
Fine Line arrebatou as principais paradas de sucesso norte americanas. Conquistou o topo da Rolling Stones 200, o topo da Billboard 200, emplacou sete músicas na Billboard Hot 100 e já é considerado o terceiro maior lançamento do ano nos Estados Unidos, também pela Billboard.
São doze faixas que, não é cedo para afirmar, se tornaram atemporais, co-produzidas por Kid Harpoon – conhecido por trabalhar com Florence + The Machine – e Tyler Johnson – que já trabalhou com grandes nomes do pop, como Taylor Swift.
O mundo aplaude enquanto Harry Styles se afasta cada vez mais da imagem da One Direction e da sombra de suas referências. A promessa feita no primeiro álbum, de que coisa boa ainda estava por vir, foi cumprida com Fine Line. E, como sempre, fica o gostinho de quero mais.