Estante do Persona – Abril de 2024

No mês de uma data comemorativa importante para a literatura, o Persona comemora com dicas especiais (Texto de abertura: Jamily Rigonatto/ Artes: Raíra Tiengo)

Dizem que ler é uma viagem capaz de alcançar mundos e planos além do físico. Nas páginas de um livro, a fantasia, a realidade, o suspense, a aventura, o grotesco, o romântico e muitas outras facetas se encontram e desembocam em linhas poéticas. O Estante do Persona de Abril vem para contemplar essa pluralidade com uma lista de exemplares recheados de possibilidades. 

Com o Dia Mundial do Livro  e do Direito de Autor tendo sido comemorado em 23 de Abril, fica uma reflexão sobre a importância do hábito da leitura. Além de necessário para o desenvolvimento cerebral e manutenção da boa memória em idades variadas, o consumo de livros é capaz de despertar emoções, suscitar a curiosidade e ainda se comportar como um aparato educacional. 

É também um momento oportuno para homenagear e reconhecer o trabalho de autores nacionais e internacionais, que, mesmo em um mercado desvalorizado, continuam se empenhando por um trabalho original e de qualidade. Em completa resistência diante da digitalização e da facilidade de distribuição de conteúdo pirata no universo online, os escritores seguem mantendo um legado admirável e extremamente humano.

Nas dicas na nossa editoria, você encontra um pouco mais do que essas produções culturais são capazes de causar nas pessoas que as leem. Em uma seleção de obras especiais e significativas, os gêneros, autores, formatos, histórias e demais elementos contemplados pelos escritos se tornam os grandes protagonistas. Escolha o seu favorito e boa leitura!

 


Dicas do Mês

capa do livro O contador de histórias: Memórias de vida e música, de Dave Grohl. A capa apresenta Dave Grohl, do busto para cima e de lado, como se estivesse observando o horizonte. Dave é um homem branco em torno dos 50 anos, com cabelo moreno iluminado comprido, barba e utiliza óculos. Em sobreposição à fotografia, todas as escritas seguintes estão dentro de um quadrado, com bordas azuis, centralizado na parte inferior da capa. No centro superior do quadrado há os dizeres, em branco, "Dave Grohl". Logo abaixo há o título "O contador de histórias". Abaixo, há a escrita "Memórias de vida e música", em azul claro. A logo da Editora Intrínseca está no canto superior direito.
“[…] quando me vejo cara a cara com algo ou alguém que me inspirou nesta jornada, sou grato. Muito grato.” (Foto: Intrínseca)
Dave Grohl – O contador de histórias: Memórias de vida e música (416 páginas, Intrínseca)

O contador de histórias: Memórias de vida e música, do multi-instrumentista Dave Grohl – membro do Foo Fighters –, é um livro de vivências que mostra toda a sua vida sendo rodeada pela Música, principalmente pelo punk rock. Retalhando momentos como o descobrimento de seu estilo, suas primeiras viagens pelos Estados Unidos por causa dos shows, ainda adolescente ou quando formou suas famílias fora e dentro do meio artístico, a descrição dessas lembranças faz com que os leitores se sintam muito presentes na narrativa e experimentem um pouco dessas convivências.

Como destaque, Dave sempre exalta aqueles que vieram antes dele – e depois também. De uma forma bem simbólica e poética, o livro de memórias acaba sendo também um livro de exaltação para aqueles que Dave se inspirou e inspira até os dias de hoje. Percebemos Dave cultivando essa mistura entre o lado artístico e o lado família, dois ambientes que se retroalimentam. Dessa forma, o livro acaba sendo para aqueles que já o conhecem ou para quem quer conhecê-lo ainda mais, sendo bastante dinâmico entre os documentos pessoais que a obra apresenta. – Marcela Lavorato


Capa do livro Bem-vindos à Livraria Hyunam-dong, de Hwang Bo-Reum. A ilustração é composta por um céu azul com pequenos pontos claros como estrelas, um prédio pequeno e em tons de marrom claro (parte de baixo) e tijolos marrom escuro (parte de cima). No térreo do prédio principal há uma fachada de vidro, que pode-se observar dentro do ambiente, uma livraria com estantes, livros e luz amarelada; dentro da livraria há uma mulher sentada e um homem em pé. O primeiro andar do prédio possui duas janelas, a da esquerda está com a luz amarela acesa. Ao redor do prédio há prédios do mesmo tamanho e cor dele; há árvores ao fundo e mais prédios, logo atrás das árvores Na  frente da livraria estão alguns vasos de plantas; à esquerda há uma bicicleta parada e à direita, uma mulher vestindo saia jeans, moletom bege, touca vermelha, meias compridas brancas, tênis e bolsas preto. A mulher passeia com o cachorro, que é branco e usa uma coleira cinza. Na parte superior, centralizado, está o título da obra acompanhada, logo em seguida está o título em coreano (idioma oficial). Na parte inferior, ao meio, está o nome da autora
“As lágrimas não teriam cessado, mas, você sabe, quando o coração quer chorar, a gente tem que deixar sair mesmo. Ficar segurando não ajuda a sarar direito […].” (Foto: Intrínseca)
Hwang Bo-Reum – Bem-vindos à Livraria Hyunam-dong (272 páginas, Intrínseca)

Quase como um abraço apertado, a publicação notável da autora Hwang Bo-Reum é um conforto para aqueles que estão tentando encontrar o próprio lugar no mundo. Um livro para pessoas comuns que se equilibram entre a aceitação e a incerteza. E em meio a clientes, funcionários e amigos, Yeongju e sua livraria nos guiam numa viagem de introspecção pelo poder dos livros – afinal, “quanto mais livrarias abrem, mais sonhadores surgem”.

A obra inaugura uma nova fase da editora Intrínseca: a ficção de cura, que se tornou um fenômeno nos países asiáticos. Por meio de narrativas feitas para dialogar sobre os problemas que todo mundo enfrenta, envolvendo o leitor em um ambiente acolhedor. O gênero, também conhecido por healing fiction, nos guia em um mergulho nas relações humanas através de personagens complexos e seus desenvolvimentos; como  Minjun, o barista, que embarca em sua jornada pessoal enquanto tenta viver um dia de cada vez.

Com uma história que se desenvolve com calma, entre capítulos curtos e diálogos sinceros e profundos, Bem-vindos à Livraria Hyunam-dong é uma coletânea de conversas valiosas que faz ode aos amantes da literatura. E um lembrete para apreciarmos a jornada em busca dos nossos sonhos. – Agata Bueno


capa do livro X-Men - E  de Extinção, de Grant Morrison. A capa apresenta os heróis Professor Xavier, um homem branco e careca, Jean Grey, uma mulher ruiva e branca, Cyclope, um homem branco com óculos vermelhos, Wolverine, um homem branco de cabelos castanhos, Fera, um homem azulado e Tempestade, uma mulher negra de cabelos brancos. Atrás dos heróis, é possível ver uma cova com o seguinte escrito “RIP Homo Sapiens 33.000 BC - 2005 AD”. Eles estão trajados com um uniforme amarelo e preto.  Além disso, na capa há o título da história “Novos X-Men - E de Extinção” em cores douradas no canto superior esquerdo. No canto superior direito, há o logo da empresa Marvel Studios, nas cores vermelha e branca.  Na parte inferior central da capa, há os nomes dos autores da HQ. Grant Morrison, Frank Quitely, Leinil Francis Yu, Ethan Van Sciver nesta ordem com a fonte branca.
Utilizando os ideais de Martin Luther King e Malcolm X como pano de fundo para a construção da identidade dos mutantes, os X-Men abordam a segregação entre superdotados e humanos nas suas histórias (Foto: Editora Panini)

Grant Morrison – Novos X-Men – E de Extinção (204, Editora Panini)

Os X-Men são um dos grupos mais icônicos da Marvel Studios e queridos dos fãs de quadrinhos. Na saga E de Extinção, os mutantes precisam deter a doutora Cassandra Nova, que pretende liberar os sentinelas em direção aos heróis comandados por Charles Xavier. Durante 204 páginas, os leitores acompanham a luta entre os superdotados e os vilões clássicos desse universo.

No clima da mais nova série animada dos heróis, X-men ‘97, a leitura de E de Extinção é fluída e fácil de ser consumida. As ilustrações de Frank Quitely realçam ainda mais a trama, que é uma das mais interessantes do mundo mutante. Com inspirações dos filmes live-action dos anos 2000, os uniformes ganham uma cor mais neutra e não tão colorida como acontece nos quadrinhos clássicos dos heróis. – Guilherme Machado Leal


No topo da imagem temos o título “A lista de coisas suspeitas” escrito em letras brancas. Logo abaixo, temos a imagem de um corvo preto em cima de uma caixa de leite branca. Logo abaixo, temos o nome da autora Jennie Godfrey em letras pretas. Temos um fundo minimalista azul e uma moldura branca em volta da imagem.
O livro figurou na lista de best sellers do jornal britânico The Sunday Times (Foto: Editora Paralela)

Jennie Godfrey – A lista de coisas suspeitas (352 páginas, Editora Paralela)

Situado no ano de 1979 em Yorkshire, Inglaterra, A lista de coisas suspeitas conta a história de Miv, uma adolescente que está prestes a se mudar, devido a uma onda de assassinatos misteriosos que assola a cidade. Ela não está contente com a mudança, principalmente pela pressão em deixar a melhor amiga Sharon. Assim, ambas começam a levantar suspeitas sobre quem pode estar por trás de tamanha barbárie. 

A autora Jennie Godfrey é sagaz em reconstruir o espírito da época, tendo em vista que o livro é baseado em memórias de sua infância na cidade. Além disso, sua escrita é capaz de mover o leitor, conforme nos leva a refletir sobre o poder da conexão humana e a empatia. No fundo, a verdade sobre tudo que está acontecendo ao redor de Miv está mais perto do que ela imagina. – Nathan Nunes


Texto alternativo: Capa do livro Todos os Contos, de Clarice Lispector. Não há nenhum escrito na capa. É uma foto em preto e branco dos olhos de Clarice, pegando do nariz à testa. Seus olhos são escuros e ela possui um delineado preto. Em primeiro plano, na frente da foto, há linhas paralelas rosas, que tomam conta da capa toda.
O livro foi o primeiro a reunir todos os contos já escritos pela autora (Foto: Editora Rocco)

Clarice Lispector – Todos os Contos (656 páginas, Editora Rocco)

Todos os Contos é uma coletânea de escritos de Clarice Lispector, escritora, jornalista e um dos maiores nomes da literatura brasileira. Organizada por Benjamin Moser, biógrafo da autora, o volume único é capaz de viajar através da evolução de Clarice, desde seus primeiros esboços até sua última reflexão sobre a perspectiva humana, incluindo até mesmo contos nunca antes lançados em livros. 

Como de costume, Lispector tem prazer em passear sobre os sentimentos humanos e apreciar cada detalhe do minucioso questionamento do que é o ser. A cronologia não é um detalhe importante – acompanhar sua trajetória e relembrar as particularidades que tornam a escritora única é, talvez, o objetivo principal da coletânea. Memória e valorização são as palavras chaves quando se fala em Clarice Lispector. – Amabile Zioli


Capa do livro Daqui a cinco anos. Na imagem há um fundo branco rosé com o escrito Daqui a Cinco anos grafado em letras cursivas azuis marinho. Nas extremidades da capa é possível ver ilustrações em traço simples de prédios da cidade de Nova York, inclusive a Estátua da Liberdade. O nome da autora está no canto esquerdo.
Na conformidade com o imprevisível, Daqui a cinco anos é uma verdadeira surpresa (Foto: Paralela)

Rebecca Serle – Daqui a cinco anos (264 páginas, Editora Paralela)

A vida tem camadas múltiplas, relações complexas e sentimentos confusos. Com seu valor diante da finitude, cada um desses detalhes compõem a jornada com uma certeza: tudo é incalculável. Em Daqui a cinco anos, livro lançado em 2020 no Brasil sob a tradução de Alexandre Boide, a narrativa repousa na exploração da faceta que faz do existir uma espécie de roleta russa com possibilidades além da conta.

Protagonizado pela advogada Dannie Kohan, a obra nos leva pelos detalhes milimetricamente planejados por ela: um bom emprego, um casamento adequado e todos os outros elementos necessários para garantir o seu conceito de sucesso.  Nas idas e vindas do destino, um sonho confuso a atinge e, apesar de parecer tudo um devaneio desencontrado, cinco anos depois o que era previsível vira de cabeça para baixo.

A leitura fluida é com certeza um aspecto positivo, mas o ponto alto fica pelas sacadas impressionantes de Serle, que mantém tudo nas linhas do surpreendente e entrega plot twists constantemente.  Com um enredo que prende, vislumbrar Daqui é cinco anos é dar de cara com uma pequena amostra do quanto os caminhos se emaranham em nós que não somos capazes de – ou sequer queremos – desatar – Jamily Rigonatto

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