Ana Laura Ferreira
“Às quartas-feiras, nós usamos rosa”, “no dia 3 de outubro, ele me perguntou que dia era”, “Regina George trai o Aaron Samuels toda quinta na sala de projeção em cima do auditório”. Se você reconhece essas frases, com certeza faz parte da geração Mean Girls. Geração essa marcada pela tentativa de fazer o barro acontecer. Mas, por quais motivos, mesmo depois de 15 anos, o filme Meninas Malvadas ainda é um ícone da cultura POP?
O filme de 2004 dirigido por Mark Waters e escrito por Tina Fey conta a história de Cady Heron (Lindsay Lohan), educada em casa durante toda a sua vida até que, com 16 anos, é finalmente colocada em uma escola “normal”. Cady é apresentada a um mundo que tem sua própria hierarquia e regras, ou a total ausência delas. Uma selva. E no topo da cadeia alimentar estão as plásticas, as garotas mais populares do colégio, comandadas por Regina George (Rachel McAdams). Amada e odiada por todos, ela é a personificação do mal dentro do colégio.
O longa idealizado por Tina Fey (30 Rock) foi inspirado em ‘Queen Bees & Wannabes’, de Rosalind Wiseman, um livro de auto ajuda que analisa a formação de grupos sociais durante o colegial, o comportamento agressivo de meninas adolescentes e como lidar com elas. Porém, o livro, feito com o objetivo de ser apenas um guia para educar as adolescentes, se tornou muito mais que isso quando encontrou a mente de Fey.
A comediante e roteirista, também criadora da série original Netflix Unbreakable Kimmy Schmidt, conseguiu, de forma leve e descontraída, expressar e desconstruir a ‘rivalidade feminina’, mostrando os perigos e a falta de finalidade dessa disputa.
Desde os anos 80 com ‘Clube dos Cinco’, passando pelos clássicos da Sessão da Tarde ‘10 Coisas que Eu Odeio em Você’ e ‘Patricinhas de Beverly Hills’ – o melhor filme de todos os tempos -, Meninas Malvadas acompanha o subgênero sem muitas reinvenções.
O grande diferencial de Meninas Malvadas é sua identidade. Assim como em quase todos seus trabalhos, Fey adiciona um grande tom feminista ao filme, trazendo algo novo para o subgênero ‘filmes de colégio’. Sua proposta de desconstrução dos estereótipos fica clara na fala da professora Norbury, a própria Fey, dizendo “Vocês [meninas] precisam parar de chamar umas às outras de vadias ou prostitutas. Isso só faz com que os meninos achem que seja ok chamar vocês dessas coisas”.
Outro momento em que seu discurso feminista de sororidade fica claro é quando Cady quebra a coroa do baile da primavera e distribui entre as concorrentes e suas colegas. E, apesar de conter milhares de estereótipos – sendo o principal exemplo Karen Smith (Amanda Seyfried) que é a perfeita personificação da menina burra-, o filme utiliza de personagens caricatos para criar um universo propício para a crítica sem a ausência de comédia.
Meninas Malvadas se mantém atualizado e tão popular por ser uma forma leve e engraçada de trabalharmos os rótulos a que fomos rebaixados e, principalmente, por ser uma filme com um forte discurso de apoio entre as mulheres. Apesar do Burn Book e de todas as brigas, o longa termina com as personagens principais entendendo que a luta entre elas não levará a lugar nenhum.
Regina George e Cady Heron inspiram, até hoje, vários clipes, séries, filmes e peças de teatros com seus clássicos diálogos e seu humor ácido, sem nunca cair no esquecimento graças a sua legião de fãs. Mesmo muitos anos depois de sua estreia Meninas Malvadas se mantém como um dos principais filmes da primeira década do século XXI, como um verdadeiro – e eterno – ícone da cultura pop.