Após quatro anos desde o lançamento de ‘Tell Me I’m Pretty’, Cage The Elephant retorna com um álbum mais maduro acerca da fama, saúde mental e relacionamentos amorosos.
Anna Araia
A banda estadunidense Cage The Elephant voltou à atenção pública ao lançar o seu quinto álbum de estúdio, ‘Social Cues’. A premissa do novo trabalho difere dos anteriores, mas sempre apostando no lado eclético das músicas. Com o término do casamento, e relacionamento de longa data, do vocalista Matt Shultz, um tom sombrio influenciou no conceito do disco.
As 13 faixas novas levam o ouvinte para uma viagem em diferentes ritmos e sintonias. Há a influência clara de “Ashes to Ashes”, do David Bowie, em ‘Social Cues’, assim como a do The Cure em “Tokyo Smoke”. De produtor novo e cara nova, apostaram em ritmos que trouxessem os anos 80 à mente.
Shultz, ao contrário das outras vezes, apostou em uma visão do Cage The Elephant não ser uma banda “boazinha” da indústria musical. A música “Broken Boy”, que abre o álbum, traz a frase “I was promised the keys to an empire”. Na faixa seguinte o vocalista continua “I don’t have the strength to play nice”.
A música “Social Cues”, que carrega o título do novo LP, revela a desilusão com a fama. Abordando-a até como algo tóxico ou distorcido pela visão de pessoas que não fazem parte desse mundo, mostrado no trecho:
I don’t know if it’s right to live this way, yeah
I’ll be in the back room
Tell me when it’s over
People always say “man, at least you’re on the radio”
A tão procurada “peace of mind” pela banda em ‘Melophobia’ é deixada de lado, ao adentrarmos em questionamentos cada vez mais profundos. As músicas aguçam os ouvidos para o sentimento de relatividade e incerteza dos relacionamentos, mesmo os considerados longos e estáveis.
“Goodbye”, um dos quatro singles do álbum, revela como Matt Shultz ficou desolado com o fim de seu casamento com Juliette, na vida fora dos palcos. A não compreensão do término, a dor de não ter mais aquela presença e a insatisfação de não ter esclarecimentos sobre a relação ficam evidentes em:
So many things I want to say to you
So many sleepless nights I prayed for you
My heart’s an ashtray and I lost my mind
You bring the smokes, I’ve got the time
I want to scream, I want to laugh, I want to close my eyes
I want to hide somewhere that’s hard to find
Stop wasting time trying to shape your life
It’s alright, goodbye
Com um Grammy, treze anos de carreira e cinco álbuns de estúdio, o Cage The Elephant abre as portas para uma nova era: não mais uma banda ingênua, que se submete à situações desgastantes para agradar a indústria musical. Pelo contrário, a música e a sua imponência no mundo indie rock torna-os fortes e influentes para recusar os padrões por ela impostos.
Em entrevista recente, Shultz afirmou que não querem carregar a responsabilidade de manter o espírito do rock vivo. A banda, nos últimos trabalhos, priorizou a elaboração de cada canção individualmente e só depois focou no todo. Afirmou “Na realidade, é meio engraçado e triste como as pessoas pegam um grupo musical e o definem com as palavras “rock’n roll”, esquecendo a versatilidade de vários instrumentos compondo juntos”.
Ainda que a banda fuja dos estereótipos e dos relacionamentos superficiais do mundo musical, não estão livres de todo esse contexto. Um resumo da situação é deixado na letra de “Broken Boy”, dizendo:
Tell me why I’m forced to live in this skin
Tell me why I’m forced to live in this skin
I’m an alien, not just an alien, oh
Tell me why I was born to live in this skin
Tell me how I’m supposed to be forgiven
With my hand in the hive and the sun in my eyes, yeah
Em suma, sempre em constante evolução, a banda retorna com um álbum cheio de inéditas, com temas mais densos e uma mistura de ritmos. Sem deixar de lado o estilo dos trabalhos anteriores, o Cage traz uma fusão interessante e mostra a irreverência diante da indústria da música. Além de mostrar as indagações do vocalista Matt Shultz.