O dilema de Suzane von Richthofen em A Menina Que Matou os Pais – A Confissão

Cena do filme A Menina Que Matou os Pais - A Confissão. O local é um cemitério, ao fundo, há algumas pessoas desfocadas e no centro, em evidência, está a atriz Carla Diaz, uma mulher branca de cabelos louros, longos e lisos. Ela usa uma calça jeans escura, um cropped preto e no ombro uma blusa de manga comprida preta. Ela está abraçando o ator Leonardo Bittencourt, um homem branco de cabelos pretos utilizando uma camisa social cinza e gravata longa preta. Ele também está utilizando uma calça social cinza escuro e um cinto preto.
Carla Diaz e Leonardo Bittencourt novamente protagonizam a representação do crime que chocou o Brasil (Foto: Amazon Prime Video)

Guilherme Barbosa

Em 2002, o caso Richthofen escandalizou o Brasil pela extrema brutalidade do crime, orquestrado por Suzane Von Richthofen e os irmãos Cravinhos. A indústria cultural, desde então, explorou diversas formas de recriar esse trágico evento, seja por meio de livros, podcasts ou no Cinema. Em 2021, dois filmes apresentaram uma nova abordagem, revelando a perspectiva de Suzane e a de Daniel Cravinhos, seu então namorado. Dois anos depois das primeiras adaptações cinematográficas, surge um novo capítulo com A Menina Que Matou os Pais – A Confissão, prometendo narrar os acontecimentos desde a noite do crime até o dia em que confessaram.

O filme vem para completar a história dos antecessores A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais: não há novidade no caso, a diferença fica sobre como o ocorrido é mostrado aos espectadores. O longa apresenta os dias tensos que sucederam a noite do assassinato de Manfred e Marísia, pais de Suzane. Um terceiro olhar à história exibe todo o processo de investigação da polícia para entender como as mortes aconteceram a sangue frio até a confissão dos três envolvidos.

Desde a popularização do true crime, iniciou-se uma discussão sobre a glamourização de serial killers e os crimes que marcaram. O ponto principal é articular sobre até que momento o indivíduo que o cometeu está sendo colocado como sofredor, tirando o lugar daqueles que realmente são vítimas e os colocando como sujeito principal, deixando de lado sua crueldade e violência. Em casos muito famosos como Ted Bundy e Jeffrey Dahmer, que tiveram muitas obras criadas em torno de seus crimes, essa discussão foi muito ampliada.

Quando a Netflix lançou Dahmer: Um Canibal Americano, surgiram muitos debates sobre se realmente havia necessidade de criar mais uma retratação de um caso que afetou e marcou a vida de tantas pessoas, já que a série foi acusada de mostrar o serial killer como vítima em alguns momentos. Com A Menina Que Matou os Pais – A Confissão, não seria diferente levantar o questionamento se era necessário criar mais um capítulo para uma história que foi tão cruel e sensacionalizada pela mídia. Também não é diferente afirmar que mais uma vez um crime grave e cruel foi explorado para criar uma obra cinematográfica puramente mercadológica, visto o resultado raso do filme entre atuações e desenvolvimento.

Com o lançamento, um certo clamor foi gerado com a expectativa de que a direção e atriz principal conseguissem demonstrar a dissimulação, narcisismo, manipulação e frieza de Suzane, uma pessoa tão complexa, que conseguia demonstrar muitas características em um só momento. Carla Diaz, com certa diligência, representa as emoções de Richthofen em ocasiões marcantes para o ocorrido, como no enterro dos pais, no qual ela utilizou calça jeans e um cropped preto. No terceiro ato, temos uma atuação mais contida, tornando os acontecimentos mais convincentes.

Imagem retangular. O cenário da imagem é uma delegacia, no centro, Leonardo Bittencourt, um homem branco de curtos cabelos e sobrancelhas pretas. Ele usa uma camiseta de manga comprida preta com uma estampa na frente. Ao seu lado está a atriz Carla Diaz, uma mulher branca de cabelos e sobrancelhas loiras. Ela usa uma camiseta vermelha com uma bolsa em seu ombro direito.
O novo longa mostra como foi o processo de confissão do caso Richthofen (Foto: Amazon Prime Video)

Leonardo Bittencourt e Allan Souza Lima, em suas representações dos irmãos Cravinhos, têm desempenhos diferentes. Bittencourt não tem muita precisão em demonstrar o nervosismo que Daniel demandava naquele momento, diferentemente do representante de Cristian Cravinhos, que tem uma das melhores performances de todo elenco ao interpretar aquele que acabou influenciando em diferentes momentos da investigação. O ápice vem no terceiro ato, próximo da confissão, quando ele mostra com muita maestria como o ser humano se comporta sob pressão e nervosismo. 

O desenvolvimento do enredo escrito por Ilana Casoy e Raphael Montes ocorre principalmente por meio da investigação do crime. Contudo, na segunda metade do filme, percebe-se uma aceleração em direção ao clímax, resultando em uma conduta que negligencia a exploração aprofundada dos detalhes da apuração do incidente. A habilidade da polícia em conectar todas as peças de um quebra-cabeça tão difícil é bruscamente simplificada, com base em pequenos descuidos dos personagens, o que pode parecer um tanto quanto duvidoso.

 Imagem retangular. No centro está Carla Diaz, caracterizada para seu personagem como Suzane von Richthofen. Ela é uma mulher branca, de cabelos loiros escuros e olhos castanhos escuros. Ela está sentada em uma cadeira, com os joelhos apoiados na cadeira e seus braços cruzados em cima dos joelhos. Usa uma calça cinza e uma blusa de manga comprida vermelha.  Em sua mão direita segura um cigarro. Ao fundo está  um armário de cor bordô que cobre todo o fundo da atriz.
Suzane von Richthofen arquitetou o plano que matou os seus pais em 2002 (Foto: Amazon Prime Video)

Filmes baseados em histórias reais, especialmente aqueles que abordam crimes brutais como o caso Richthofen, são muito desafiadores. A tarefa é complexa e requer uma sensibilidade competente de toda a equipe envolvida. A Menina Que Matou Os Pais – A Confissão é mais uma abordagem comercial e midiática do que uma criação de um testemunho significativo que honre a memória das verdadeiras vítimas.

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