6 diretoras para apreciar no Dia do Cinema Brasileiro

Para marcar a data em um ano tão simbólico como 2022, o Persona se juntou à ACI Faac para homenagear as mulheres que fizeram, fazem e farão a História do Cinema brasileiro. 

Entre tantos nomes importantes para o cinema nacional, selecionamos diretoras que contemplam as diversidades do Brasil de ontem, hoje e amanhã [Foto: Reprodução/Arte: Jho Brunhara (Persona) e Laís Yokota (ACI Faac)/Texto de Abertura: Letícia Ramalho (ACI Faac) e Vitória Lopes Gomez (Persona)]
Em um Brasil que ainda vende suas salas de cinema para blockbusters estadunidenses e faz de tudo menos proteger seu próprio Cinema – e seus próprios cineastas -, os artistas sempre impuseram resistência. A situação das mulheres na Sétima Arte ao redor do mundo, porém, não destoa tanto do que vemos hoje: a invisibilidade ainda as condena ao esquecimento e ao segundo lugar de profissionais homens – que cá entre nós, também não estão em um lugar muito melhor por aqui. Mas parando para pensar… de cabeça, quantas diretoras mulheres você consegue citar? No Dia do Cinema Brasileiro, tomamos esse momento para refletirmos: quem são as cineastas que construíram e continuam construindo a trajetória do Cinema no país?

Há quase um século, Cléo de Verberena inaugura essa história, como a primeira mulher de quem se tem conhecimento a dirigir um longa-metragem no Brasil, em 1931. Avançando quase meia década no tempo, Helena Solberg, nos anos 60, e Adélia Sampaio, nos 70, continuaram abrindo portas e se tornaram – mesmo depois de tanto tempo em relação à primeira – pioneiras. Ambas marcaram o Cinema Novo em suas últimas gerações e foram uma das poucas (talvez únicas) representantes mulheres do movimento brasileiro. Precursoras também, Ana Carolina e Suzana Amaral: com temáticas diferentes, ambas usaram o meio cinematográfico para discutir o lugar da mulher na sociedade. Entre os longas mais famosos das duas, a primeira dirigiu Das Tripas Coração (1982) e a segunda, A Hora da Estrela (1985), além de curtas-metragens e documentários.

A resistência por parte das mulheres, porém, não se limitava à sua presença no Cinema. Diretoras como Tereza Trautman e Lúcia Murat levaram a luta – política em sua essência – à frente de suas claquetes, abordando temas sociais em tom contestatório. Lúcia, inclusive, continua na ativa: seu longa de estreia, Que Bom Te Ver Viva (1989), misturava histórias de resistência às suas memórias da prisão na ditadura; seu último trabalho até agora, Praça Paris (2017), ainda discorre sobre a violência brasileira. Mais recentemente, cineastas como Maria Augusta Ramos, com O Processo (2018), Anna Muylaert, com Alvorada (2021), e Petra Costa, com Democracia em Vertigem (2019), tomaram o jogo político para si, em documentários pertinentes ao Brasil atual.

Fotografia da cineasta Helena Ignez. A imagem captura apenas o seu rosto e é e preto e branco. Ela está de frente, é uma mulher branca, de cabelos loiros ondulados e soltos, e tem uma franja fina sobre a testa. Helena usa uma maquiagem escura ao redor dos olhos e de seu lábio inferior escorre um líquido preto.
A atriz e cineasta Helena Ignez, que foi esposa de Rogério Sganzerla, comandou curtas-metragens autorais e foi uma importante força criativa nos filmes do diretor, apesar de nunca ter sido oficialmente creditada (Foto: Belair Filmes)

Outras, preferem retratar o seu ponto de diferentes formas. Viviane Ferreira (O dia de Jerusa), Laís Bodanzky (Bicho de Sete Cabeças) Juliana Rojas (As Boas Maneiras), Gabriela Amaral Almeida (O Animal Cordial), Grace Passô (República), Eliane Caffé (Era o Hotel Cambridge), Larissa Fulana de Tal (Cinzas), Caru Alves de Souza (De Menor) e Maya Da-Rin (A Febre) são apenas alguns dos nomes que, na ativa, levam um subtexto crítico da realidade atual às suas produções. E o tom, infelizmente, não poderia ser menos acertado: atualmente, o Cinema nacional está em fase de recuperação depois do baque pandêmico e dos desmontes que o governo Bolsonaro permitiu aos projetos de incentivo à cultura, como novas regras de adesão ao financiamento pela Lei Rouanet.

De acordo com pesquisa da Agência Nacional do Cinema (Ancine), em 2019, 167 filmes brasileiros chegaram às telas de cinema, o que correspondeu a 37% das obras exibidas, e apenas 13,6% de todos os ingressos vendidos. Os longas-metragem de produção nacional mais assistidos naquele ano foram Minha Mãe é Uma Peça 3, Nada a Perder 2, Hebe – A Estrela do Brasil  e Minha Vida em Marte, sendo este último o único com direção feminina. 

De modo geral, podemos observar que os filmes que chegam ao circuito de exibição popular, além de não serem preferência do público brasileiro, são em sua grande maioria dirigidos por homens. Portanto, neste Dia do Cinema Brasileiro, cabe lembrar e destacar as mulheres que estiveram e ainda estão na linha de frente na luta pela valorização do Cinema nacional, sobretudo aquelas que não receberam a devida valorização. Seja no terror, no drama, no pseudodocumentário ou na ficção, o Cinema brasileiro resiste e as cineastas também. Em 2022, o Persona e a ACI Faac se juntaram em uma parceria inédita para homenagear as cineastas que fazem parte da História do audiovisual brasileiro.

 

Fotografia em preto e branco de Cleo de Verberena. Ela é uma mulher branca, de cabelos escuros curtos e ondulados. Ela é fotografada da altura do peito para cima. Cleo usa um vestido de mangas longas e gola v estampado e também escuro. Seu pescoço e pulso estão cobertos de joias. Sua mão esquerda está apoiada no ombro direito. Ela está usando maquiagem escura ao redor dos olhos, batom também escuro e suas sobrancelhas são finas, arqueadas e marcadas.
Dentre as influências da primeira diretora do Brasil, estão o ator, produtor e diretor Fred Niblo e a atriz vencedora do Oscar Greta Garbo (Foto: Reprodução)

Cleo de Verberena por Raquel Dutra

Primeiro, a primeira: Cleo de Verberena, nome artístico de Jacyra Martins da Silveira, foi a primeira mulher a dirigir um filme no Brasil. O feito veio através do título O Mystério do Dominó Preto, que em 1931 colocou o país junto do resto da América Latina em suas primeiras produções cinematográficas assinadas por diretoras, um movimento iniciado na década de 10 na Argentina e impulsionado pelas tendências modernistas e de desenvolvimento cultural, ideias todas muito bem recebidos pelo nosso continente a partir dos anos 20.

Mas o sentido carregado do termo “moderna” ainda é pouco para definir a visão de Cleo, que almejava explorar a direção audiovisual muito antes de estar diante de uma câmera pela primeira vez. Ainda adolescente, a cineasta nascida em 1909 na cidade de Amparo, no interior de São Paulo, deixou seu seio familiar para desbravar a capital, sempre inóspita aos novatos e especialmente hostil às jovens repletas de aspirações. Depois de ascender como atriz de teatro, ela vende tudo o que tem para realizar o seu grande sonho e fazer história no Cinema brasileiro. 

O longa em questão é totalmente centrado em Verberena e seu talento como diretora, roteirista, produtora e atriz, trazendo sua assinatura em todas as esferas de criação. Mesmo sendo o marco inicial de uma trajetória longeva findada com o seu falecimento em 1972, quando Cleo tinha 68 anos, O Mystério do Dominó Preto foi o único filme que ela dirigiu, pois a sua segunda produção (Canção do Destino, iniciada logo depois da primeira, ainda em 1931) não foi concluída. O seu projeto de vida, no entanto, foi continuado por todas as diretoras que vamos conhecer abaixo, seguindo vivo até hoje, pelo trabalho das mulheres que se inspiram pela ousadia de Verberena ao reivindicar o Cinema como a sua Arte.


Fotografia de Ana Carolina num set de gravação. A imagem mostra a cineasta sentada, atrás de uma câmera que manipula. Ela é uma mulher branca, de cabelos escuros ondulados e curtos, e olha para a direita, fora da imagem. Ana Carolina veste uma calça jeans azul e uma blusa azul, e apoia o rosto com a mão esquerda. Sua expressão é séria e pensativa. Ao fundo, existe um campo esverdeado e muitas pessoas ao seu redor.
Um dos nomes mais importantes não só para a história das mulheres no Cinema brasileiro como também para a história do Cinema documental no país, Ana Carolina foi a homenageada da 27ª edição do É Tudo Verdade, o maior festival de Cinema de não-ficção do mundo (Foto: Reprodução)

Ana Carolina por Raquel Dutra

Quando o assunto é o trabalho de mulheres no Cinema brasileiro, o nome daquela cujo olhar sempre prestou atenção na experiência feminina do nosso país é um dos mais sobressalentes. Ana Carolina Teixeira Soares precisou de apenas os seus dois primeiros nomes e o que havia essencialmente dentro de si para deixar sua marca na produção cinematográfica brasileira. É que sua linguagem audiovisual é ancorada pelo olhar crítico para a questão de gênero, perfeitamente visível em sua trilogia mais apreciada, composta por Mar de Rosas (1977), Das Tripas Coração (1982) e Sonho de Valsa (1987), cujo fio narrativo é o acompanhar das vivências femininas ao longo das etapas da vida (infância, adolescência e maturidade, respectivamente).

Para chegar em sua identidade ímpar, carregada de valor visual e riqueza intertextual, a paulistana nascida em 1945 começou trabalhando com nada mais nada menos do que a quintessência da Sétima Arte: o gênero documental. Em Lavra-dor (1967), ela se envolve com Cinema pela primeira vez, depois de passar pelas faculdades de Medicina e Ciências Sociais, como co-diretora e roteirista de Paulo Rufino. Então, em 1974 ela dirigiu seu primeiro longa, Getúlio Vargas, aos 20 anos da morte do ex-presidente, para encerrar a primeira fase de sua carreira e mergulhar na ficção.

Lá foi que a carreira de Ana Carolina deslanchou com apreço internacional: em 1978 ela participou do júri do Festival de Berlim, e depois estreou com seu filme de 1982 no Festival de Cannes. Com foco para a vida familiar e análises sociais da vida privada, ela recorre aos artifícios inteligentes do humor e da hipérbole e mergulha no psicológico de seus personagens, a fama de “a mais autoral cineasta brasileira” é mais do que justa para a primeira mulher que reproduziu a vastidão da mulher brasileira numa tela de Cinema.


Foto de Adélia Sampaio. Em frente a um fundo desfocado, vemos Adélia Sampaio do peito para cima. Ela é uma mulher negra, de cabelos grisalhos curtos e encaracolados, aparentando cerca de 70 anos. Ela usa óculos de grau marrom e quadrado, veste um paletó preto e um lenço vermelho no pescoço e tem seus braços levantados, com as mãos fazendo um gesto como se enquadrasse algo.
Como forma de democratizar e difundir suas produções, Adélia Sampaio disponibilizou algumas de suas obras em seu canal do YouTube (Foto: Criadoras Negras RS)

Adélia Sampaio por Vitória Lopes Gomez

O cinema é elitista. Chega uma preta, filha de empregada doméstica e quer fazer filmes? Claro que foi difícil.” “Difícil” sequer dá conta de definir o início da trajetória de Adélia Sampaio: quando criança, a futura cineasta mudou de cidade e foi separada da mãe à força, junto da irmã. Aos 18 anos, sofreu um grave ataque e perdas às vésperas do golpe militar de 1964, e, mais velha, viu o marido ser injustamente acusado e tornar-se um preso político durante a ditadura. Quase 20 anos depois, Amor Maldito mudou seu caminho. Apesar dos empecilhos para ser lançado, como todo filme à frente do seu tempo, o primeiro e único longa-metragem de Adélia até então a eternizou na história como a primeira mulher negra a dirigir um filme no Brasil.

O enredo do filme, de 1984, trata a relação romântica de duas mulheres. Quando uma delas comete suicídio, a outra é acusada e julgada como a principal suspeita da morte. Já nos anos 80, a diretora levou a discussão da homofobia às telas, em uma obra revolucionária tanto por seu conteúdo quanto pelos responsáveis pela sua concepção. Como qualquer produção transgressora, Amor Maldito foi recusado pela Embrafilme, produtora estatal brasileira, até mesmo depois de convites para exibição em festivais de Cinema no exterior. Resistindo, o filme foi lançado através de um sistema de cooperação entre os profissionais envolvidos e, para receber atenção do público, teve que ceder à propaganda das Pornochanchadas da época.

Mesmo assim, por mais revolucionários e transgressores que tenham sido, Adélia Sampaio, assim como Amor Maldito, só começou a ganhar o devido reconhecimento recentemente, após anos de racismo, apagamento e invisibildade. A cineasta trabalhou em outras áreas do Cinema desde o lançamento do filme e dirigiu documentários e curtas-metragens, mas passou um tempo afastada e retornou à Sétima Arte há pouco tempo. Em 2017, lançou seu curta O Mundo de Dentro e foi redescoberta. Desde então, Adélia é homenageada em eventos e festivais pela sua carreira e obra, inclusive na Mostra Lugar de Mulher É no Cinema, é frequentemente convidada para falar sobre sua trajetória e sobre sua influência como cineasta negra, e, quase 40 anos depois, é finalmente reconhecida como uma referência do Cinema brasileiro.


Fotografia da diretora Tizuka Yamasaki em set de direção. Ela é uma mulher de ascendência japonesa, com cabelos lisos escuros que estão na altura o ombro. Ela veste uma regata preta e óculos laranja. Tizuka esta atrás de uma câmera, falando com alguém enquanto gesticula suas orientações. Ela está virada para o lado direito da imagem.
Em 2000, Tizuka Yamasaki recebeu a Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura, uma homenagem do Governo para pessoas e instituições que se destacam em trabalhos prestados à cultura brasileira (Foto: Reprodução)

Tizuka Yamasaki por Vitor Evangelista

Filha e neta de imigrantes japoneses, Tizuka Yamasaki sempre sentiu um bloqueio cultural entre ela e o país em que nasceu. Foi apenas em 1980, quando escreveu e dirigiu Gaijin – Os Caminhos da Liberdade, que a cineasta conseguiu exercitar sua Arte e se entender com sua identidade. O filme, premiado com o grande louro no Festival de Gramado e dono de uma menção honrosa em Cannes, trata das dificuldades de imigrantes japoneses em uma fazenda de café no início do século XX.

Mas, antes de Gaijin, Yamasaki cursava Arquitetura na Universidade de Brasília. Quando a faculdade fechou, ela decidiu estudar Cinema na UFF. O resultado foi um encontro com Nelson Pereira dos Santos, com quem trabalhou na função de continuísta e fotógrafa em O Amuleto de Ogum (1974). Quatro anos mais tarde, fundou a produtora CPC, que bancou obras como Bar Esperança (Hugo Carvana), Rio Babilônia (Neville De Almeida) e Idade da Terra (último filme de Glauber Rocha). Em 83, comandou Parahyba Mulher Macho, retratando a vida da poetisa feminista Anaíde Beneriz. No ano seguinte, uniu ficção e documentário na confecção de Patriamada, filme que se mescla à História por ter sido captado em meio aos protestos das Diretas Já. 

Entre 89 e 90, pulou para as telinhas com Kananga do Japão, novela precursora em borrar a linha entre a TV e o Cinema. E foi a partir da década de noventa que Yamasaki passou a comandar obras voltadas para o público infantil, com destaque para Lua de Cristal, estreia de Xuxa no meio cinematográfico. Seja estudando as relações dos imigrantes em um Brasil em ebulição, seja emprestando sua visão para a Rainha dos Baixinhos brilhar entre mágicas, a obra e a Arte de Tizuka Yamasaki, hoje no auge de seus 73 anos, permanecem relevantes e dignas de celebração, por mais que seu currículo recente mostre uma ou outra produção televisiva, longe do reconhecimento e da adoração que são suas por direito.


 Selfie tirada pela cineasta Larissa Ye`padiho Duarte Tukano, mulher indígena do povo Tukano. Ela olha diretamente para câmera e sorri sem mostrar os dentes enquanto segura uma câmera fotográfica. Ela veste uma camiseta na cor cinza e está numa paisagem com o Rio Negro desfocado.
Em 2027, Larissa Ye`padiho Duarte Tukano, diretora indígena do Alto Rio Negro, participou do sexto festival de cinema indígena, Cine Kurumin, com seu primeiro curta-metragem, Wehsé Darasé – Trabalho da Roça (Foto: Larissa Ye`padiho Duarte Tukano)

Larissa Ye’padiho Duarte Tukano por Letícia Ramalho

Larissa Ye`padiho Duarte Tukano é uma mulher indígena do povo Tukano, da região do Alto do Rio Negro, perto de São Gabriel da Cachoeira, a cidade com maior concentração de indígenas do Brasil, localizada do Amazonas. Sendo seu pai uma liderança do povo Tukano, Larissa cresceu no meio das discussões e lutas para que a terra no Alto Rio Negro fosse área protegida demarcada, dessa forma, ela diz que amadureceu conhecendo os mundos e sendo ensinada a não desistir de sua cultura indígena para viver uma não-indígena. 

Por meio de suas obras, Larissa busca trazer reflexões a respeito das mudanças culturais, esquecimentos e absorções que os jovens indígenas estão sofrendo em contato com as cidades. Filma em destaque as mulheres porque, de acordo com sua experiência, as mulheres indígenas sofrem as opressões e violências das relações machistas nas aldeias, porém dentro das casas, elas dominam e direcionam os homens com seus conhecimentos e sabedorias. A jovem se dedica a resgatar e valorizar a cultura de roça, a pintura e a arte Tukano, bem como a língua nativa de seu povo, que está presente na narração de seu primeiro trabalho audiovisual.

A cineasta começou sua atuação na área por volta de 2015, depois de participar da Oficina de Audiovisual pera Salvaguarda do Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro, promovida pela Foirn. Wehsé Darasé – Trabalho da Roça foi seu primeiro documentário. O curta-metragem, lançado em 2016, apresenta a vida cotidiana de sua família, em especial a relação das mulheres mais velhas com as mais novas em torno do trabalho na roça, que exige atravessar rios e a mata densa da floresta amazônica e uma jornada de trabalho intenso para colheita, descasque, ralação, entre outras etapas para o preparo da maneva, também conhecida como mandioca. “Quando eu filmei o trabalho da roça, eu não estava só filmando o espaço físico, entende? A maneva, a terra, a senhora. É toda cosmologia envolvida dentro desse filme”, relatou a diretora para o Itaú Cultural.


Fotografia da cineasta Julia Katharine recebendo o Prêmio Helena Ignez. A imagem a mostra à direita, na frente de uma projeção do prêmio. Julia é uma mulher branca, de cabelos lisos castanhos, e usa roupas pretas. Ela segura o prêmio com as mãos e sorri levemente para frente.
Em 2018, Julia Katharine foi a primeira mulher trans a receber o prêmio Helena Ignez, entregue anualmente pela Mostra de Cinema de Tiradentes com o objetivo de destacar o trabalho das mulheres no Cinema brasileiro (Foto: Reprodução)

Julia Katherine por Raquel Dutra

Desde o início da história das mulheres no Cinema brasileiro, quase 100 anos se passaram até que as nossas telas recebessem o primeiro filme assinado por uma diretora trans. O marco se deu com Julia Katharine e o curta Tea For Two, que estreou no nosso circuito comercial em fevereiro de 2019 apresentando uma história semi-autobiográfica com foco para um relacionamento entre duas mulheres. Antes, ela protagonizou e roteirizou Lembro Mais dos Corvos (2019), de seu amigo de longa data Gustavo Vinagre, o que inaugurou oficialmente sua carreira no Cinema.

A experiência só confirmou a aspiração que a cineasta sempre teve em seu coração. O primeiro envolvimento da paulistana autodidata nascida em 1977 com o Cinema foi uma figuração em O Crime Delicado (2006, de Beto Brant). Então, idas e vindas a levaram até para fora do Brasil antes de definitivamente realizar um filme seu, por incentivo do seu círculo de amizades e com o apoio de editais de incentivo à Cultura.

Esse, aliás, é o aspecto que Julia mais destaca quando perguntada em entrevistas sobre temas relacionados à representatividade e a presença das mulheres trans na produção audiovisual brasileira. De frente com a produção do seu primeiro longa-metragem, ela não deixa ninguém desistir: “É o momento de resistir, de seguir em frente e de buscar novas formas de fazer cinema. Criarmos redes de apoio, de acolhimento, para que a gente possa ajudar umas às outras a suportar (…)”.

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