Gabriela Bita
O anúncio de adaptação de uma obra literária para as telas é algo que deixa muitos fãs apreensivos. A aposta da Amazon Studios em Vermelho, Branco e Sangue Azul permitiu que os admiradores do livro homônimo – escrito por Casey McQuiston – respirassem, de certa forma, aliviados ao verem seus queridos personagens ganhando vida. Em pouco menos de duas horas, o filme reconta a história de 392 páginas de Alex Claremont-Diaz e o príncipe Henry.
Na trama, Alex (Taylor Zakhar Perez) é filho da presidente dos Estados Unidos e queridinho da mídia americana, enquanto Henry (Nicholas Galitzine) é um dos príncipes da Inglaterra – amado não só por sua nação, mas também pelo mundo todo – e ambos não se suportam. Após um desastre no casamento do irmão mais velho do membro da realeza, que incluiu um bolo milionário sendo destruído, os jovens precisam manter as aparências para o público e fingir que são amigos de longa data. Conforme se aproximam, a mágoa e ressentimento entre os dois dá lugar a um sentimento novo, confuso e intenso, que pode pôr em jogo a reeleição da mãe de Alex e a vida do príncipe britânico na conservadora corte.
Apesar de ser impossível abordar cada um dos pequenos detalhes explorados por McQuiston nas páginas nesse tipo de produção audiovisual, o longa passa a verdadeira essência da narrativa original apenas na sua segunda metade. Durante toda a primeira hora, o roteiro de Matthew López, Casey McQuiston e Ted Malawer parece vagar perdidamente por entre a ambientação e os personagens. Todos os acontecimentos do período são desenvolvidos com uma rapidez desfavorável para a trama e tentativa de alcançar uma dinamicidade para o denso romance acaba fracassando.
Já no início da segunda hora, é possível perceber a presença de uma maior profundidade no desenvolvimento da história, ainda que a sensação de pressa permaneça. López acerta na ambientação projetada para a comédia romântica, garantindo que um sentimento de familiaridade seja captada pelo público através de toda a caracterização e elementos visuais que parecem ter sido minuciosamente retirados das descrições feitas por McQuiston em seu livro. Dessa forma, é possível perceber que a fidelidade à essência da obra adaptada é mantida.
Através de Taylor Zakhar Perez e Nicholas Galitzine, McQuiston vê Alex e Henry criando vida e conquistando o público novamente. Perez absorve a personalidade de Claremont-Diaz com maestria e realmente dá vida ao filho da presidente dos Estados Unidos. Contudo, mesmo com sua atuação excelente, Galitzine, infelizmente, não fez jus ao príncipe da Inglaterra. Ao contrário de seu par romântico, o ator não parecia estar totalmente imerso e em sincronia com a essência de Henry.
No entanto, a química entre os protagonistas é um ponto que não se pode negar. Quando juntos, Perez e Galitzine fazem a temperatura de qualquer ambiente aumentar e garantem que pelo menos a paixão proibida e avassaladora entre os jovens seja representada com êxito. Em união, os dois formam um casal perfeito para comédias românticas e são certeiros em encenar os pequenos detalhes que demonstram o amor nascendo gradualmente entre eles, até que ambos estejam ardendo um pelo outro.
Outro ponto positivo da adaptação é a sensibilidade na produção das cenas de intimidade entre os rapazes. Tanto López quanto as figuras principais do elenco abordam a questão com maturidade e responsabilidade, o que reflete em um tom leve para toda a trama, especialmente para os momentos em que os amantes estão a sós. Após alcançar um equilíbrio e uma dinamicidade para a obra, o trânsito entre o cômico e o sensível se demonstra um ponto forte e bem trabalhado, convergindo com a literatura da qual é adaptada. É realmente uma pena que tal tom leve mais da metade do filme para ser estabelecido.
A trilha sonora de Vermelho, Branco e Sangue Azul é um dos pontos fortes da produção. A parte instrumental, composta por Drum & Lace, finaliza o ambiente e materializa os sentimentos e o íntimo dos personagens, tal qual externalizados pela escrita de McQuiston. Além disso, agradando a todos os gostos – de Queen a Bad Bunny – músicas de diversos outros artistas são incluídas de modo certeiro durante todo o longa.
Apesar de possuir pontos fracos, o resultado da adaptação de Vermelho, Branco e Sangue Azul é um filme divertido e que acalenta o coração. Considerando o tempo limitado da produção e a extensa quantidade de páginas da obra original, o trabalho foi bem realizado por toda a equipe e, mesmo que alguns personagens, cenas e diálogos façam falta, Alex e Henry continuam fazendo História.