Marcela Franco
As produções audiovisuais voltadas para o esporte estão em alta. A série documental Arremesso Final, que narra a trajetória esportiva do astro do basquete Michael Jornal, comprova tal fato. O seriado foi assistido por mais de 23 milhões de usuários da Netflix fora dos Estados Unidos com apenas um mês de exibição no catálogo do streaming. Outros sucessos contam com F1: Dirigir para Viver e o documentário premiado no Oscar 2018, Ícaro. Assim como essas produções, The English Game leva as emoções do esporte, mas de maneira branda para dar espaço a uma outra premissa.
Lançada em março de 2020 pela Netflix, a minissérie britânica conta com seis capítulos. Indo além do futebol ao trazer um enredo baseado em fatos reais marcado pela luta de classes entre os operários e a elite do sul da Inglaterra. A produção, idealizada pelo já experiente Julian Fellowes, o mesmo criador de Downton Abbey, conta a história das origens do futebol moderno.
A trama tem início no ano de 1879 com a chegada de dois jogadores escoceses Fergus Suter (Kevin Guthrie) e Jimmy Love (James Harkness) à cidade de Darwen, localizada no norte da Inglaterra. Os jovens foram convidados pelo dono do Darwen FC, James Walsh (Craig Parkinson) para jogarem sendo pagos. Walsh acreditava que os dois jovens fariam história ao levar o título da Copa da Inglaterra pela primeira vez a um time de operários.
Jimmy e Suter, no entanto, não são bem recebidos pelos membros ricos da comissão da Copa da Inglaterra, jogadores do time rival Old Etonians. Na época, o futebol era considerado um jogo de cavalheiros e as regras não permitiam que os jogadores fossem pagos para jogar. Dentro de campo, o conflito é marcado pelos jogos da Copa da Inglaterra e pela discussão entre os jogadores da classe alta sobre a profissionalização do esporte.
Mas quem pensa que a minissérie transmite grandes cenas das partidas pode se decepcionar. As filmagens dos jogos não conseguem criar uma sequência de lances que convença ao público, sendo os goleiros os personagens que mais sofrem com o recorte.
Contudo, o enredo sobre os primórdios do futebol retratados na produção são, de fato, atraentes para os fãs do esporte. A minissérie conta com referências de momentos históricos diferentes, como mudanças técnicas, paixão dos torcedores, propagandas nos estádios, hooligans, ingressos para a partida e negociação entre clubes por jogadores, de uma forma bem executada.
Em The English Game, o desenrolar da competição acaba ficando em segundo plano para o tratamento das desigualdades sociais da época. O problema ultrapassa as quatro linhas para falar da luta de classes marcada pelos conflitos entre os trabalhadores e os donos da fábrica de algodão da cidade inglesa no final do século XIX. As cenas da minissérie mostram as condições precárias e as grandes jornadas de trabalho da população da Inglaterra.
Se, por um lado, a produção não conseguiu transmitir grandes emoções dentro dos gramados, fora deles esse elemento é marcado pelas histórias paralelas da trama. Podemos acompanhar a evolução dos personagens a cada episódio; caráter, romance e coragem são alguns dos pontos desenvolvidos por Julian Fellowes na produção.
The English Game uniu futebol e luta de classes, fatos reais e histórias fictícias, tudo para criar uma típica minissérie de época em que os espectadores podem aprender sobre o passado. Para os fãs do esporte, é interessante notar as mudanças das regras e no estilo de jogo. Já os amantes do audiovisual poderão aproveitar uma narrativa envolvente e com um belo desfecho para todo o público.