Isabella Lima
“Sinceridade não pode ser fabricada; a sinceridade de cada integrante do BTS é sedimento de suas provações, tribulações, tristezas, medos e esperanças a partir de suas próprias experiências vividas”, afirmou Jiyoung Lee em seu livro BTS Art Revolution, sobre o grupo de K-pop que conquistou, e ainda conquista, fãs leais ao redor do mundo. O legado de RM, Jin, SUGA, J-hope, Jimin, V e Jungkook é incontestável; sete rapazes de um pequeno país asiático que foram capazes de quebrar diversas barreiras linguísticas dentro da indústria da Música. O septeto, que iniciou a carreira em 2013, pode até ter anunciado uma pausa na carreira como grupo, mas seus trabalhos solos estão proporcionando aos fãs do BTS, conhecidos como ARMYs, verdadeiras obras musicais. Entre elas, encontramos os projetos de Min Yoongi, que se denomina como SUGA dentro do grupo, porém, quando em carreira solo, é conhecido por Agust D.
Apesar de ser a mesma pessoa, o cantor utilizou os nomes fictícios para explorar todo o seu potencial artístico, seja em equipe ou sozinho. O pseudônimo Agust D não é estreante no cenário musical: suas letras combativas, carregadas de rap e críticas são a marca registrada do artista desde 2016, quando lançou o seu primeiro projeto solo intitulado Agust D. Em 2020, a segunda parte da sua jornada chegou com o nome D-2, e agora, em 2023, conhecemos o capítulo mais recente dessa história: o álbum D-DAY, que além de dois videoclipes inéditos, também ganhou um documentário no Disney+, SUGA: Road to the D-DAY.
O filme explora o processo de produção do projeto mais recente do cantor, além de abordar suas principais questões criativas. Yoongi sempre foi conhecido por ser um dos membros mais introvertidos do BTS, algo que o ajuda a expor com sinceridade a carga emocional das letras que escreve. Porém, logo no início do documentário, um ponto essencial é trazido pelo próprio artista: a despedida dos seus 20 anos e a chegada dos 30. Isso é algo que faz com ele se pergunte o que ainda pode retratar em suas canções. “Minhas histórias acabaram, mas preciso contar uma”, revela durante a filmagem, mostrando a dificuldade de entender a fase adulta quando se é alguém que atingiu tantos sonhos ainda tão jovem. Em meio a esse contexto, o artista oferece reflexões valiosas misturadas com momentos musicais em um estilo grunge e rock star.
Aprendemos, ou melhor, relembramos com Min Yoongi que o processo criativo não é uma linha reta. A autocobrança está presente na vida de muitas pessoas e para ele não é diferente. O rapper comenta com muita sinceridade sobre suas preocupações e medos para seu novo disco. Da mesma forma que atualmente as informações chegam extremamente rápido, os produtos musicais também são consumidos de maneira acelerada, o que gera uma ansiedade e pressão nos artistas para atingir a hiperprodução. Apesar dessa espiral de pensamentos, Suga mostra que o caminho para a criatividade não é, e nem precisa ser, linear. Algumas músicas do D-DAY, como Haegeum e AMYGDALA, por exemplo, tiveram suas primeiras versões criadas em 2020, mas só foram efetivamente lançadas agora.
Além disso, quem nunca teve um bloqueio criativo? Eles existem e está tudo bem pedir ajuda, isso não descredibiliza todo nosso esforço. Em Junho de 2022, Agust D viu a composição do seu novo álbum chegar a um beco sem saída. A maneira como ele decidiu passar por essa situação foi, justamente, saindo da rotina e, o mais importante, pedindo ajuda. Para isso, ele reuniu um time de compositores em PyeongChang, interior da Coreia do Sul, onde foi gravada a segunda temporada de BTS In The Soop. Neste momento, o documentário acompanha a reunião da equipe, mostrando que um processo difícil para apenas uma pessoa se tornou um momento de descontração e trabalho na medida certa quando feito em grupo. Suga ainda comenta que, quando se junta com outras pessoas, pode passar 12 ou 13 horas trabalhando, mas sempre acaba sendo uma construção mais divertida e menos solitária.
Aqui também percebemos a importância de sempre se lembrar das nossas motivações pessoais. Uma das partes mais emocionantes de SUGA: Road to the D-DAY se passa no Japão, quando Suga tem a oportunidade de conhecer um dos seus ídolos de infância, o produtor, compositor e vencedor do Oscar Ryuichi Sakamoto. Quando pequeno, Yoongi assistiu ao filme O Último Imperador e desde então as composições de Sakamoto o inspiraram a ser músico. As reflexões que leva para essa conversa são focadas em entender como se manter motivado dentro da sua profissão, uma vez que ele já faz música há 17 anos e muitas vezes se sente cansado e até cogita parar. Para Ryuichi, com seus 70 anos de experiência, a composição deve ser interpretada como uma escada infinita, uma vez que, quando um artista fica 100% satisfeito com a sua obra, é o fim do seu propósito.
No fim, Agust D e seu documentário cumprem com o propósito de transmitir um valor muito importante: a vulnerabilidade. É admirável como enxergar e sentir os momentos difíceis de uma celebridade pode a aproximar do seu público prioritário, os seus fãs. Suga expõe suas dores, dificuldades e ansiedades na esperança de que isso possa acalentar outras pessoas. Todos esses fatores fazem SUGA: Road to D-DAY ser equivalente a um daqueles abraços que buscam dizer que tudo vai ficar bem. O artista, que iniciou a jornada do seu novo álbum sem saber qual narrativa explorar, finaliza revelando: “Quais você acha que são as chances da chegada de um futuro totalmente controlável? Há uma grande chance do futuro que você teme nunca acontecer. Essa é a história que eu queria compartilhar com vocês (…) Quero compartilhar histórias que tenham foco no presente”.