Gabriel Fonseca
Rede de Ódio (Hejter) é um drama político que se propõe a mostrar como o medo e o preconceito podem se espalhar com facilidade pelas redes sociais. O longa polonês foi dirigido por Jan Komosa e chegou ao catálogo brasileiro da Netflix no final de julho. Nele, acompanhamos a história de Tomasz Giemza, interpretado por Maciej Musiałowski, um jovem frustrado que descobre a sua vocação em arruinar reputações através de informações e notícias falsas na internet, uma espécie de marketing inverso.
Inicialmente, a trama se baseia na proximidade entre Tomasz e a família Krasucki. Descobrimos que ele é expulso da faculdade por plágio e somos introduzidos à sua relação com os “tios”, que financiam seus estudos enquanto um embate político acontece em Varsóvia. Ao descobrir que é menosprezado pelo casal e sua filha, Gabi (Vanessa Aleksander), o rapaz sente um impulso de vingança simultâneo ao desejo de ser aceito. À partir daí, suas ações são motivadas pela vontade de se aproximar de Gabi e se provar à família.
Enquanto isso, somos apresentados à capital polonesa, onde uma onda de manifestações conservadoras emerge sob a premissa de combater os supostos inimigos da Europa: homossexuais, imigrantes e muçulmanos. Este universo é retratado por protestos com bandeiras de supremacia branca e a promoção da violência como arma para frear a imigração, ambos intensificados nas redes por declarações alarmistas de grupos que veem seu estilo de vida ameaçado. É por um acaso que este conflito se choca com o jovem protagonista, que começa a trabalhar em uma empresa que destrói imagens sociais e o direciona contra Rudnik, o candidato progressista que disputa o cargo de prefeito de Varsóvia e que é financiado pelos Krasuckis.
Os elementos desta narrativa parecem caminhar isolados até que Tomasz é rejeitado pela família mais uma vez, o que o leva a unificar motivação pessoal e trabalho: atingir a campanha de Rudnik significa atingir Zofia (Danuta Stenka) e Robert Krasucki (Jacek Koman). Então, vemos a transformação do protagonista, que assume o seu cinismo para mergulhar em decadência. Toda a ação passa a se concentrar no seu personagem e Maciej Musiałowski eleva o nível de sua performance, exibindo plasticidade e emoção persuasivamente.
Em Rede de Ódio, Komosa retoma a parceria com o roteirista de sua obra anterior, Corpus Christi, indicado ao Oscar de 2020 na categoria de Melhor Filme Internacional, prêmio que foi para Parasita (2019). Mateusz Pacewicz é simples com seu roteiro, ele determina todas as condições para desenvolvê-las em seguida. As peças são dadas ao espectador logo no começo, com a demonstração das personalidades, o conflito familiar e a tensão política que infla a cidade. Depois, estas peças se amarram e uma nova expectativa é criada, queremos descobrir o que Tomasz está planejando, mas já pressentimos a fatalidade.
O diálogo tem um papel fundamental nas ações e na montagem, funcionando nos momentos em que revela os personagens e na maneira como direciona as cenas, amarrando sequências e determinando o ritmo da narrativa. A música também é um recurso bem utilizado, se tornando perceptível quando é conveniente, principalmente quando faz parte do ambiente, como nas cenas em casas noturnas e no desfecho desta história, cujo horror explicitado visualmente se entrelaça à música clássica, como um anúncio de sua tragédia.
Rede de Ódio nos mostra como é fácil converter a dor e o sofrimento em destruição pelas redes sociais, mesmo quando fazemos isto de forma anônima. O longa não tem uma abordagem pessimista sobre a tecnologia, como acontece constantemente em Black Mirror, mas explora a dimensão e o alcance que ela nos oferece quando o assunto é influenciar negativamente. Ao fim de seu esforço por vingança, Tomasz Giemza não é responsabilizado pelos danos causados.