Giovana Guarizo
Seguir uma jornada interior, se conhecer, voltar o foco para si mesma e, em algum momento, estar pronta para compartilhar sua verdadeira essência com o mundo. Abrir as asas e voar. Esses são os processos para a transformação de uma borboleta, animal escolhido por Selena Gomez para representar Rare, seu novo álbum. Carregado de mensagens positivas, o disco traz relevância a respeito do empoderamento feminino, saúde mental, autenticidade e superação.
Ao contrário do que fez em Revival, Selena permaneceu em sua zona de conforto e não se desafiou nesta nova era. Com uma capa simples (e talvez feita no PicsArt), a cantora manteve seu tom de voz e deixou de lado notas muito elevadas. Transformou Rare em um espelho que reflete exatamente quem ela é, e em que lugar ela se encontra agora, tanto na música quanto consigo mesma.
Para libertar os fãs após quatro anos de espera e dar início ao tão aguardado SG2, dois singles foram lançados: a balada Lose You To Love Me e a dançante Look At Her Now (essa segunda faixa como uma surpresa). O carro-chefe do disco, e primeiro #1 da carreira na Billboard Hot 100, é um seguimento de The Heart Wants What It Wants, de 2014, onde Selena se sentia triste e insuficiente. O primeiro single dessa nova era veio como uma luz e canção de cura, em que a cantora descreve seu coração, como se sentiu em um relacionamento abusivo e como está se despedindo desse sentimento, por finalmente conseguir se amar.
Já Look At Her Now é o oposto. Apesar de um tanto genérica, a música é animada e perfeita para dançar sozinha em casa ou com os amigos em uma festa. O clipe é todo brilhante e colorido, em contraposição ao preto e branco de Lose You To Love Me. Essa é a parte divertida do álbum, trazer músicas para dançar, como ela também faz em Let me Get Me e Dance Again. Ambas canções dão lição de empoderamento e Dance Again vem para se consagrar a chiclete do álbum. Um tanto quanto calorosa, não é possível ouvir a música apenas uma vez.
Faixa mais ‘inteligente’ de Rare, People You Know transmite a potência musical de Selena e do porque ela faz o que faz. A música se eleva munida de uma letra elaborada e ritmo proveitoso, se tornando, em meio a tantas parecidas entre si, a mais diferente do álbum, agradando até mesmo os que não são fãs da texana.
Selena preferiu um álbum mais independente e com apenas dois feats. Além da sexy Crowded Room em parceria com o rapper 6LACK, a cantora incluiu ao álbum a tão aclamada A Sweeter Place, com Kid Cudi. A junção da voz dos dois nos dá a sensação de se estar realmente em um lugar mais doce.
Assim como Taylor Swift fez em 1989 e Tove Lo em seu Sunshine Kitty, Selena também explorou uma pegada anos 80 em algumas músicas dessa sua nova fase. A canção título do álbum, Rare, e a delicada e igualmente pesada Vulnerable são exemplos dessa vibe do passado. Além disso, todo o conceito do SG2 foi baseado em fotos tiradas com uma Polaroid.
Para finalizar essa fase de lançamento, um dia depois do álbum a cantora liberou o clipe da música Rare. Etéreo, diferenciado e um tanto quanto psicodélico, o vídeo faz transparecer o símbolo da borboleta no meio de uma floresta colorida. Um trabalho audiovisual lindo e astuto, mesmo com Selena não inovando no quesito performance, deixando fãs esperando por mais.
Em meio a altos e baixos na vida da texana, ela conseguiu lançar um disco encantador, inspirador e do qual se orgulha. Com uma voz calma e às vezes anestésica, as músicas genéricas ficaram pequenas diante das mensagens de cura e esperança nas treze faixas lançadas. O foco na simplicidade e na identificação foram os pontos principais do SG2, desde a capa até os figurinos.
Esse álbum é o trabalho mais doce, pessoal, sincero e transparente que Selena já fez, tendo como objetivo fazer os fãs se identificarem com os acontecimentos de sua vida e torná-lo o álbum de cada um. Liberdade criativa, empoderamento e autoaceitação. Mulher do ano pela Billboard em 2017 e lutando contra o lúpus e a ansiedade, Selena atingiu seu objetivo com Rare e mostrou que sua zona de conforto talvez seja o lugar em que ela queira estar.
De fato, as borboletas parecem ser animais mensageiros.