O Planeta Silencioso fala demais e não diz a que veio

Cena de O Planeta Silencioso. Nela, vemos Theodore, um homem branco de meia idade e Niyya, uma mulher negra. Eles vestem um macacão amarelo. Os dois carregam um carrinho de mão e estão em um ambiente composto por pedras.
Longa fez sua estreia em terras brasileiras através da Perspectiva Internacional na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Good Movies)

Guilherme Veiga

Quando o Dr. Manhattan está farto da humanidade, ele adota Marte como sua nova terra e divaga sobre a vida e o universo em toda sua divindade no silêncio da atmosfera marciana. Sem todo o complexo de Deus, o diretor Jeffrey St. Jules disse, em exibição de O Planeta Silencioso na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que o filme “é um sonho de infância, de imaginar um lugar totalmente vasto e novo para explorar”. Mas entre pensar e executar, há um abismo ainda mais vasto.

O longa, dividido entre vários capítulos, centra sua história em Theodore (Elias Koteas), um humano que vive em um futuro não tão próximo e foi condenado a passar sua vida minerando em um planeta completamente vazio, com somente sua cápsula e paisagens muito bem filmadas. As coisas mudam quando ele é dado como morto, sendo enviada outra prisioneira, Niyya (Briana Middleton), também humana, mas que foi adotada por uma raça alienígena e, por isso, se considera desse povo. O caos começa a reinar quando eles tentam contato e passam a duvidar de si próprio e do outro.

Cena de O Planeta Silencioso. Nela. Vemos Theodore, um homem branco de barba branca. Ele veste um macacão amarelo e uma touca preta. Ele esta olhando para o lado e ao fundo há uma pedreira e um lago
Em uma terra inóspita duvidamos de tudo, até de nós mesmos (Foto: Good Movies)

O longa até sabe usar bem alguns conceitos da ficção científica. A premissa de um monstro típico do horror cósmico – uma névoa que bagunça nossos pensamentos – é, de fato, bem estiloso, mas, assim como tudo que a produção busca trabalhar, se perde na imensidão e vastidão que a ideia se propôs, não conseguindo adentrar nem a sua própria atmosfera.

Por sorte, a dupla de atores composta por Elias Koteas (Chicago P.D.) e Briana Middleton (Bar Doce Lar) conseguem entregar atuações concisas – mesmo o roteiro sendo terrivelmente expositivo –, e nos dão vislumbres de todo o potencial que aquilo poderia ter. A dinâmica dos dois, às vezes, lembra O Farol (2019); suas espacialidades e senso de movimentação e localização nos trazem realmente para um planeta que não é a Terra.

Cena de O Planeta Silencioso. Nela vemos Niyya, uma mulher negra. Ele veste uma camiseta de manga longa cinza e uma calça cinza. Ele está em uma nova,olhando para fora pela janela.
Em uma terra inóspita duvidamos de tudo, até de nós mesmos (Foto: Good Movies)

O Planeta Silencioso parece mais um episódio de Black Mirror. O baixo orçamento, que até poderia dar um charme, faz com que se assemelhe a tecnologia escrachada da série, e a execução é similar ao dos piores anos da antologia. No ímpeto de ser um ficção científica, ele peca não obedecendo uma de suas leis primordiais: não deixa exercitarmos a imaginação, pois fala quando não é preciso, e quando precisamos de resposta, cala, consentindo que é um filme sem profundidade.

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