Guilherme Veiga
Quando o Dr. Manhattan está farto da humanidade, ele adota Marte como sua nova terra e divaga sobre a vida e o universo em toda sua divindade no silêncio da atmosfera marciana. Sem todo o complexo de Deus, o diretor Jeffrey St. Jules disse, em exibição de O Planeta Silencioso na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que o filme “é um sonho de infância, de imaginar um lugar totalmente vasto e novo para explorar”. Mas entre pensar e executar, há um abismo ainda mais vasto.
O longa, dividido entre vários capítulos, centra sua história em Theodore (Elias Koteas), um humano que vive em um futuro não tão próximo e foi condenado a passar sua vida minerando em um planeta completamente vazio, com somente sua cápsula e paisagens muito bem filmadas. As coisas mudam quando ele é dado como morto, sendo enviada outra prisioneira, Niyya (Briana Middleton), também humana, mas que foi adotada por uma raça alienígena e, por isso, se considera desse povo. O caos começa a reinar quando eles tentam contato e passam a duvidar de si próprio e do outro.
O longa até sabe usar bem alguns conceitos da ficção científica. A premissa de um monstro típico do horror cósmico – uma névoa que bagunça nossos pensamentos – é, de fato, bem estiloso, mas, assim como tudo que a produção busca trabalhar, se perde na imensidão e vastidão que a ideia se propôs, não conseguindo adentrar nem a sua própria atmosfera.
Por sorte, a dupla de atores composta por Elias Koteas (Chicago P.D.) e Briana Middleton (Bar Doce Lar) conseguem entregar atuações concisas – mesmo o roteiro sendo terrivelmente expositivo –, e nos dão vislumbres de todo o potencial que aquilo poderia ter. A dinâmica dos dois, às vezes, lembra O Farol (2019); suas espacialidades e senso de movimentação e localização nos trazem realmente para um planeta que não é a Terra.
O Planeta Silencioso parece mais um episódio de Black Mirror. O baixo orçamento, que até poderia dar um charme, faz com que se assemelhe a tecnologia escrachada da série, e a execução é similar ao dos piores anos da antologia. No ímpeto de ser um ficção científica, ele peca não obedecendo uma de suas leis primordiais: não deixa exercitarmos a imaginação, pois fala quando não é preciso, e quando precisamos de resposta, cala, consentindo que é um filme sem profundidade.