Melhores discos de Agosto/2018

Young, gifted and black (Divulgação)

Carlos Botelho, Egberto Santana Nunes e Leonardo Santana

Dos nossos escolhidos do mês, todos de alguma forma se relacionam  com Aretha Franklin. Fica provado o que já era óbvio: a Rainha do Soul nos deixou, mas o legado permanece fortíssimo.

Ariana Grande – Sweetener

pop

Vida nova. No novo disco, Ariana Grande deixa para trás fantasmas do passado e entrega seu trabalho mais apaixonado. Mensagens de esperança se entrelaçam com momentos de descoberta amorosa (vide a impecável R.E.M., descartada por Beyoncé), trilhando um discurso coeso como nunca antes na curta carreira da cantora.

As produções de Pharrel Williams brilham com melodias inusitadas, dando a luz aos momentos mais satisfatórios do LP. O pop imediato também dá o ar da graça, ainda que bem mais contido do que em hits anteriores. Promete ficar na cabeça por muito tempo. (LS)


Blood Orange – Negro Swan
r&b

Racismo e gênero sempre foram parte importante da poesia de Dev Hynes. Seu novo registro não é exceção. Aqui, o produtor britânico analisa os efeitos de traumas passados na construção de sua negritude. Evolução orgânica do processo confessional que vem fazendo desde a estreia de Blood Orange, o disco carrega reflexões complexas demais para serem entendidas de primeira. E ainda rende uma experiência nova a cada audição.

A produção segue impecável. Hynes é responsável por todos os aspectos de sua música e, no terceiro disco, já demonstra que coesão é figurinha carimbada em sua discografia. A fusão de r&b com uma hipnose de sintetizadores faz lembrar dos melhores momentos da música negra oitentista. Ao passo que a voz de Devonté soa mais visceral do que nunca. (LS)


Pure EP – Diana Gordon
r&b

O currículo de Diana impressiona: ela já compôs para nomes como Mary J. Blige e Fergie, além de ter créditos em três faixas da limonada de Beyoncé. O tom espontâneo das letras da americana serve muito bem a grandes lançamentos pop, mas também permite que ela brilhe por sua própria glória no trabalho que abre sua carreira.

Aconchegante como memórias de infância, o EP se inspira no poder das raízes familiares na construção de suas narrativas. Da infância ao início de juventude, a cantora rasga memórias e cenários que influenciaram seu amadurecimento. E, ainda que não adicione nada de novo ao gênero, é um esforço sincero e promissor para Gordon. Esperamos ansiosos pelo que vem por aí. (LS)


Mahmundi – Para Dias Ruins

r&b, soul

A missão de Marcela Vale nesse mundo parece ser a de aquecer a alma de quem a ouve. E é exatamente essa a premissa de seu terceiro LP. Para Dias Ruins é uma antologia de confissões aconchegantes sobre amor e intimidade, amarradas pela produção noventista, que acomoda muito bem o timbre da intérprete. (LS)


Mitski – Be the Cowboy

rock, singer-songwriter

Desde seu primeiro álbum de estúdio, em 2014, Mitski prima por suas composições. No aguardado Be The Cowboy não poderia ser diferente. Nele a cantora embarca em uma jornada solitária e profunda pelos seus sentimentos, trazendo a tona complexidade lírica que contrasta com a simplicidade e sofisticação dos arranjos.

O registro deixa de lado as distorções de guitarra que caracterizaram o antecessor Puberty 2 (2016) e mostra um lado mais refinado da artista, além de uma evolução natural da sonoridade antes construída. A finesse da produção funciona como suporte para o existencialismo dos temas tratados e o resultado é uma coletânea de músicas muitas vezes dolorosas, mas extremamente sinceras no que diz respeito a autoanálise das emoções. (CB)


Potyguara Garbo – Simulacre

mpb, pop

Potyguara ingeriu um cogumelo alucinógeno e ficou doidona. É dentre insanidades sexuais e reflexivas que a drag exibe sua teatricalidade, em uma das estreias mais divertidas do ano. As inspirações aqui vão longe: do mangue beat ao funk carioca, dando uma parada na house music e no techno.

Mas a cantora nunca perde a mão. O que dá liga à mistura é o conceito temático da tracklist, que narra os delírios psicodélicos de Garbo através de diversos aspectos do imaginário underground brasileiro. Referências hilárias, com o gemidão do zap sampleado na dançante Mamma Mia, valem o repeat. (LS)


Travis Scott – Astroworld

rap

O parque de diversão de Travis é longo, mas não enjoa. É fato que está sendo comum nesse ano álbuns de rap com 1 hora de duração, o que torna às vezes difícil de repetir e engolir. Mas nas 17 faixas de Astroworld, o tempo não passa e a energia não acaba. Assim como provavelmente o real parque que o título presta homenagem.

O vocal elétrico de Jacques combina perfeitamente com o trap constante das produções, mas não esgota aí, com direito a toques experimentais e uma triste gaita na viagem mais tensa em Stop Trying to be God. No final da montanha-russa ou da chapação, Coffe Bean vem como a música mais pessoal e introspectiva do disco, abrindo os versos sobre seu relacionamento com Kylie Jenner e as Kardashians. Sem dúvida, um ótimo trampo para balançar a cabeça e relaxar sem ter faltado no Proerd. (ES)


Troye Sivan – Bloom

pop

As referências incríveis não deixam mentir: Bloom é um disco maravilhosamente gay. Troye Sivan não pede licença, nem se desculpa — e não deveria mesmo — para narrar as delícias e as dores de ser um jovem homossexual no século XXI. O resultado é um trabalho que olha para o futuro.

Ainda que aqui o australiano pareça estar confeccionando o registro que ele gostaria de ter ouvido em sua adolescência, as letras são de fácil identificação para qualquer pessoa. Isso porque sexo, amor e desilusão (Postcard é de cortar o coração) são elementos pertencentes ao amadurecimento de muitos de nós. Nas palavras da internet, pop perfection. (LS)

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