Promovido pela Biblioteca do campus e pelo Cômite de Ação Cultural, o encontro trouxe cinco escritoras bauruenses para compartilhar suas experiências
Nathalia Tetzner
Na primeira quarta-feira (05) do mês de Outubro, o Persona acompanhou uma roda de conversa com escritoras locais na sua sede, a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), promovida pela Biblioteca do campus de Bauru. Com caneta e bloco de papel nas mãos, o projeto traz os destaques da cobertura, que contou com as convidadas Anália Souza, Ariane Souza, Julia Bac e Renata Machado, com mediação de Patrícia Lima.
Sob o título “Literatudo: a experiência da escrita como inspiração para a vida”, o evento fez parte do Festival da Palavra, idealizado pela Biblioteca em parceria com o Comitê de Ação Cultural (CAC), e reuniu vozes femininas representativas na Literatura local para um debate essencial. O tema cumpriu o seu objetivo ao trazer à tona as dificuldades e alegrias de ser uma mulher no mercado editorial brasileiro.
Desde a escrita precoce de Anália, passando pela “escrevivência” de Ariane e pelo interno sensível de Julia, até as linhas experientes de Renata, o público pôde acompanhar e integrar uma discussão pertinente, conduzida de modo impecável por Patrícia. Cheias de histórias para contar, elas jogaram luz sobre assuntos como as dificuldades financeiras e de financiamento; a diversidade de gêneros literários e a presença em cenários artísticos diferentes; a formação e educação como autora; e a singularidade da poesia.
Jovem, Anália Souza escreveu o seu primeiro livro, A Força (Drago Editorial), aos 13 anos. Com um tom refrescante, ela pontuou as características da nova geração com o relato de que as fanfics, narrativas ficcionais publicadas por fãs de artistas, foram o estopim da sua carreira. Ariane Souza, a “atriz que pariu a poeta”, tem uma trajetória marcada pela bagagem racial e educacional, que se faz presente na vasta maioria de suas obras. Extremamente talentosa, ela conquistou aplausos com a performance de um trecho de uma cena autoral.
Por outro lado, Julia Bac, com toda a sua subjetividade tocante, emocionou os presentes com a descrição do processo criativo da coletânea de poesias Duas Mortes (7Letras). Atravessada pelo processo de luto e isolamento pandêmico, a leitura de alguns versos foi o suficiente para se fazer entender seu cuidado com as palavras.
Já para Renata Machado, a descontração foi a melhor forma de compartilhar os seus conhecimentos adquiridos por uma caminhada de sucesso. Principal fonte de apoio aos discursos das demais palestrantes, a escritora de carreira mais extensa entre as cinco presentes foi a peça fundamental para o entendimento da dificuldade em tornar a Literatura uma fonte de renda fixa em um Brasil historicamente machista. Ela também sublinhou o papel fundamental dos editais, meio pelo qual realizou sua peça infantil O menino minguado, filho da Lua Cheia, vencedora do prêmio Oswald de Andrade de Dramaturgia em 2000.
A mediação de Patrícia Lima conseguiu levantar tópicos significativos que guiaram a roda de conversa. Ela foi a organizadora da antologia O vazio não está nem quando é silêncio – Vozes femininas na literatura (Mireveja, 2020), que conta com textos de Anália e Renata, e, atualmente, coordena o grupo de leitura bauruense “Cevadas Literárias”. O Persona também tem o seu próprio Clube do Livro, e não pôde deixar de perguntar sobre a relevância dessa cultura, a qual a mediadora concordou ser uma maneira única e imprescindível de incentivo à leitura.
Inserida em um contexto de nítida tentativa de desmonte da Cultura pelos donos do poder, a iniciativa promovida pela Biblioteca e pelo CAC amplificou as vozes femininas da Literatura local. A roda de conversa “Literatudo: a experiência da escrita como inspiração para a vida”, realizada dentro de uma universidade pública, mostrou que a discussão acerca do tema é e sempre será indispensável.