A Lista de Schindler: mil nomes, mil vidas

Clássico filme de Spielberg conta a história real de um homem que sacrificou tudo o que possuía para salvar mais de mil judeus do Holocausto

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Créditos: Reprodução

Guilherme Reis Mantovani

Contextualizado no início da década de 40 e baseado em fatos reais, A Lista de Schindler, dirigido por Steven Spielberg, narra a história do alemão Oskar Schindler ( interpretado por Liam Neeson). Membro do Partido Nazista e possuidor de alto prestígio junto à SS, Schindler emprega mão de obra judia em sua fábrica voltada ao esforço de guerra alemão num anseio voraz de enriquecimento. Contudo, por intermédio da amizade que desenvolve com seu contador judeu Itzhak Stern (Bem Kingsley) e através da contemplação dos horrores da Solução Final, se sensibiliza e utiliza de sua influência e de sua fábrica como fachada para salvar o maior número de judeus possível.

O principal feito do filme é demonstrar a mudança gradativa dos princípios do protagonista quando estes entram em conflito entre si. Apresenta, portanto, uma invejável construção de arco de personagem: enquanto no primeiro ato, por exemplo, vemos Schindler apenas se incomodar levianamente com a fuligem vinda das chaminés das câmaras de incineração, afastando-a do caríssimo carro com um aceno rude, no terceiro acompanhamos o drama do mesmo ao notar que, por apego efêmero a um simplório broche, deixou de salvar mais uma vida, o que o leva a, de forma emocionante, entregar-se às lágrimas.

Paralelamente à história de Schindler, é mostrada a crueldade literal da desocupação e destruição do gueto de Cracóvia, na Polônia – e, aqui, a trilha sonora do ilustre John Williams (que já era digna de nota ao ser um alicerce na fomentação da carga dramática do filme) atinge seu ápice ao revelar-se detentora de uma essência irônica, que contrasta perfeitamente com o assassinato sem pudor ou restrição dos judeus. Outro cenário de atrocidades nazistas representado no filme é o campo de concentração de Płaszów, comandado por um oficial da SS, Amon Göth (papel que rendeu ao ator Ralph Fiennes o Oscar de melhor ator coadjuvante). Fiennes consegue a proeza de atribuir emoções e dúvidas a um personagem que facilmente poderia ser fadado ao ódio absoluto pelo público: seu desprezo incondicional pelos judeus é atribuído de forma genuína à lavagem ideológica do Nazismo e, mesmo em seus atos infames de crueldade, podemos notar dúvida e apreensão em suas feições – o que nos faz indagar, mesmo que por brevíssimos momentos – e isto já se configura num sucesso e tanto para um personagem neste contexto –, se suas ações são movidas exclusivamente por ódio.

O longa é monocromático, marcando assim a forte impressão dramática que o roteiro sugere. O próprio diretor anunciou que a falta de cores ameniza a violência abusiva que o filme teria de retratar, embora sirva como uma excelente estratégia da direção de arte ao contrastar com a única personagem representada em cor: uma inocente garota de casaco vermelho, que ao transcorrer da projeção aparece em cenas marcantes de conteúdo sensível, a última chegando a causar repulsa ao telespectador, momento em que a criança, já morta, se encontra entre pilhas de corpos a serem incinerados. A presença da cor vermelha revela-se apenas um detalhe aparente, numa personagem na qual não conhecemos o nome nem a origem, mas que emociona de forma sensível, alertando-nos de que, mesmo nas minúcias, as conseqüências do Holocausto são impactantes – e esta premissa essencial é retomada subjetivamente quando Oskar Schindler encara os judeus que salvou e sofre pelos que deixou de fazê-lo. Apesar disto, o rubor da menina pode ser observado também como a contraposição entre o sangue e a vida. Sendo assim, utilizando de um simples artifício, Spielberg enaltece o filme com uma fantástica simbologia de sentimentos e sensações.

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Créditos: Reprodução

Intenso em seu decorrer e emocionalmente devastador em seus minutos finais, A Lista de Schindler preza, portanto, pela diretriz de que não há vidas mais valiosas que outras e finda esta ideia numa junção de elementos que se delega a inserir na história: o Holocausto como plano de fundo, o desenvolvimento humano de Oskar Schindler e o sentimento vital despertado no mesmo – a compaixão –, que o levou a salvar gerações de judeus, pois como o próprio filme faz questão de exaltar: quem salva uma vida, salva o mundo.

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