La Pampa não desacelera nem nas curvas mais sinuosas

Cena do filme La Pampa. Amaury Foucher e Sayyid El Alami interpretam Jojo e Willy, respectivamente. Os dois estão de frente um para o outro, com as testas encostadas, transmitindo uma conexão forte e íntima. Amaury, com cabelo loiro e expressão suave, olha diretamente nos olhos de Sayyid, que sorri levemente. A luz natural e o fundo desfocado ressaltam o foco na interação entre os personagens, evidenciando um momento de cumplicidade e afeto.
O longa-metragem foi exibido na Semana da Crítica do Festival de Cannes (Foto: Agat Films)

Henrique Marinhos

Em competição na seção Novos Diretores da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Antoine Chevrollier nos conduz, em alta velocidade, pelos caminhos poeirentos do amor e luto em La Pampa. Ao contrário de Close (2022) e O Segredo de Brokeback Mountain (2005), aqui, a protagonista é a juventude – imprudente, vulnerável e, tragicamente, exposta às crueldades do mundo. A combinação da direção de Fotografia de Benjamin Roux e a montagem de Lilian Corbeille nos deixam em estado de alerta constante, mesmo confortáveis em uma cadeira de cinema.

À primeira vista, ficamos à vontade para mergulhar no que poderia ser só a inquietante juventude de conflitos, más decisões e rebeldia enquanto procuramos nosso lugar no mundo. Nesse ponto, nos vemos cultivando uma esperança quase ingênua de que as coisas não precisam ser como são – de que, no lugar dos personagens, faríamos escolhas diferentes, simplesmente porque torcemos para que não sigam pelo caminho que se insinua.

Jojo, interpretado por Amaury Foucher, busca amor e aceitação em lugares que não podem oferecê-lo. Já Willy, vivido por Sayyid El Alami, acompanha a trajetória do amigo sem poder intervir, como quem assiste impotente a uma avalanche, sabendo que fugir é inútil – e quando nos damos conta do tipo de filme que estamos diante, sentimos o mesmo. Logo, a ausência de Jojo não é um vazio tranquilo; enquanto o luto de Willy é raivoso, confuso e uma busca inquieta por sentido que o arrasta para o mesmo caos que tentou evitar. Cada tentativa de seguir adiante é também uma queda, como se fosse preciso perder-se para entender o peso do que ficou.

Cena do filme La Pampa. Amaury Foucher, de cabelo loiro e vestindo uma jaqueta amarela com detalhes pretos, está pilotando uma moto com um capacete colorido. Ele tem uma expressão séria enquanto segue pela estrada. No tanque da moto, vê-se o nome "La Pampa" e uma pintura de chamas. Ao fundo, algumas figuras desfocadas observam ao longe, enquanto a estrada e os postes de energia completam a ambientação rural, e seus amigos o olhando em alta velocidade.
Antoine Chevrollier e Sayyid El Alami já trabalharam juntos em Oussekine (2022), série indicada ao BAFTA; criada, escrita e dirigida por ele [Foto: Agat Films]
Apesar de tocar em temas dolorosos e frequentemente revisitados em narrativas LGBTQIA+, o filme evita transformar a sexualidade em um fardo carregado ao longo da trama. A homofobia acaba sendo mais eco da hostilidade do mundo exterior que o centro do conflito. Ao mesmo tempo em que encontramos alento na sutil sugestão de que redes de apoio – ainda que fragmentadas, instáveis e, por vezes, decepcionantes – são fundamentais para que cada um possa sobreviver às feridas que carrega. 

A câmera segue os personagens nessa marcha silenciosa, como se dissesse que o importante não é saber como ficaram as coisas ou onde está a linha de chegada. Saímos frustrados ao procurar uma grande catarse ou redenção. A vida também não se preocupa em dar respostas definitivas ou finais felizes – Chevrollier soube expressar isso muito bem. Em suas duas longas horas, La Pampa simplesmente propõe um passo à frente, sem olhar para trás

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