Lara Ramos Ignezli
Pouco mais de um ano após a pausa da One Direction, Harry Styles volta ao mundo da música com seu primeiro álbum solo autointitulado. O disco foi lançado oficialmente no dia 12 de maio: uma junção das músicas que um Harry Styles pré-adolescente ouvia sozinho no quarto, a experiência pop que teve na boyband e o que pretende fazer daqui pra frente; uma agradável bagunça musical que exalta a indefinição do seu criador.
O que logo de cara chama a atenção é a identidade visual da obra, uma composição carregada de cores quentes (principalmente do rosa) e de figurinos que remetem ao rock glam de Bowie. Além de agradar visualmente, a primeira impressão musical deixada por Styles também foi satisfatória.
“Sign of the Times”, o primeiro single do álbum, se apoia no ombro de gigantes como Prince e Queen – o primeiro, inclusive, possui um álbum de mesmo nome – para mostrar o caminho que o cantor pretende traçar, com uma letra rica e uma melodia melancólica. O clipe da música é, ao contrário de tudo antes produzido pela One Direction, mais sóbrio e pouco comercial, o que proporciona a oportunidade de interpretação e desconecta o cantor das produções anteriores para consumo imediato.
Por falar em referência, “Sweet Creature” mostra a influência dos Beatles, usando de um instrumental muito parecido com “Blackbird”. Outra canção do álbum que mostra o rock clássico sendo traduzido para o pop é “Carolina”. Apesar da semelhança ser menos nítida, é como uma mistura dos Beatles e do T. rex, banda britânica pioneira do glam e liderada por Mark Bolan. “Bang a Gong (get it on)” é uma das faixas produzidas pelo grupo que conversa bastante com a nova produção de Styles.
Além disso, é possível ouvir através das 10 faixas vozes do folk, do indie e do rock glam dos anos 70, trazidas por um cantor de 23 anos idolatrado pelos millennials, o que não dá pra ignorar. As influências mais claras nas composições aparecem em “Ever Since New York”, com ligação direta às músicas de Fleetwood Mac, e “Two Ghosts”, em que o compositor bebe da mesma água que John Mayer.
As referências em peso podem se tornar um problema para quem já ouvia os artistas que serviram de inspiração. Entretanto, essas referências contribuem mais do que prejudicam. Elas anulam um suposto apoio no sucesso da One Direction e interligam as músicas exclusivamente ao perfil solo de Styles. Apesar de parte da originalidade ser roubada nesse processo, o álbum abre as portas de músicas de décadas passadas para uma nova geração, que talvez não teria contato com tais produções. O passado é cantado e referenciado enquanto cumpre as exigências da música que é produzida no presente. Esse encontro de épocas é o que mais marca o álbum como um todo – diferente do que era feito na sua ex-banda, onde as músicas eram extremamente atuais e genéricas.
A One Direction teve início em 2010 e começou a fazer sucesso depois de ficar em terceiro lugar na edição britânica do X Factor, um programa de audições. Formada por Liam Payne, Niall Horan, Louis Tomlinson, Harry Styles e Zayn Malik, a boyband produziu durante cinco anos, anualmente, um álbum e uma turnê. A produção regrada mostrava a preocupação em agradar a indústria, mas, ao mesmo tempo, limitava a possibilidade dos membros tentarem algo diferente e mais ousado, o que fez com que Zayn deixasse a banda no ano de 2015. Apesar das limitações, Harry declarou que amava fazer parte da banda e escreveu diversas músicas que foram gravadas por eles, dentre elas “Stockholm Syndrome” (para o Four), “Olivia” e “Only angel” (para o último álbum Made in the AM).
É inevitável a comparação entre os álbuns dos dois ex-membros, considerando que Zayn deixou o grupo porque tinha certeza do que queria: o R&B moderno. O álbum de Zayn, Mind of Mine, produzido por Malay (conhecido por trabalhar com Frank Ocean e John Legend), cumpre o prometido, enquanto Styles viveu a experiência grupal até que ela tivesse um fim e só então foi pensar no que possivelmente caracterizaria sua carreira solo.
A desconexão das referências nas músicas mostra que Styles ainda se vê mais como um influenciado do que como um influenciador. Não pode passar despercebida, porém, a forma como o cantor se arriscou nos estilos que escolheu, se preocupando mais em passar o que sentia e pensava do que estabelecendo limites para uma maior aceitação do público em geral. O álbum se mostrou muito bem produzido por Jeff Bhasker e, sobretudo, demarcou o território Harry Styles no pop. Muita coisa boa ainda está por vir.
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