Estante do Persona – Junho de 2024

Celebrando o mês do orgulho LGBTQIAPN+, a Editoria indica obras queers (Texto de Abertura: Guilherme Machado Leal / Artes: Rafael Gomes)

Com oito histórias que abordam a vivência de pessoas queers, o Estante do Persona deste mês está mais orgulhoso do que nunca! As histórias que serão recomendadas abordam as diferentes camadas do árduo caminho traçado por aqueles que pertencem à comunidade. Para isso, a Redação do Persona separou uma lista especial, com obras que marcaram a vida dos membros após a primeira leitura.

Narrativas ficcionais se tornam confidentes de todo e qualquer leitor, ainda mais se há a possibilidade de se reconhecer nos escritos de um autor. Para as pessoas LGBTQIAPN+, essa identificação possui um objetivo ainda maior: ela auxilia no processo de auto descoberta da sexualidade e mostra como personagens queers podem ser plurais. Entre dramas e romances, as indicações deste mês reforçam a diversidade necessária dentro das páginas de um livro.

Em Junho, o foco é o aprofundamento dos integrantes da comunidade LGBTIQAPN+. As tramas sugeridas não apenas falam sobre representatividade, mas também mostram que que a vida queer não se resume a preconceito e algozes. Antes de toda a dor passada por essas pessoas, há o desejo de viver uma jornada linda. É direito de qualquer pessoa, independente de sua orientação sexual, de se reconhecer em narrativas lúdicas, pois é na Arte que muitos encontram refúgio.


Capa do livro Lembra Aquela Vez. Na parte superior central, há a frase “Edição especial com conteúdo extra” e, abaixo, o título do livro está escrito com fonte azul na parte central superior da capa. A capa apresenta um menino branco de cabelos castanhos e olhos azuis. Ele veste uma camiseta branca com um bolso nela presente no lado direito de seu corpo. O bolso possui quatro cores: verde, rosa, amarelo e azul. Ao lado do rosto do personagem, no lado direito, há um símbolo da editora Rocco na cor preta e no formato redondo. Na parte inferior central, há o nome do autor Adam Silvera na cor preta.
O autor Adam Silvera possui outras dois livros igualmente aclamados: História É Tudo Que Me Deixou e Os Dois Morrem no Final (Foto: Editora Rocco)

Adam Silvera – Lembra Aquela Vez (368 páginas, Editora Rocco)

Conhecido pelo aclamado Os Dois Morrem No Final, Adam Silvera também é autor de Lembra Aquela Vez, livro com uma sinopse inusitada. Nesse universo criado pelo escritor, as pessoas podem apagar as outras de suas memórias a partir de um procedimento médico no Instituto Leteo. No entanto, diferente de obras como Brilho de Uma Mente Eterna Sem Lembranças, ações e momentos também podem ser excluídos do subconsciente de alguém.

Com a premissa, Silvera centraliza a história em Aaron Soto, um garoto de 16 anos que mora no Bronx, em Nova York. O adolescente conhece um vizinho chamado Thomas e, a partir do desenvolvimento de sua relação com ele, o protagonista passa a ter sentimentos pelo menino. No entanto, ser gay no lugar em que eles moram é um problema, por isso Soto pensa em se submeter ao procedimento. Com isso, o escritor conversa sobre vida LGBTQIAPN+, diferenças sociais e homofobia internalizada em uma história marcada por primeiras paixões e tragédias da vida. – Guilherme Machado Leal


É assim que se perde a guerra do tempo. A cor da capa é azul bebê e, ao centro, existem dois pássaros: um vermelho e um azul. O pássaro vermelho está mais à esquerda e olha para a direita, enquanto o pássaro azul está em posição contrária e de cabeça para baixo. Entre eles, há o título da obra, na cor branca. Na parte superior, à esquerda, está o nome da autora em letras azuis e, à direita, o selo da Editora Suma, na cor branca. Na parte inferior, encontra-se o nome do autor em letras vermelhas. Um pouco mais acima, à direita, está escrito “Vencedor dos prêmios Hugo, Nebula e Locus” em letras azuis.
“Para parafrasear um profeta: cartas são estruturas, não eventos. As suas me dão um lugar onde viver” (Foto: Editora Suma)

Amal El-Mohtar e Max Gladstone – É assim que se perde a guerra do tempo (192 páginas, Editora Suma)

É assim que se perde a guerra do tempo acompanha a história de Blue e Red, duas agentes rivais em uma guerra infinita. No período em que elas vivem, as facções nas quais atuam lutam para interferir nos variados fios do espaço-tempo, a fim de favorecer seus lados no futuro. Após terem seus caminhos esbarrados diversas vezes, nos quais elas sempre observavam e tentavam desfazer o trabalho da outra, uma correspondência se dá entre as personagens. Totalmente baseada em provocações, em um primeiro momento, os assuntos abordados e o tom dessas cartas passaram a se modificar gradativamente conforme elas se familiarizavam uma com a outra.

Vencedor dos prêmios Hugo e Nebula, dois dos mais importantes da Literatura, a obra é uma combinação perfeita de ficção científica, poesia e romance epistolar. Mais do que se preocupar com a construção do universo no qual Blue e Red estão inseridas, Amal Et-Mohtar e Max Gladstone direcionam o foco para os sentimentos dessas mulheres e como ele é capaz de motivar novas maneiras de enxergar o mundo. Sensível e sem igual, É assim que se perde a guerra do tempo é um romance sáfico sobre o nascimento do amor onde só poderia existir o ódio. – Raquel Freire


Capa do livro Um traço até você, da escritora Olívia Pilar. A capa mostra o nome da autora e o título em letra cursiva no topo da página. Ele está acima de um céu roxo escuro com nuvens alaranjadas. Em tons de laranja mais abaixo da ilustração é possível ver uma paisagem urbana, com prédios ao fundo, duas árvores à esquerda, uma rua de paralelepípedos que segue na direção do leitor. Nelas estão as duas protagonistas, à esquerda se encontra Lina, uma mulher jovem de pele negra clara, de cabelos volumosos castanho-avermelhados. ela usa uma camisa rosa. Seus shorts e tênis e lábios são roxos na mesma tonalidade do céu. Ao lado de Lina está Elza, uma mulher jovem, de pele negra mais escura, e de cabelo Black Power preto. Ela veste um top laranja escuro, uma saia longa laranja clara e tênis brancos. Ambas são envoltas em uma linha que sai das letras do título e as segue pela página.
Lina e Elza vencem seus medos em busca de descobrir o lugar de ambas no mundo (Foto: Editora Intrínseca)

Olívia Pilar – Um traço até você (288 páginas, Editora intrínseca)

Ser uma pessoa negra e LGBT no Brasil é uma existência desafiadora, até mesmo para quem consegue a oportunidade de ser bem sucedido, é o caso de Lina, protagonista de Um traço até você. Uma estudante universitária, ela tem uma vida relativamente tranquila morando em um bairro de classe média de Belo Horizonte e sonha alto para seu futuro. Mas o preconceito contra a cor de sua pele surge como uma barreira para seus objetivos.

Lina encontra apoio e inspiração em Elza, outra apaixonada pelas artes. Juntas elas vão descobrir ainda mais afinidades em uma jornada de amor e autoconhecimento. Toda a emoção das personagens se mistura a reflexões sobre o racismo, a LGBTfobia e outras dificuldades tão comuns a jovens adultos. O Livro foi o romance de estreia de Olívia Pilar, escritora que busca transferir toda a diversidade cultural, étnica, social e de gênero do Brasil para as páginas. – Guilherme Dias Siqueira


Capa do livro Morangos Mofados. Ao centro da imagem, um abajur sobre uma mesa de cabeceira redonda cobre o rosto do homem sentado no sofá atrás. A meia luz do abajur ilumina a sala. O homem sentado no sofá está usando um suéter branco.
Morangos Mofados faz parte da lista de leituras obrigatórias da Unicamp 2025 (Foto: Editora Agir)

Caio Fernando Abreu – Morangos Mofados (158 páginas, Editora Agir)

Dos representantes da cultura da década de 1980 no país, Caio Fernando Abreu é um dos nossos nomes mais importantes. Angústia existencial, solidão urbana e homoerotismo são temas que permeiam a sua obra, sempre intimista. O autor gaúcho ganhou o título de ícone cultural após o seu quarto livro de contos: Morangos Mofados, escrito em 1982 e considerado a sua obra-prima.

Os contos de Morangos Mofados são um reflexo da época em que foram escritos, em meio à repressão do Brasil ditatorial. Nesse mês do orgulho, podemos destacar a representação sensível do desejo homossexual e da luta interna, dor, solidão e complexidade dos personagens dos contos, elevada pelo estilo confessional dos textos do autor assumidamente gay. Giovanna Freisinger


Capa de Minha querida Sputnik. Na imagem, temos intercalados as cores rosa e azul, na parte direita, há um fundo azul claro e está escrito em rosa o nome “Haruki Murakami” e abaixo, em preto, está escrito “Minha querida Sputnik”. Logo abaixo, há o desenho de uma flor em primeiro plano, com alguns rabiscos nas cores rosa e azul e mais ao fundo, algumas flores também, com alguns detalhes em rosa.
O aclamado autor japonês está em sua melhor forma escrevendo sobre um triângulo amoroso não convencional com um toques de realismo mágico (Foto: Editora Alfaguara)

Haruki Murakami – Minha querida Sputnik (232 páginas, Editora Alfaguara)

Os relacionamentos sempre são tratados de forma bem comedida no Japão, sendo visto muitas vezes com certo tabu. Dessa forma, Haruki Murakami, conhecido por analisar a sociedade japonesa em suas obras, encontra um prato cheio para se deliciar: um triângulo amoroso. Minha querida Sputnik conta a história de K, um jovem professor de Tóquio, que é apaixonado pela sua amiga Sumire, que, assim como os jovens do país, não liga para relacionamentos, até se apaixonar por Miu, uma executiva 17 anos mais velha e casada.

A obra tem uma cadência própria, se esgueirando pelas ruas e restaurantes da capital japonesa. Murakami usa da banalidade de uma metrópole para abordar temas como o choque geracional de uma sociedade que cada vez mais envelhece e a solidão. O autor acerta ao escrever personagens arredios entre si, forçando o leitor a aturar aquelas personas, ao mesmo tempo em que é ousado ao colocar seu narrador no papel de coadjuvante, não fetichizado o triângulo amoroso e dando o devido protagonismo para o relacionamento das duas mulheres. – Guilherme Veiga


A capa do livro
Boyfriend Material foi lançado em 2020 (Foto: Sourcebooks Casablanca)

Alexis Hall – Procura-se Um Marido (432 páginas, Sourcebooks Casablanca)

Procura-se Um Marido de Alexis Hall é uma comédia romântica que segue a vida de Luc O’Donnell, um jovem gay que se vê pressionado a contratar um namorado de mentira para melhorar sua imagem pública após uma série de decepções amorosas. Nesse contexto, a clássica narrativa fake dating ganha força quando Luc conhece Oliver Blackwood, um advogado aparentemente perfeito e, ao mesmo tempo, bem rigoroso. A partir dessa relação contratual, o livro explora temas como auto aceitação, vulnerabilidade e a complexidade das relações modernas.

Além disso, Alexis aborda questões como a pressão social e as expectativas familiares sem perder o tom leve e romântico que caracteriza o gênero, cativando o leitor conforme as páginas se passam. A química entre os protagonistas é palpável, e o desenvolvimento gradual do relacionamento deles mantém o leitor engajado até o desfecho – daqueles que deixam o coração quentinho. – Clara Sganzerla


Capa de O quarto de Giovanni. Na parte Superior do livro, temos o primeiro nome do autor “James” em letras grandes e o nome do livro/editora em letras pretas. O fundo do livro está em um rosa chamativo. Na parte inferior do livro, temos o sobrenome do autor “Baldwin” em letras grandes e pretas. O fundo do livro está colorido em um laranja chamativo.
“Você quer dizer que eu tenho uma casa para ir, desde que eu não vá lá?” (Foto: Companhia das Letras)

James Baldwin – O quarto de Giovanni (232, Companhia das Letras)

Quando publicado, em 1959, James Baldwin foi questionado sobre o livro debater a respeito de relações homoafetivas e não questões raciais, principal tópico abordado em suas obras. Baldwin, com muita honestidade, respondeu que a homoafetividade e o racismo são temas tão intrincados (naquela época), que trazer os dois na mesma composição seria um grande desafio.

Em O quarto de Giovanni, acompanhamos a história de David, jovem norte-americano em Paris, que espera pela resposta de sua namorada, Hella, em relação ao noivado. Enquanto ela reflete se deve ou não casar com o David, ele conhece Giovanni, garçom italiano por quem se apaixona e vive um romance. A trama é tão envolvente quanto desesperançada. O despertar de David é marcado pelo medo de amar livremente e pelo desejo de conhecer a si mesmo. Nas poucas páginas na qual o livro se estende, a relação delicada entre os personagens é sentida do início ao fim, trazendo consigo a sensação de querer mais daquela história. – Ludmila Henrique


Capa do livro Tom Lake. A imagem é composta por pinceladas em tons de azul claro e escuro na parte superior e tons de verde e verde escuro da metade em diante, como se fosse um muro com trepadeiras junto a um gramado em uma pintura impressionista. Espalhadas pela capa estão várias margaridas e flores brancas também desenhadas com pincel. Na parte superior, em cima da pintura, está um bloco branco também pincelado, onde se encontram o título e a autora da obra, em verde e azul respectivamente.
Uma história sobre o amor, a juventude e as escolhas no caminho com um toque da sensibilidade de um verão inesquecível (Foto: Editora Intrínseca)

Ann Patchett – Tom Lake (368 páginas, Editora Intrínseca)

Com uma escrita fácil e atraente, o romance de Ann Patchett nos leva a lugares desconhecidos que soam como memórias. Quando Laura narra as vivências de seus 20 e poucos anos para as três filhas curiosas sobre o passado apaixonado em frente aos holofotes da mãe, os amores, os segredos e as complexidades da vida surgem entre as lembranças. Tanto da narradora, quanto das ouvintes. Afinal, se relembrar é viver, Tom Lake sabe bem como as recordações fazem parte de amadurecer.

Tem algo sobre livro que exala verão. Apesar da narrativa ser ambientada entre as memórias de Laura Nelson e a realidade na primavera de 2020, as histórias e o presente se fundem em cenários intensos e ensolarados. Entre os antigos mergulhos no lago e as novas vivências da família Nelson durante o lockdown em sua fazenda, o aroma da grama verde e a sensação do sol tocando nossas peles se misturam em algo muito maior. Aqui, a nostalgia de passados nem tão distantes acaricia o coração enquanto os dilemas da juventude acenam de longe. – Agata Bueno

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