Divertida Mente: nossa mente é mais complexa do que parece

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Danielle Cassita

“Divertida Mente”, a mais recente animação da poderosa Pixar, trata da história de Riley, uma garota de 11 anos que mora em Minnesota, nos EUA. Típica jovem do país, Riley é uma menina rodeada por amigos, talentosa no hóquei, além de ser filha única, muito amada por seus pais. Porém, esse quadro confortável muda quando sua família se muda para São Francisco, o que implica nas tradicionais – e por vezes complicadas – mudanças: nova casa, pessoas diferentes, uma outra realidade para se adaptar e enfrentar.

Todavia, o filme não é narrado pelo olhar da menina, mas sim de suas emoções, personificadas em cinco figuras peculiares. Na “sala de controle”, situada na mente da garota, estão Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho,  as emoções básicas apresentadas nos estudos de Paul Ekman, psicólogo norte-americano – na verdade, ele acredita que há mais destas emoções básicas, com o acréscimo da Surpresa e Desdém; porém, o diretor Pete Docter desejava somente 5 ou 6 personagens e, desse modo, estes outros sentimentos acabam surgindo nas emoções representadas na película.

Conhecemos também as Ilhas da Personalidade, aspectos de Riley extremamente importantes para a formação de sua personalidade. Há a Ilha da Honestidade, da Amizade, da Família e do Hóquei. Quando Tristeza e Alegria saem da sala de controle e, portanto, as emoções saem de harmonia, as Ilhas começam a desmoronar. Sem saber como agir, o painel controlado pelas emoções fica travado, e a garota fica totalmente apática perante os novos desafios de sua vida.

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O filme mantém um ritmo ágil o tempo inteiro. Enquanto Alegria e Tristeza lutam para retornar à sala de controle, em dado momento surge o reencontro com Bing Bong, um amigo imaginário da infância de Riley. Numa cena em que o personagem não consegue acompanhar Alegria e fica para trás, é possível fazer uma associação com o complexo desapego de valores da infância. À medida em que o ser humano passa a conhecer a melancolia da vida real, nem mesmo o conforto imaginário se mostra mais efetivo.

É interessante notar a relação das outras emoções com a Tristeza: a Alegria, de maneira quase arrogante, tenta mantê-la longe a todo custo para que não influencie as outras memórias negativamente, mas há uma situação em que um problema é resolvido simplesmente pela Tristeza ter ouvido o desabafo de outro personagem. Trata-se de outro reflexo pontual da sociedade contemporânea, já que, hoje em dia, não há permissão de ter tempo para pensamentos negativos que possam influenciar nossa produtividade no meio de tantas tarefas para serem feitas. Além disso, com o advento das redes sociais, fica fácil ter a impressão de que todos possuem uma vida maravilhosa e que somente coisas boas acontecem – menos na nossa vida.

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Porém, conter sentimentos negativos o tempo todo não é saudável, e esse comportamento traz más consequências. Prova disso é que, após as emoções estarem sozinhas na sala de controle, Riley não sabe mais o que sente, e toma decisões precipitadas que, depois que consegue analisar a situação, percebe que não era o melhor a fazer, e passa a agir de forma correta.

A animação entretém tanto o público infantil quanto o adulto. Para as crianças, pode ser divertido ver as emoções interagindo e discutindo sobre o que deverão fazer nessa nova fase da vida dela, e desesperadas quando a Alegria e a Tristeza não estão mais lá. Já para os adultos, há a percepção de questões maiores envolvendo depressão, transição entre períodos da vida, além de aprender a aceitar a tristeza como um sentimento tão comum e natural como os outros.

Algo que pode ser considerado como um ponto baixo do filme é a apresentação da Tristeza, que aparece diversas vezes como um empecilho que simplesmente não possui vontade de ajudar em situação alguma, reforçando um estereótipo nocivo sobre pessoas depressivas. Esse quadro é revertido no final, com um sentimento de aceitação e liberação da tristeza que Riley possuía por estar longe de seus amigos e da vida que tinha.

“Divertida Mente” é o filme que vai mostrar o conflito de emoções que se passa na mente de uma garotinha, mas também mostra como é importante lidar com cada um deles e não menosprezá-los de forma alguma. Definitivamente, o prêmio de melhor longa-metragem animado recebido na última cerimônia do Oscar não foi à toa.

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