Isabelle Tozzo
As cordas ressoam por vinte e cinco segundos. Em seguida entra o piano. Suave, ele guia o restante da música. Na letra, Lana Del Rey canta sobre um homem que se acha demais. É com essa dualidade entre composição direta e melodia elegante que a americana de trinta e quatro anos abre Norman Fucking Rockwell!, seu novo álbum lançado no dia 30 de agosto.
A faixa homônima, que dá início a obra, sintetiza bem o que virá ao longo do disco. Elegante e mais maduro que os anteriores, Lana se reafirma aqui como uma excelente compositora. O piano que norteia e percorre todas as faixas, traz precisão e contrapõe as letras diretas, ácidas e sem tantas metáforas. O homem que dá título ao álbum, Norman Rockwell, foi um pintor e ilustrador estadunidense. Ao nomear o álbum assim, Lana Del Rey cria uma persona que representa os homens sempre presentes em suas músicas e que a acompanha novamente neste álbum.
Em abril deste ano já tínhamos a notícia de que o álbum estava pronto e as expectativas eram de que fosse lançado em maio. No entanto, em entrevista a rádio KROQ Lana explicou o atraso e contou que resolveu dar uns toques finais antes de lançá-lo ao público. É a primeira vez que Del Rey trabalha com o produtor Jack Antonoff, que já trabalhou com cantoras como Lorde e Taylor Swift.
Se tivéssemos que escolher uma estação para Norman Fucking Rockwell! definitivamente seria o verão. O clima fresco de uma Califórnia antiga carrega uma aura nostálgica de uma época na qual nem a própria Del Rey viveu. Mas mesmo assim nos faz sentir saudades de algo que não conhecemos. Essa atmosfera se aproxima das melodias feitas anteriormente em Ultraviolence, mas dessa vez buscando um lado menos obscuro da costa oeste americana.
Por falar em obscuridade, algumas músicas carregam um teor político, como é o caso de The Greatest, mais crua e delicada, e hope is a dangerous thing for a woman like me to have – but i have it. Em Lust for Life, seu álbum anterior, a política já fazia parte de algumas letras e aqui isso se repete. Em uma era Trump com aumento de crimes de ódio e problemas climáticos, Lana reforça a importância da música de protesto e de se posicionar.
Na musicalidade do álbum há uma união entre um instrumental orgânico e sons eletrônicos. Venice Bitch, por exemplo, que tem nove minutos de duração, mistura cordas com um longo solo de sintetizadores. A faixa é vista como desnecessariamente longa por muitos críticos. Porém, é inegável a ousadia em produzir algo que vai de oposto ao que é feito no mercado de música atual.
Além disso, Venice Bitch traz uma psicodelia devido as camadas de voz levemente esganiçada da cantora, presente também na faixa California. Sussurros e o som com grãos dão a sensação de que estamos ouvindo a música de um vinil e todos esses elementos nos presenteia com um universo ainda mais intimista de Lana Del Rey.
Para completar essa intimidade os clipes possuem cenas caseiras e filtro vintage, remetendo a época de Video Games, ou até mesmo antes disso, quando era Lizzy Grant. Os clipes de Venice Bitch e Mariners Apartment Complex possuem cenas parecidas e contribuem para reforçar o saudosismo presente nas músicas. Já Fuck it I Love You e The Greatest dispõem de uma produção maior, mesmo assim sem perder o clima.
Norman Fucking Rockwell! é provavelmente a obra mais verdadeira e madura de Lana Del Rey. A melancolia já conhecida pelo público está presente aqui, mas agora a cantora está no controle dela. Os Estados Unidos decadente serve de pano de fundo para o desejo de uma outra América. Mais do que nunca Lana revisita suas antigas praias e deixa em nós a aspiração de conhecê-las também.
Acabei de ver seu texto sobre o Ultraviolence e já corri pra ver se tinha feito um do NFR. Adorei <3 É muito bom ler coisas sobre a Lana escritas por pessoas que conhecem ela tão bem quanto você.