Bárbara Alcântara
Quem ouviu de cabo a rabo o álbum Riot!, em 2007, e se apaixonou por Paramore, ficou no mínimo surpreso com o recém-lançado After Laughter. O 5º álbum de estúdio não se distancia só do repertório da banda: também foge completamente das tendências atuais. Em meio a um revival dos anos 90, e de um relativo retorno da popularidade do pop punk e do emo – estilos que fizeram a banda deslanchar – o lançamento traz baladinhas oitentistas, entre o new wave, o synthpop e o pop tropical.
Os sinais dessa transição já vinham aparecendo desde as participações solo de Hayley Williams em outros projetos, até singles como “Ain’t It Fun” e “Still Into You”. A aposta em ritmos da década de 80, por sua vez, tem crescido no meio underground desde o retorno de Daft Punk, em bandas como Tame Impala. O que ninguém esperava, no entanto, é que o Paramore seria o representante do rock mainstream a se jogar de cabeça nesse estilo.
O álbum, que estava previsto para ser lançado 12 de maio, acabou vazando dois dias antes. Mas, nesse caso, nem foi feito tanto alarde. O choque real ocorreu em abril, quando foi divulgado o primeiro single. Ironicamente, o próprio título da música, “Hard Times”, antecipou reações: são tempos difíceis, de fato, para os saudosistas da comercial punk-Warped Tour e esperançosos de que o emo retornaria com tudo em 2017.
O que ficou claro para todos é que o Paramore de hoje não apenas se difere, mas contrasta com o Paramore de 10 anos atrás. Isso é perceptível já na estética visual: o videoclipe novo, dirigido por Andrew Joffe, usa e abusa de tons pastel, é alegre e repleto de efeitos especiais, enquanto o de “Misery Business” tem uma paleta de cores mais escura e tons quentes, além de um look bem emo 2000 (franjinhas, cabelos repicados e espetados etc).
Se em Riot! a banda tinha como uma das principais fontes de inspiração o post-hardcore punk de Refused (faz menção aberta em “Born For This” com o trecho “we want the airwaves back”, de “Liberation Frequency”), em After Laughter a influência fica a cargo do pop de grupos como Blondie – que, inclusive, também lançou um álbum novo esse mês (Hayley aparece platinada, um visual bem próximo de Debbie Harry). A guitarra e a bateria pesadas de Zac Farro e Taylor York dão lugar a percussão digital e sintetizadores, e Hayley Williams pega um pouco mais leve no vocal.
O álbum inteiro acaba tendo o mesmo tom. O segundo single lançado, “Told You So”, é muito parecido com “Hard Times”. As outras faixas seguem a mesma vibe oitentista dançante, e fica muito difícil escutar o álbum todo e não se sentir John Travolta em “Os Embalos de Sábado à Noite”. “Forgiveness”, “26” e “Tell Me How” são aquelas faixas que dão para dançar lento, agarradinho com o crush. “Fake Happy”, por sua vez, consegue capturar um pouco da essência antiga da banda e combinar com os coros e sintetizadores.
Apesar do choque com a mudança, é consenso que Paramore nunca foi uma banda estática. As transformações vão, desde as cores vibrantes do cabelo da vocalista, até a constante troca de formação – e os problemas que essa oscilação acarretou. O ex-baixista Jeremy Davis processou o grupo após lançarem o autointitulado último álbum, em 2014, por usarem o nome sem que ele estivesse na formação. Isso manteve o grupo em um hiato por praticamente 4 anos, deixando os fãs (e eles próprios) aflitos.
O que é difícil de afirmar é se o resultado atual é, de fato, o momento em que eles se encontraram ou se eles acabaram se perdendo de vez. Em entrevista ao canal “Behind the Brand”, no YouTube, a vocalista dá pistas. “Há dois anos eu estava pronta para desistir. Eu tinha passado por muitos problemas pessoais e com a banda, e eu tinha dúvidas se conseguiria compor um álbum que eu amasse tanto quanto o nosso último. […] Eu estava infeliz, mas eu não desisti e estou muito feliz por isso”, ela conta.
Hayley diz, ainda, que o contexto de criação dos álbuns foi muito diferente. Em Riot!, as letras eram sua única válvula de escape já que ela sempre sentiu falta de identificação na cena. Por mais que existissem ícones fortes para se inspirar, como Brody Dale, do Distillers, Gwen Stefani, do No Doubt ou Shirley Manson, do Garbage, ela se sentia muitas vezes desamparada e insegura porque essas referências estavam muito distantes.
Com o passar do tempo, conheceu e passou a ter contato com mulheres que compreendiam suas angústias. Elas logo se tornaram um novo ponto de apoio, além de suas composições: Bethany Cosentino, do Best Coast, Lauren Mayberry, do CHVRCHES, e as gêmeas Tegan & Sara (que vieram esse ano no LollapaloozaBr). Talvez seja daí que venha essa guinada que a banda deu ao meio pop.
Além disso, após Hayley e os dois colegas terem passado por períodos sombrios com o processo judicial e a formação indefinida da banda, eles sentiram que podiam, enfim, compor com mais leveza e, principalmente, maturidade. Então por que não extravasar isso no álbum?
O Paramore de 10 anos atrás definitivamente não é o Paramore de hoje. Mas não cabe aqui fazer juízo de valor, já que os estilos estão muito diferentes. O fato é que, em meio a mudanças constantes na estética visual, o trio resolveu, enfim, sair da zona de conforto musical também – sem perder a essência. Agora é esperar para ver se essa faceta dos integrantes veio para ficar ou é só mais uma fase.
Quem gostou, pode baixar After Laughter no site da Fueled By Ramen ou ouvir no Spotify enquanto dança no transporte público (com fone de ouvido, por favor). Quem detestou, paciência e segue em frente. Eles têm outros 4 discos para sua apreciação.