O Camaleão Das Telas

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João Pedro Fávero

David Bowie é um dos poucos artistas que conseguiram expandir o seu talento para outras mídias de uma forma digna e respeitável. Quando rockstars são chamados para estrelar filmes, normalmente não conseguem se desfazer do personagem que foi construído para o palco, interpretando à eles mesmos. Logo, essa não foi uma tarefa muito difícil para Bowie, que conseguiu criar personas em estágios diferentes de sua carreira musical, como os famosos Ziggy Stardust e The Thin White Duke. No cinema, os personagens interpretados por ele sempre têm algo de esquisito ou diferente, encaixando perfeitamente com as personas já conhecidas previamente pelo público.

A estreia de Bowie no cinema veio com um personagem que encaixa perfeitamente no seu intérprete. No filme “O homem que caiu na Terra”, interpreta Thomas Jerome Newton, um extraterrestre que chega ao nosso planeta para levar água de volta para o seu, mas acaba se perdendo na riqueza e no alcoolismo. A liberação sexual e o uso de drogas mostradas no filme são o reflexo dos anos 70 e até da situação que Bowie se encontrava na época, já que simultaneamente com as gravações do filme ele estava preparando o álbum “Station to Station” – cuja capa, assim como a do sucessor “Low”, é composta de imagens do filme – e seu personagem The Thin White Duke, notoriamente conhecido pelo uso abusivo de cocaína.

Talvez o papel mais marcante e conhecido de Bowie no cinema tenha sido o de Jareth, Rei dos Gnomos, no filme” Labirinto” (1986). Além de ter atuado no filme cercado de fantoches, a produção sai um pouco do esperado de Bowie, já que se trata de uma aventura infantil, além de abandonar o peso que seus personagens carregavam, ele ficou responsável por escrever algumas músicas para a trilha sonora. Fora do eixo cinematográfico EUA/Europa, Bowie foi parte do elenco de “Furyo, Em Nome da Honra”, dirigido pelo japonês Nagisa Oshima, também na década de 80.

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O impacto causado por sua presença nas telas é tamanho que basta apenas uma cena para que fique marcado na memória. Sua participação como o prefeito da Judeia Pontius Pilate em “A última tentação de Cristo”, de Martin Scorsese, é resumida à apenas um diálogo com o personagem principal, mas é o suficiente para se tornar um dos momentos mais marcantes do filme. Do mesmo jeito funciona sua aparição no spin-off da série Twin Peaks, “Os últimos dias de Laura Palmer”, em que vive o agente do FBI Phillip Jeffries. Sua cena se constitui em típicas sequências surrealistas, especialidade do diretor David Lynch.

Bowie já fez pequenas participações interpretando a si próprio, como em “Christiane F.”(onde também assinou a trilha sonora) ou na comédia “Zoolander”, em que aparece como um jurado em um desfile. Ainda na vida real, vale ressaltar que seu filho Duncan Jones é diretor de cinema, e seu filme “Lunar” foi amplamente premiado em festivais independentes. Duncan assina também a adaptação do jogo Warcraft, que estreia em 2016.

Sua última participação em filmes veio em 2006, em que interpretou o físico Nikola Tesla no filme “O Grande Truque”. Parecida com sua participação em “A última tentação de Cristo”, ele serve como um conselheiro para o personagem de Hugh Jackman. Assim como fora das telas, Bowie aparece aqui com uma aura mágica, sabendo que está mudando o mundo.

Apesar de não muito extensa, a carreira cinematográfica de David Bowie é chamativa pela diferença entre papéis e os gêneros em que atuou. Assim como na música, Bowie também pode ser chamado de Camaleão da Sétima Arte.

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