Jake Gyllenhaal pode ser assassino em Acima de Qualquer Suspeita – ou não

A imagem mostra o ator Jake Gyllenhaal, um homem com cabelo castanho e curto, usando um terno escuro e uma gravata. Ele está sentado, com a mão cobrindo parcialmente a boca, em uma expressão de concentração ou preocupação. O fundo é desfocado, mas sugere um ambiente formal, possivelmente um tribunal, com luzes suaves ao fundo.
Jake Gyllenhaal vive seu auge ao interpretar o protagonista Rusty Sabich na série Acima de Qualquer Suspeita, lançada pela Apple TV+ em Junho de 2024 (Foto: Apple TV+)

Laura Lopes

Rusty Sabich é um vice-promotor temido, reconhecido pelo seu talento em colocar criminosos de Chicago atrás das grades. Esse não é seu único atributo, porém. Na série Acima de Qualquer Suspeita (Presumed Innocent, no original), Sabich é vivido pelo ator norte-americano Jake Gyllenhaal (Donnie Darko; O Segredo de Brokeback Mountain) – ou seja, além de justiceiro, o protagonista é um galã com G maiúsculo, capaz de atrair qualquer mulher em um piscar de olhos – o que é um problema para ele.

A vida de Rusty, que, à primeira vista é digna dos comerciais de margarina mais cafonas, começa a degringolar quando sua companheira de trabalho e amante, Carolyn Polhemus (Renate Reinsve), é encontrada morta em seu próprio apartamento. A cena é chocante – Polhemus indubitavelmente não foi vítima de morte morrida, mas de morte matada, com requintes de crueldade. Não demora para que o romance, até então secreto entre Polhemus e Sabich, seja descoberto e ele se torne o principal suspeito.

Da esquerda para a direita: Jake Gyllenhaal, um homem branco, de olhos claros, cabelo castanho claro, sem barba, vestindo terno e gravata pretos e camisa branca, com a mão levantada e o dedo indicador sobre os lábios; e Renate Reisve, uma mulher branca, de cabelos lisos e olhos castanhos escuros, vestindo uma camisa social bege e blazer marrom. O fundo embaçado aparenta ser o de um tribunal.
Rusty Sabich (Jake Gyllenhaal) e Carolyn Polhemus (Renate Reinsve) são colegas de trabalho e vivem romance proibido [Foto: Apple TV+]
Baseada no livro (escrito por Scott Turow) e longa-metragem (dirigido por Alan J. Pakula) homônimos, a produção de David E. Kelley (Big Little Lies, Ally McBeal)  e J.J. Abrams (Lost, Star Trek, Star Wars: O Despertar da Força), lançada pela Apple TV+ em Junho deste ano, veio para colocar o streaming da maçã em outro patamar e consagrá-lo de vez, por ser distinta de qualquer outra versão já feita – e, sem dúvidas, melhor. Romance, obsessão, crime, reviravoltas e suspense do início ao fim são os elementos centrais da trama.

O crime inunda a vida dos personagens centrais como uma avalanche. Sabich se vê pela primeira vez do outro lado do tribunal, no campo da defesa, e não mais na acusação. Raymond Horgan (Bill Camp), que, além de melhor amigo, é chefe de Rusty, vê suas chances de reeleição ao cargo de procurador geral devastadas com o assassinato. Barbara (Ruth Negga), esposa do vice-promotor, se encontra presa no dilema entre ficar ao lado de seu marido, que ela já não reconhece mais, e se proteger de um possível criminoso. Jaden (Chase Infiniti) e Kyle (Kingston Rumi Southwick), filhos de Sabich, sofrem com a possibilidade de perder o pai para a prisão durante o processo judicial.

Em uma sala de TV, estão Kyle, um adolescente negro, de cabelo curto, enrolado e castanho escuro, com um balde de pipoca em seu colo e deitado nos braços de seu pai, Rusty, que é um homem branco, de cabelo castanho claro e olhos claros. Ao lado dos dois está a mãe, Bárbara, uma mulher negra, de cabelo castanho, ondulado e curto. Os três estão no sofá. Sentada no chão, em frente ao trio, está a filha adolescente Jaden, uma menina negra, de cabelo curto, enrolado e castanho escuro. Na frente da garota, há uma mesa de centro, que não aparece, mas onde estão posicionadas, copos, uma garrafa de cerveja e um bowl.
A harmonia da família Sabich é esfacelada quando seu patriarca, Rusty, é considerado o principal suspeito de um assassinato (Foto: Apple TV+)

As únicas pessoas felizes com o crime e acusação do já ex-vice-promotor são Nico Della Guardia (O. T. Fagbenle) e Tommy Molto (Peter Sarsgaard), que assumem os cargos de Horgan e Sabich, respectivamente, e se aproveitam da situação para alcançarem o poder que sempre desejaram. Destacam-se na série as cenas espetaculares contracenadas entre Jake Gyllenhaal e Peter Sarsgaard, que, mesmo sendo cunhados na vida real, deixam o parentesco de lado ao presentearem o público com uma rivalidade explosiva e sem escrúpulos. Molto é fissurado por Rusty e tenta deixá-lo atrás das grades a qualquer custo, não se sabe se por inveja da carreira e currículo quase impecáveis do galã, por ciúmes de Carolyn ou pelos dois.

Gyllenhaal, que teve sua estreia na TV com a produção, apresenta aos telespectadores um personagem diferente do que se viu com Louis Bloom de O Abutre e com o detetive Looki do thriller Os Suspeitos. Dessa vez, o ator seduz a audiência a seu favor, de modo a fazer com que torçamos pela absolvição de Rusty, mesmo em meio às inúmeras dúvidas que pairam no ar sobre ele . Gyllenhaal supera, inclusive, a interpretação de Harrison Ford ao trazer um protagonista muito mais complexo e multifacetado do que o vivido anteriormente pelo ídolo de Indiana Jones.

A imagem mostra uma cena em um tribunal. Um homem, vestido com uma camisa branca e calças cinzas, está sendo conduzido por um policial, que usa um uniforme azul escuro com um distintivo. O homem parece preocupado e tem as mãos juntas na frente do corpo. Atrás deles, um homem de terno escuro com uma gravata listrada observa. O ambiente é bem iluminado, com um teto de painéis de madeira e várias pessoas visíveis ao fundo.
Jake Gyllenhaal em cena da série Acima de Qualquer Suspeita (2024). [Foto: Apple TV+]
Há um ‘quê’ de similaridade com os sentimentos e angústias que o enredo da série Em Defesa de Jacob (Defending Jacob, no original), lançada também pela Apple TV+ em 2020, provocam. Mas, Acima de Qualquer Suspeita trabalha o drama judicial de forma mais sagaz e emblemática que a produção de quatro anos atrás, dirigida por Morten Tyldum, principalmente por não deixar o público cansado das burocracias jurídicas que permeiam a história – o desejo de saber o desfecho do julgamento e descobrir a verdade é sobressaltado ao longo dos oito capítulos.

E quem assistiu ao filme de 1990 não está livre das surpresas, nem precisa se preocupar com spoilers: o desfecho chocante da obra de Kelley e Abrams não é o mesmo de 34 anos atrás. O sucesso foi tanto, que, após bater recordes de audiência na plataforma, a produção teve sua renovação garantida. Um novo caso, no entanto, deve ser desenvolvido na segunda temporada, que ainda não tem data de lançamento.

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