Gabrielli Natividade
Em 2022, foi lançado o filme A Queda, uma história de suspense que mexe com o psicológico de qualquer um que o assista. No longa, as duas amigas, Becky (Grace Fulton) e Hunter (Virginia Gardner) lutam pela sobrevivência no topo de uma torre desativada de 600 metros. No entanto, a narrativa tem diversas camadas, abordando amizade, luto, medo e superação, deixando tudo ainda mais interessante. A produção, que está disponível na Amazon Prime Video, é recomendada para todos que se interessam na temática de sobrevivência – exceto para os que têm acrofobia, ou seja, medo de altura.
Fall – título original da produção – foi dirigido e produzido por Scott Mann, que tem o costume de lançar filmes com altas emoções e personagens que ficam presos em alguma situação perigosa, como é o caso de O Sequestro do Ônibus 657 (2015), que se passa em um ônibus, e Jogada Final (2018), em um estádio de futebol. O primeiro é protagonizado por Jeffrey Dean Morgan, o qual encantou tanto o diretor que ganhou um papel no longa de 2022, interpretando James Conner, pai de Becky. Pode-se dizer que A Queda é exatamente o perfil do cineasta e ele estar confortável em seu elemento é o que torna seu trabalho tão bom.
A obra mostra, inicialmente, como a vida de alguém pode mudar frente ao luto. A personagem principal, Becky, nos primeiros instantes da história, perde seu marido durante uma escalada. A partir daí, a garota se fecha para o mundo e todas as suas relações se tornam frustradas: ela não conversa mais com a melhor amiga e discute com o pai o tempo todo. A ideia de escalar a torre foi de Hunter, como uma forma de fazer sua amiga seguir em frente. Ao longo da sequência da subida, é possível perceber, com muita clareza, a forma como a ex-alpinista ainda está machucada e é movida pelo luto e pelo trauma. Ela, que antes era profissional no esporte, de repente precisa de um esforço imenso para subir os metros.
A partir do momento que as personagens ficam presas, o resto de A Queda se passa inteiramente na torre, refletindo perfeitamente o desespero de não poder fugir dessa situação angustiante. Outros filmes também usam esse recurso, com a principal comparação sendo 127 Horas (2010), dirigida por Danny Boyle, que narra a história real do alpinista Aron Ralston (James Franco) que ficou preso no cânion de Utah. Em ambas as obras, o espectador consegue sentir as emoções dos protagonistas, como fome, frio e a lenta perda de sanidade pelas condições precárias. O que difere os dois é o fato do segundo utilizar recursos mais lúdicos em tom surrealista para retratar as alucinações de Aron no ocorrido.
Outro aspecto utilizado para enfatizar o caos do longa é o seu elenco pequeno. Becky e Hunter dividem praticamente todo o tempo de tela e não interagem com praticamente mais ninguém. Duas pessoas em um espaço tão pequeno transmitem uma sensação de claustrofobia a quem assiste, mas essa também é uma boa forma de demonstrar como a relação entre elas é importante para o desenvolvimento da primeira, especialmente após passar por tantos atritos durante o seu processo de luto. Além disso, sua pouca interação com outras pessoas reflete perfeitamente a forma como ela se fechou para o mundo em sua depressão.
Fall é uma produção muito interessante que vai te confundir e te enlouquecer. Mesmo se passando em praticamente uma única habitação e não tendo um elenco vasto com grandes nomes, o filme tem muito a oferecer com suas reviravoltas, situações perturbadoras e o processo de libertação catártico da personagem principal. Scott Mann fez um bom trabalho cinematográfico e usou todos os recursos para passar exatamente a ideia que queria. No papel de Becky, Grace Fulton entregou um trabalho lindo no tom ideal que o longa requer. Ao todo, A Queda é um longa completo com o plot nas alturas.