Yes-People: como um simples ‘sim’ constrói o ser humano

Imagem do filme Yes-People. Na imagem uma senhora branca de cabelo branco e vestido verde toma uma sopa sentada em uma mesa a frente de seu esposo, homem branco, careca que usa uma regata ao fundo e mexe num rádio. Na mesa, há um jornal, um prato de sopa e 2 canecas. Ao fundo, uma parede vermelha com cartazes.
Yes-People garantiu sua indicação ao Oscar 2021 em Melhor Curta-Metragem de Animação ao mostrar 1 só palavra em diferentes situações do dia a dia (Foto: Hólamói)

Larissa Vieira 

Há quem diga que o ser humano fala mais a palavra ‘não’ do que o próprio nome, mas isso faz com que nós não levemos em conta o impacto e o peso de seu antônimo, ‘sim’, no nosso cotidiano. Falar uma simples palavra de 3 letras pode ter significados tão diferentes; conseguimos afirmar, negar, satirizar, debochar, discordar, implicar, implorar e muitas outras coisas ao apenas dizer ‘sim’ com uma entonação diferente da anterior. 

É isso que o indicado à Melhor Curta-Metragem de Animação do Oscar 2021 mostra em seus 8 minutos de tela. Yes-People não tem ‘história’, se não mostrar diferentes pessoas e seus diversos ‘sim’ em suas determinadas situações e contextos. Desde a professora que não quer magoar o aluno que toca mal a flauta até o casal que grita de prazeres na cama; todos os cenários somente são construídos a partir de 1 palavra, 1 frase, 1 diálogo: ‘sim’. 

Imagem do filme Yes-People. Na imagem, uma mulher branca de cabelos pretos usa óculos pretos e uma blusa marrom com bolinhas pretas assiste um menino branco loiro, que também usa óculos pretos e um suéter bege tocando flauta. Ele olha para uma partitura; à frente deles,há uma mesa branca com uma xícara em cima. Ao fundo é possível ver uma estante branca com objetos decorativos, uma parede azul escura com um quadro e uma cômoda bege.
‘Sim….’ (Foto: Hólamói)

Já-Fólkið, nome original em islandês, além de mostrar as distintas ocasiões em que o advérbio é utilizado em nosso dia a dia, ainda é inteligente ao sinalizar como não notamos o peso da palavra. Dizer sim aparenta ser mais fácil do que dizer não, porém o filme é capaz de mostrar que, às vezes, balbuciamos até a palavra mais simples de ser dita pois ela pode afetar não só nosso dia mas como nosso amanhã, nosso ano ou nossa vida. 

A mulher que fuma um cigarro e bebe diz um ‘sim’ aceitando o fim de seu relacionamento, enquanto um adolescente ironiza o pedido da mãe para que ele desligue o videogame, debochando com um ‘sim sim’. Todos os ‘sim’ também soam como um refúgio para as personagens, seja para fugir de uma discussão, de um embate, de desavenças ou do prazer, porque mesmo que o ‘sim’ não signifique a realização do pedido do outro ele ainda ecoa, em nosso subconsciente, bem mais bonito do que um não.

Imagem do filme Yes-People. Na imagem um homem branco, de cabelos pretos, usando óculos pretos, camiseta verde e calças marrom, assiste TV, sentado em um sofá marrom, enquanto apoia o prato de comida em sua barriga. Ao seu lado, em outro sofá marrom, está uma mulher branca, de cabelos vermelhos, usando uma blusa roxa e calça verde escura, segurando uma xícara e um cigarro. À frente deles há uma mesa de centro marrom com um vaso em cima e ao fundo, um abajur e outro vaso de flores.
O ‘sim’ nem sempre constrói situações, às vezes ele é um refúgio da negação (Foto: Hólamói)

O diretor Gísli Darri Halldórsson conseguiu trazer para a animação islandesa toda a essência da rotina do ser humano não só nos diálogos, mas também nos traçados e todos seus detalhes. A produção é rica em cores e pequenos desenhos que constroem todo o cenário ideal para a obra, o que garantiu a corrida de  Yes-People em busca da estatueta de Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação em 2021. 

Já-Fólkið, portanto, é brilhante por simplesmente representar o ser-humano construído a partir de uma única palavra: ‘sim’. Situações do cotidiano tem um peso muito maior em nossas vidas do que imaginamos e o curta-metragem abre nossos olhos para essa situação. Além disso, o filme islandês é inteligente em todos seus desenhos, detalhes, diálogos e, até, na reviravolta inusitada dos últimos segundos, em que entendemos puramente o ‘sim’ quando ele é contraposto de maneira brilhante com seu antônimo. 

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