Kubo e as Cordas Mágicas: inovador, mas fiel ao stop motion

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Nádia Saori

Kubo e as Cordas Mágicas é um longa de animação indicado à categoria de melhor animação, concorrendo com Moana, Zootopia, A Tartaruga Vermelha e Minha Vida de Abobrinha, e a de melhores efeitos visuais, concorrendo com Doutor Estranho, Mogli: O Menino Lobo, Horizonte Profundo e Rogue One. Dirigido por Travis Knight e produzido pelo renomado estúdio Laika, o forte da animação não é sua história, mas sua produção em stop motion que, com certeza, foi uma obra prima.

O enredo segue Kubo, uma criança japonesa que tem o poder de controlar papeis de dobradura ao tocar seu shamisen, instrumento de cordas tradicional japonês. De início, ele usa seu poder para contar histórias na vila em que morava, porém, depois que sua mãe é atacada por suas irmãs que querem roubar o olho de seu filho, Kubo é forçado a viver as histórias que contava para os moradores da vila e achar um final para elas.

O enredo é relativamente simples, envolvendo missões para encontrar os artefatos mágicos com batalhas para derrotar os monstros que protegem esses objetos. Os problemas se resolvem muito rápido e facilmente e os personagens são bem superficiais. A história, por mais que alguns críticos digam ter encontrado o equilíbrio entre um filme para as crianças e adultos, é bem infantil. Faltou um aprofundamento tanto da história quanto dos personagens para chegar a esse equilíbrio.

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A música é muito importante para o desenvolvimento da história dado que o poder de Kubo se manifesta ao tocar seu shamisen. A incorporação do shamisen na trilha sonora, que é a “clássica” de filmes com orquestra, foi bem executada, mas poderia ter sido melhor explorada. Ficou apenas uma mistura dos dois estilos quando Kubo usa seu poder. Se tivessem dado maior atenção ao som do shamisen nas batalhas, por exemplo, adicionando à trilha de orquestra ou então usando o shamisen como instrumento principal, passaria mais o ar nipônico em que os personagens estão inseridos. A trilha toda deveria ter sido mais como a música “tema”, a música dos créditos, While My Guitar Gently Weeps, dos Beatles, tocada com o shamisen no lugar da guitarra e interpretada pela Regina Spektor.

As inovações feitas pelo estúdio Laika deixaram uma marca na história de produções em stop motion com Kubo e as Cordas Mágicas. Os bonecos feitos para os personagens foram desenhados digitalmente e depois cada peça foi impressa em uma impressora 3D. As expressões dos personagens, o que mais muda por frame no filme, são montadas por duas peças: a parte da sobrancelha que envolve os olhos e a parte da boca, formando juntas inúmeras expressões. Kubo tinha 48 milhões de possíveis expressões faciais. Para se ter uma ideia, Coraline, que é referência em filmes em stop motion, possuía 207 mil expressões faciais. Somando todas as impressões 3D foram gastos um ano e meio apenas imprimindo.

Há outras coisas que impressionam além do número de expressões possíveis: os cabelos dos personagens humanos são fios de cabelo de verdade banhados em silicone e depois pintados; o modelo real da caveira vermelha possui um pouco mais de 4 metros pesando 180 kg; todas as roupas possuíam uma estrutura de metal por dentro para simular o movimento. Pode não parecer muito, mas existem muitas cenas de batalha nesse filme, o que não é comum em uma animação de stop motion pois há muita movimentação de personagem em uma luta, o que significa movimentação de membros do corpo, de cabelo, de roupa, de lugar do personagem, troca de expressão, tudo de uma vez. Uma semana de gravação equivalia a 4 segundos de cena no filme.

Se as expressões e movimentos dos personagens passam o ar clássico de stop motion, todos os outros movimentos da cena deixam enganar de tão detalhados e bem sequenciados que são, como movimento de objetos do cenário, dos origamis que kubo controla, o movimento das roupas dos personagens, ou até o movimento do mar. O diretor focou na animação prática, deixando poucas coisas em CGI. O mar é um exemplo, sua base de movimento foi feita manualmente e depois foi aperfeiçoada digitalmente para melhorar sua aparência.

Sendo realista, Kubo e as Cordas Mágicas não tem chances de ganhar em nenhuma das duas categorias do Oscar em que está concorrendo. Comparando com seus concorrentes na categoria de melhor animação no Oscar, sua história é infantil demais para vencer Moana ou Zootopia, grandes filmes da Disney, que são as mais prováveis de levar o prêmio. É na categoria de melhores efeitos visuais que ele se destaca, porém, seus fortes concorrentes são Doutor Estranho, Mogli: O Menino Lobo e Rogue One, todos carregados em CGI. Toda a proposta de Doutor Estranho foi baseada nos efeitos visuais. É bem provável que também não ganhe, mas sua indicação foi merecida.

Kubo é uma animação em stop motion, ou seja, não chama muita atenção. Mesmo que não ganhe nenhum Oscar, sua produção ambiciosa atingiu níveis extremamente altos e serviu o que prometeu: uma animação infantil com uma super produção inovadora sem abusar do CGI, permanecendo fiel à arte do stop motion .

Para ver mais da produção e da técnica usada nesse filme aqui estão alguns vídeos interessantes:



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