Jho Brunhara
Anunciado em março pela Netflix e lançado em junho, o filme Alex Strangelove, dirigido por Craig Johnson, traz a história de Alex Truelove (Daniel Doheny), um jovem no último ano do ensino médio que namora Claire (Madeline Weinstein), mas começa a questionar seus sentimentos ao conhecer Elliot (Antonio Marziale). Pela Sinopse, se assemelha a qualquer filme adolescente de triângulo amoroso ou do garoto que achava ser hétero e se descobre gay. No começo do ano tivemos o lançamento do filme Com Amor, Simon, outra comédia romântica com temática LGBTQ+, seguindo a mesma linha de aceitação e descobertas. É óbvio que a indústria das produções cinematográficas está vendo a oportunidade de explorar essa temática e alcançar um público específico, mas existe um algo a mais: esses clichês são poderosos.
Marcado por obras como O Segredo de Brokeback Mountain, Azul É a Cor Mais Quente, Carol, o ganhador de Oscar Moonlight: Sob a Luz do Luar, e o recente Call Me By Your Name, o cinema LGBT encontrou na geração atual – que é a mais LGBTQ+ assumidamente da história – a oportunidade de trazer a temática para o mainstream de forma rentável, mesmo sob risco de boicotes por conservadores. Alex Strangelove não é diferente: é uma comédia romântica adolescente lançada e divulgada pela Netflix para o seu público geral.
Assim como outros do gênero, a história foca em um indivíduo, um triângulo amoroso, conflitos e uma resolução. O clichê é evidente, mesmo o maior diferencial sendo a questão de Alex ser gay ou não. Ainda que leve o rótulo LGBT, o roteiro foca muito mais na questão do namoro com Claire – se eles vão transar ou não mais especificamente – do que a relação com Elliot, que surge no filme tão aleatoriamente quanto Alex se entrega. Os eventos acontecem de maneira rápida, e fatores importantes para um jovem em processo de descoberta, como aceitação dos pais, passam completamente despercebidos, um ponto que Com Amor, Simon trabalha de forma muito melhor. A impressão passada é que 30 minutos do roteiro foram condensados em 5, impossibilitando o desenvolvimento de uma parte muito importante do plot.
Mesmo com todas essas questões, o maior problema do filme está ligado diretamente a construção da sexualidade da personagem. Enquanto reflete sobre atração sexual, existe uma ideia promissora de que Alex pode ser bissexual. O roteiro menciona a bissexualidade em espécies de animais, e a mente de Truelove considera como extremamente possível que essa seja sua realidade, mas a questão é dispensada e substituída pela previsível homossexualidade. Longe das discussões da internet, a representatividade bissexual verdadeira em produções cinematográficas quando envolve mulheres já é extremamente problemática, muitas vezes associando a sexualidade a infidelidade, interesse ou indecisão. Quando se trata de homens é ainda pior, talvez reflexo de uma sociedade machista e homofóbica, e da grande quantidade de “falsos héteros”, frutos da necessidade de se afirmar a masculinidade em uma sociedade que prioriza a maioria sobre minorias.
Ainda assim, o saldo de Alex Strangelove é positivo. Mesmo sendo um filme LGBT+ a doses homeopáticas, mesmo relacionado ao pink money, mesmo construído por clichês. O impacto deve ser pensado como filme de comédia romântica. Crescemos assistindo apenas casais héteros se encontrando pelo destino, vivendo histórias de amor impossível, e essas obras foram exibidas a exaustão e repetidas por todos os anos. Mas quantos desses filmes tinham casais homossexuais? É esse o poder do clichê LGBT, ressignificar os gêneros que possuíam apenas héteros e colocar a representatividade em pauta. Talvez por agora precisemos do básico e do clichê no mainstream, para que abram uma porta à mais produções cinematográficas nesse estilo. Valorizar esses filmes não é se contentar com o que temos: talvez a próxima obra-prima só seja produzida porque alguém financiou uma produção clichê antes, e é por isso que não podemos ignorá-las.
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