Zafari: uma metáfora de fuga e desespero

Cena do filme Zafari. Na cena vemos Ana, Bruno e Francisco olhando para algo. Ana, mulher branca com cabelos castanhos, veste uma blusa na cor azul. Bruno, adolescente branco de cabelos castanhos, usa uma camiseta de manga longa vermelha e cinza. Francisco, homem branco com cabelos e barba grisalhos, usa uma camiseta de botão listrada branca e amarela. Todos encontram-se na lateral direita da imagem, e, ao fundo, é possível ver árvores e vegetação.
Zafari também foi exibido no Festival de San Sebastián (Foto: Vitrine Filmes)

Vitória Borges

A produção venezuelana Zafari, presente na seção Perspectiva Internacional da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, conta a história de uma família em situações precárias vivendo em uma Caracas distópica. Produzido por Mariana Rondón, o longa mostra a cidade dividida entre uma sociedade que está à beira de desmoronar e a ânsia pela fuga do país – fazendo uma clara comparação com a situação da Venezuela contemporânea.

Ambientado em um nobre apartamento que se encontra em estado de decadência, o filme nos apresenta uma família composta por Ana (Daniela Ramirez), Francisco (Francisco Denis) e Bruno (Varek La Rosa), o filho do casal. Acompanhando o dia a dia do trio que mora nas redondezas de um zoológico, nos deparamos com a chegada de um hipopótamo chamado Zafari, que, de maneira bem irônica, é alimentado em um mundo onde falta comida para as pessoas sobreviverem.  

Explorando as nuances e as complexidades da decadência de uma sociedade, Zafari se assemelha muito bem com outra produção de Mariana Rondón, Pelo Malo (2013), que combina o olhar para a barbárie em uma Caracas marcada pela desigualdade social e a crise econômica. E, que aos trancos e barrancos, tenta se recompor para escapar de um país distópico que está fadado à miséria e pobreza.

Cena do filme Zafari. Na imagem vemos Bruno olhando através das árvores. Bruno, adolescente branco de cabelos pretos, veste uma regata branca. Ele parece estar olhando para algo atrás de duas árvores. Ao fundo é possível ver que o garoto está no meio de um matagal.
Em suas produções, Mariana Rondón busca sempre mostrar a pobreza na Venezuela (Foto: Vitrine Filmes)

O longa de Mariana Rondón desestabiliza a situação de uma nação inteira, assim, ele erra a mão em querer mostrar esse lado da miséria em um país que passa por acontecimentos muito complexos como a Venezuela. Além disso, à medida que a produção avança entre as cenas, a história se torna mais confusa e incoerente, escapando completamente da lógica sobre a fome pela qual os personagens passam.

Zafari é, acima de tudo, uma obra que busca impactar o espectador ao oferecer o retrato de um país em situação de calamidade geral. Ao abordar essa temática de sociedade encurralada entre a necessidade de fuga e o peso da perda de identidade, a produção tenta colocar o público frente a frente com a precariedade vivida pelas pessoas que, ao poucos, estão envolvidas dentro de um espaço sem saída.

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