Vitória Borges
A produção venezuelana Zafari, presente na seção Perspectiva Internacional da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, conta a história de uma família em situações precárias vivendo em uma Caracas distópica. Produzido por Mariana Rondón, o longa mostra a cidade dividida entre uma sociedade que está à beira de desmoronar e a ânsia pela fuga do país – fazendo uma clara comparação com a situação da Venezuela contemporânea.
Ambientado em um nobre apartamento que se encontra em estado de decadência, o filme nos apresenta uma família composta por Ana (Daniela Ramirez), Francisco (Francisco Denis) e Bruno (Varek La Rosa), o filho do casal. Acompanhando o dia a dia do trio que mora nas redondezas de um zoológico, nos deparamos com a chegada de um hipopótamo chamado Zafari, que, de maneira bem irônica, é alimentado em um mundo onde falta comida para as pessoas sobreviverem.
Explorando as nuances e as complexidades da decadência de uma sociedade, Zafari se assemelha muito bem com outra produção de Mariana Rondón, Pelo Malo (2013), que combina o olhar para a barbárie em uma Caracas marcada pela desigualdade social e a crise econômica. E, que aos trancos e barrancos, tenta se recompor para escapar de um país distópico que está fadado à miséria e pobreza.
O longa de Mariana Rondón desestabiliza a situação de uma nação inteira, assim, ele erra a mão em querer mostrar esse lado da miséria em um país que passa por acontecimentos muito complexos como a Venezuela. Além disso, à medida que a produção avança entre as cenas, a história se torna mais confusa e incoerente, escapando completamente da lógica sobre a fome pela qual os personagens passam.
Zafari é, acima de tudo, uma obra que busca impactar o espectador ao oferecer o retrato de um país em situação de calamidade geral. Ao abordar essa temática de sociedade encurralada entre a necessidade de fuga e o peso da perda de identidade, a produção tenta colocar o público frente a frente com a precariedade vivida pelas pessoas que, ao poucos, estão envolvidas dentro de um espaço sem saída.