Fellipe Gualberto
Tyler Joseph e Josh Dun não estavam muito seguros quando assinaram contrato com a gravadora Fueled by Ramen (conhecida por Paramore e Panic! at Disco) fato que deu origem ao álbum Vessel, há 5 anos. Os integrantes de Twenty One Pilots pensavam que a chance de sucesso trazida pela gravadora poderia significar a perca da liberdade artística.
“Out of nowhere, we had a dozen labels interested in our small local band, taking us completely off guard. We had questions: Would we lose creative control? Would we be turned into something we are not? Can we keep doing what we are doing, the way we were doing it? Are we selling out? Encouraged by the answers to those questions, we signed a record deal called Fueled By Ramen. A record deal!”
Original da cidade de Columbus, em Ohio, o duo realizava shows menores, prova que obtemos pelo fato de que a primeira faixa de Vessel, “Ode to Sleep’, foi tocada pela primeira vez quando ainda não tinha nome e foi batizada por sugestões da plateia, da qual todos puderam opinar.
E foi justamente em um show na cidade natal, no dia 19 de novembro de 2011, que eles chamaram a atenção da indústria da música ao tocar para 1700 pessoas, ou, como Tyler Joseph preferiu chamar: “nossos mais dedicados fãs”.
O resultado da assinatura do contrato, a despeito dos temores que a banda tinha no começo, é que Vessel foi tão ousado e livre quanto os álbuns independentes anteriores, o self-titled Twenty One Pilots e Regional at Best. Vessel mantém a carga sentimental excessiva que já era trazida à tona anteriormente pela banda, mas dessa vez de uma forma mais organizada e linear.
O estilo se mantém parecido com o dos álbuns anteriores, a melodia te leva à catarse enquanto as letras te deprimem (uma das marcas de Twenty One Pilots), vide a faixa “Migraine”, na qual, apesar do ritmo animado, o eu lírico apresenta sua vontade de cometer suicídio e se queixa de sua mente depressiva que lhe testa como um “examinador cruel”.
“And sometimes death seems better than the migraine in my head”
A mudança brusca de ritmos durante uma música, algo que acontece nos antigos álbuns, ainda prevalece, “Holding on to You” é um exemplo onde uma única faixa aparenta ser 3 diferentes. Essa música através de diferentes ritmos e gêneros musicais sintetizados, apresenta um início, um desenvolvimento e clímax com um desfecho fatal.
Todos esses elementos também estão presentes nos dois primeiros álbuns e são reencontrados em Vessel, o que não deixam dúvida que Josh e Tyler foram os culpados pelo álbum, e que a gravadora foi apenas uma cúmplice ou até mesmo se limitou à testemunha, não limitando a criatividade da dupla ou os pressionando a ser alguém que eles não eram.
A ansiedade e insegurança transbordam nas letras, como em “Semi-Automatic”, onde a dupla expõe a dificuldade em relações interpessoais e a dualidade entre se culpar pelo mal que se fez a alguém, mas ainda assim não se arrepender completamente.
I’m never what I like
I’m double-sided
And I just can’t hide
I kinda like it
When I make you cry
Cause I’m twisted up, I’m twisted up, inside my mind
Ainda assim, o disco não se resume a sentimentos negativos. “House of Gold”, uma das canções mais pessoais deste álbum que por si só já é introspectivo, fala sobre relacionamento materno com um viés positivo, deixando uma ilha de esperança no mar de desespero que o conjunto da obra forma.
Vessel recicla 5 músicas do álbum anterior, Regional at Best, essas são: “Ode to Sleep”, “Holding on to You”, “Car Radio”, “Guns For Hands” e “Trees”. Isso acontece por que a expectativa para Regional at Best, como a própria tradução de seu título diz, era um sucesso “regional, na melhor das hipóteses”. Vessel era o momento de mostrar ao mundo quem era o Twenty One Pilots, embora Tyler e Josh ainda digam que produziram o álbum sem saber ao certo se alguém iria escutá-lo.
O álbum é conciso que segue um conceito e uma linearidade, quase todas as músicas falam sobre a noite, Vessel começa com o anoitecer em “Ode to Sleep”, que segundo a letra “Não fará prisioneiros essa noite”. A jornada continua quando o eu lírico enfrenta toda a noite, sobrevive a ela, e acaba com a chegada do dia seguinte, em uma música chamada “Truce” (“Trégua”, quando traduzido), uma trégua que irá durar até a próxima noite.
A faixa “Truce” destoa de todas por diversos motivos, o primeiro deles é a duração muito menor quando comparada com qualquer uma das outras. A melodia dessa música, tocada em um piano por Tyler Joseph é estranhamente triste, o que não se vê no decorrer do álbum.
Vessel representa os sentimentos do eu lirico sobrevivendo a uma noite e enfrentando seus demônios, suas inseguranças, mas acima de tudo, a sua ansiedade e a si mesmo. Talvez esse álbum tenha servido como experimento para o próximo chamado Blurryface, no qual além de uma história, um personagem homônimo é desenvolvido ao longo das faixas de uma maneira mais visível.
Você escreve muito bem parabéns viu!!