A opressão do amor em Tudo Que Imaginamos Como Luz

Cena do filme Tudo Que Imaginamos Como Luz. A imagem está em plano detalhe, captando apenas do ombro para cima das personagens. No centro está Prabha observando algo que Anu está segurando. Ela está atrás de Anu. Anu está segurando e observando uma air fryer vermelha.
Uma Noite Sem Saber Nada é o primeiro filme de Payal Kapadia (Foto: Petit Chaos)

Guilherme Moraes

Vencedor do Grand Prix no Festival de Cannes, Tudo Que Imaginamos Como Luz chegou com muita expectativa na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, ao ponto de lotar as sessões. Dirigido por Payal Kapadia, o longa, que fez parte das seções Foco Índia e Competição Novos Diretores, fala sobre a opressão do amor de diferentes formas nos grandes centros urbanos indianos.

A história é baseada em duas mulheres, Prabha (Kani Kusruti) e Anu (Divya Prabha), que dividem um apartamento e trabalham no mesmo hospital. A primeira é mais velha e está casada com um homem que precisou se mudar para a Alemanha a trabalho; a segunda é mais jovem e está namorando às escondidas com Shiaz (Hridhu Haroon). Esses relacionamentos guiam o filme, ao mesmo tempo em que são afetados pelo meio em que vivem: Mumbai. A cidade se torna um lugar de opressão, com a sociedade de olho nas duas e impondo o conservadorismo de maneira discreta. Nesse sentido, Anu não pode assumir seu romance com o namorado, que segue outra religião, e nem viver um amor mais liberal em relação ao sexo, já Prabha está presa ao seu marido, quem ela não vê há mais de um ano.

Feita por Ranabir Das, a construção imagética sobre os espaços é muito interessante para reforçar essas ideias. Enquanto estão na cidade, a escuridão e o tom acinzentado tomam conta, com uma iluminação neon, por vezes, estouradas e uma imagem granulada que reflete o isolamento, a tristeza e o cansaço. Além disso, os espaços apertados geram uma sensação de claustrofobia e não permitem que as personagens saiam de suas respectivas situações. No momento em que a cenografia muda para a praia, a diretora mostra total controle da narrativa ao utilizar os mesmos elementos, porém, gerando emoções diferentes. Toda composição começa a permitir que Prabha e Anu possam se emancipar. O mar aberto, a iluminação clara e estourada na caverna e o espaçamento criam os sentimentos de liberdade e leveza.

Cena do filme Tudo Que Imaginamos Como Luz. No fundo, uma quadra com vários garotos jogando futebol. O ambiente é escuro, com uma iluminação baixa. Mais próximo a câmera, como se fosse em um outro plano, estão Anu e Shiaz abraçados em frente a uma árvore. Anu veste uma roupa florida, com tons mais escuros. Shiaz veste uma roupa com tons azulados e detalhes em forma de árvore.
“Você terá que esperar até a noite para me ver. Mas agora, eu te mando beijos através das nuvens” (Foto: Petit Chaos)

A problemática do marido precisar trabalhar afastado da esposa para sustentar a família já era retratado desde A Canção da Estrada (1955), de Satyajit Ray. Contudo, Payal Kapadia prefere seguir um caminho diferente ao comparar esse amor esquecido de Prabha com o romance impossível de Anu. É no diálogo entre as duas relações que o longa ganha força. Enquanto a mais nova busca concretizar o seu romance de toda forma, a mais velha, magoada pelo sumiço de seu esposo, tenta proteger Anu dessa dor.

Tudo Que Imaginamos Como Luz é um filme muito bonito em todos os sentidos. Talvez tenha sido um dos mais chamativos da seção Foco Índia, o que levou a Mostra a proporcionar, em uma das sessões no Espaço Petrobrás, um Bloco Bollywood, como forma de se aprofundar na cultura do país e homenageá-lo. Com o prêmio de Cannes em mãos é possível esperar que venham muito mais filmes de Payal Kapadia pela frente, trazendo novamente um pouco dos valores indianos para o resto do mundo.

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