Nathalia Tetzner
Mais do que uma cinebiografia, Sob o Céu Cinzento é um retrato fiel dos maiores obstáculos do exercício do jornalismo: a censura e opressão de governos autoritários. Não importa o país ou a cultura, em algum momento da história, todas as diferentes sociedades do mundo conviveram com a repressão sobre a imprensa. No caso do longa-metragem, acompanhamos a trajetória de uma jornalista bielorussa em busca de liberdade.
Pod Szarym Niebem (no original) se inspira nas vidas reais de Igor Ilyash e Katsiaryna Andreyeva, essa última, presa em 2020 por televisionar a brutalidade das Forças Armadas durante uma manifestação contra as eleições presidenciais na Praça das Mudanças, em Minsk, que resultou na morte de Raman Bandarenka. Com mudanças para adequar a narrativa às telonas, o filme integrou a 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Dirigido e roteirizado por Mara Tamkovich, também jornalista, Sob o Céu Cinzento é sua estreia no audiovisual. Competindo na seção Novos Diretores na Mostra SP, a cineasta abusa um pouco do tom dramático mas faz um trabalho decente que perturba. É terrível sabermos que histórias como essa ainda ocorrem na atualidade e, provavelmente, sempre acontecerão. Afinal, o que é o jornalismo se não a busca por uma verdade que aterroriza os poderosos?
Com atuações pouco expressivas, a Fotografia de Krzysztof Trela se sobressai. Colocando em ação cores frias e angustiantes, que fazem mais pela criação de uma atmosfera sombria do que os atores, muitas vezes, presos em si mesmos. É difícil encontrar qualquer tipo de conexão entre o casal principal da trama, Lena (Aliaksandra Vaitsekhovich) e Ilya (Valentin Novopolskij), separados pelos altos muros do presídio ou não.
Embora tenha seus momentos de dramatização elevada que nem mesmo os atores principais conseguem acompanhar, Sob o Céu Cinzento traz uma denúncia alarmante sobre o passado, a atualidade e o futuro do jornalismo; profissão constantemente ameaçada por regimes totalitários. E, se visitar o passado ajuda a compreender e evitar os mesmos erros no futuro, o longa-metragem, ao menos, traz uma boa reflexão para o público.