(Créditos: Divulgação)
João Pedro Fávero
O mês de fevereiro marcou a quarta passagem da lendária banda The Rolling Stones pelo Brasil. Em suas apresentações em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre o grupo mostrou shows recheados de clássicos, porém sempre alterando um pouco o setlist – inclusive deixando uma música ser escolhida pelo público, a partir de uma votação na página da banda no Facebook.
Os Rolling Stones têm uma longa história com o Brasil. A primeira passagem dos integrantes pelo país foi na virada do ano de 1968, quando o vocalista Mick Jagger e o guitarrista Keith Richards, acompanhados respectivamente de suas namoradas Mariane Faithfull e Anita Pallenberg, vieram passar o réveillon no Rio de Janeiro e em seguida foram para uma fazenda em Matão, no interior de São Paulo. Inspirados pelo ambiente bucólico, Jagger e Richards escreveram uma das músicas mais famosas do grupo, “Honky Tonk Women”.
A primeira apresentação de fato dos Stones veio somente 27 anos depois, com a “Voodoo Lounge Tour” em 1995. Foram cinco apresentações no Brasil: três em São Paulo, no estádio do Pacaembu (durante o festival Hollywood Rock) e duas no Rio de Janeiro, no Maracanã. Os shows foram marcados pela estrutura de palco monstruosa que a banda trouxe, nunca antes vista em um show por aqui e pela transmissão do segundo show no Rio de Janeiro ao vivo em TV aberta.
Três anos mais tarde o grupo voltou com a “Bridges to Babylon Tour”, novamente passando somente por São Paulo e Rio de Janeiro. Os shows contaram com a abertura do igualmente lendário Bob Dylan, que também marcou presença nas apresentações do grupo. O resultado desta turnê pode ser conferido no álbum “No Security”, lançado em 1998. O grupo voltaria mais uma vez em 2006 para um show grátis na praia de Copacabana, reunindo mais de um milhão de pessoas na plateia.
Um retorno ao Brasil era esperado desde a turnê “50 & Counting” de 2012, quando a banda comemorava 50 anos de carreira. Nesse tempo, os Stones lançaram um DVD com um show no Hyde Park, emendaram outra turnê (“14 On Fire”, de 2014) e Keith Richards lançou um álbum solo (“Crosseyed Heart”), até que foram anunciados os shows na América Latina – além do Brasil passaram também pelo Chile, Uruguai, Argentina, Peru, Colômbia e México.
O segundo show dos Rolling Stones em São Paulo durante esta turnê começou pontualmente às 21h. Após uma introdução animada ao som de percussões tribais clichês que supostamente remetem ao povo latino, o grupo tomou de assalto o Morumbi lotado com 65 mil espectadores começando o show com “Jumpin’ Jack Flash”, seguida por “It’s Only Rock N’ Roll (But I Like It)”. Durante as duas horas de apresentação, os Stones passaram pelos hits certeiros (“Miss You”, “Start Me Up”, “Sympathy For The Devil”), baladas (“You Can’t Always Get What You Want”, onipresente nos setlists da banda e “She’s A Rainbow”, escolhida pelo público) e músicas um pouco mais obscuras (“Out Of Control”, “Slipping Away”).
Com um português travado, mas ainda compreensível e seus passos de dança, Mick Jagger mostrou porque é considerado um dos melhores frontman do rock, se comunicando muito com o público, pedindo para “quebrar tudo” além de elogiá-lo dizendo que ele era “do caralho”. Seus companheiros de banda não ficaram atrás: Keith Richards se aproveita bem da sua imagem de lenda viva e faz muitas poses com sua guitarra, sorrindo muito quando é sua vez de brilhar durante as músicas, além de cantar em duas do setlist (“Slipping Away” e “Before They Make Me Run”). Ronnie Wood desfilava junto com Keith e algumas vezes roubava a atenção do público de seu companheiro de instrumento. Charlie Watts não interage muito, apenas sorrindo esporadicamente e tocando sua bateria como esperado.
A banda de apoio que acompanha os Rolling Stones também merece grande destaque, principalmente os backing vocals Bernard Fowler e Sasha Allen que preenchem os vazios deixados por Jagger quando está dançando e são vitais em algumas execuções, como em “Sympathy for the Devil”, “Brown Sugar” e “Gimme Shelter”, onde Sasha brilhou e não se incomodou com a chuva que caía sobre ela e Jagger. Para terminar o show, não havia escolha mais certeira: “(I Can’t Get No) Satisfaction”.
Mais uma vez, os Rolling Stones mostraram um show impecável, com um palco espetacularmente iluminado (as cores mudavam de acordo com as canções), muito carisma e um passeio por 54 anos de rock n’ roll. A “Olé Tour” se encerra na próxima quarta-feira em Porto Alegre, onde se apresentam pela primeira vez. Após o fim da turnê, a nova empreitada da banda é a exibição “Exhibitionism” em Londres, contando a história da banda por meio de memorabília, além de um esperado novo álbum de inéditas.