Perdido em Marte: O azarão no Oscar?

Matt Damon, agora na pele de Mark Watney, mais uma vez precisa de esforços para ser encontrado são e salvo num filme que, apesar dos problemas pontuais, marcou um título de sucesso de Ridley Scott após tempo considerável no ostracismo.

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Guilherme Reis Mantovani

O que você faria se estivesse isolado em um planeta atingido por tempestades violentas e frequentes, temperaturas extremas e 56,3 milhões de quilômetros distante de qualquer forma de vida? Este é o dilema vivido por Mark Watney (Matt Damon) em “Perdido em Marte”, embora o mesmo não esteja de fato perdido; afinal, ironicamente face à dublagem do título (do inglês original The Martian), os profissionais da NASA sabem sua exata localização.

O filme de 2015 baseia-se na obra literária The Martian, do norte-americano Andy Weir, ao contar a história de Watney, astronauta presumido morto após ser deixado para trás por sua tripulação quando uma tempestade imprevista em sua agressividade atinge o grupo durante uma missão em Marte. Watney, entretanto, sobrevive, e encara uma tarefa considerada impossível: manter-se vivo até a NASA enviar um resgate; tarefa esta passível de se prolongar por anos à fio.

Dirigido e produzido por Ridley Scott, “Perdido em Marte” é uma ficção científica, que busca frisar bastante o “científico” a fim de tornar o componente “ficção” agradavelmente verossímil: suscita, inclusive, uma veneração perante a engenhosidade e a inteligência humana numa abordagem otimista e repleta de humor. Sim, apesar de isolado em Marte, Mark Watney revela-se um personagem persistente, carismático, mas acima de tudo detentor da capacidade afável de descontração, mesmo face às problemáticas complexas. Esta característica gera um apreço do público para com o protagonista, tornando ainda mais empolgante acompanhar suas manobras criativas e inteligentes para solucionar os problemas que, inevitavelmente, assombram-no em Marte.

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Apesar disto, contudo, tal característica limita o personagem: a profundidade de Watney é muito pouco explorada, assim como crises psicológicas que, devido à sua condição – isolado de outras pessoas por muito tempo em um planeta completamente inóspito –, seria um elemento essencial, apesar – reforço – do filme possuir cunho otimista; o senso de urgência neste sentido não é devidamente abordado com intensidade, levando o telespectador a se perguntar “Como e quando Mark Watney será resgatado?”, ao invés de “Será que ele será resgatado?”. Tampouco suas transformações físicas são apresentadas de forma convincente: sua decadência aparente é ressaltada abruptamente já no terceiro ato, enquanto poderia ser apercebida gradativamente ao longo de toda projeção, o que impactaria ainda mais o público e não abriria brecha para, neste caso, uma noção resultante de preguiça no enredo.

O longa peca também no péssimo aproveitamento de seu elenco, recheado de excelentes atores.  Figuras como Jessica Chastain, Aksel Hennie, Sean Bean, Donald Glover e Kristen Wiig passam despercebidas pela participação efêmera de seus respectivos personagens, evocando um viés de superficialidade em suas atuações e uma sensação de talento desperdiçado.

Por outro lado, o filme desenvolve-se de maneira fluída e orgânica: a montagem de Pietro Scalia torna o enredo dinâmico, contrapondo eficientemente, por exemplo, as cenas internas claustrofóbicas que acompanham Watney no pequeno habitat que ocupa, com os planos externos da superfície marciana, que por sua vez agradam em sua fotografia: o teor alaranjado e empoeirado que domina os cenários transmite muito bem a sensação de degradação e um ligeiro desespero. Outra composição de cenas que se completam enquanto se contrapõem esteticamente, são as referentes aos experimentos feitos na agência espacial e suas consequentes aplicações em Marte, as quais funcionam como uma boa forma de exposição da narrativa.

“Perdido em Marte”, portanto, é um filme muito bem escrito e que marcou o retorno bem sucedido de Ridley Scott às telonas (talvez seu melhor trabalho de direção desde “American Gangster”, de 2007). Preza pela reverência ao conhecimento humano abordado diante da problemática principal da história, a qual é lidada sob diversos aspectos: engenharia, botânica, astrofísica e até mesmo elementos de relação interna ou pública como política e publicidade, respectivamente. Apresenta, entrementes, falhas consideráveis em sua construção. Sendo assim, por consequência, não se sustenta no mesmo patamar de seus principais concorrentes na busca pelo Oscar de melhor filme de 2016.    

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