Ana Laura Ferreira
As premiações Hollywoodianas podem ser um tanto controversas e dificilmente agradam a todos. Mas, algumas vezes, certas produções se mostram tão boas que é impossível negar suas conquistas. Esse é o caso da série original da Netflix O Método Kominsky (The Kominsky Method, 2018), que no dia 6 de janeiro conquistou 76º Globo de Ouro de Melhor Série de Comédia ou Musical e Melhor Ator de Série para esse mesmo segmento, fazendo o experiente Michael Douglas levar a estatueta para casa por sua interpretação como o protagonista Sandy Kominsky.
Durante seus oito episódios acompanhamos a vida de Sandy, um ator esquecido pela indústria cinematográfica que tenta conciliar a sua agitada vida pessoal com sua tentativa de voltar a atuar, e de seu melhor amigo Norman (Alan Arkin), que enfrenta a recente perda da esposa. Ambos idosos, eles tentam encarar os novos desafios dessa fase da vida enquanto refletem sobre suas conquistas, derrotas e sobre o deixarão quando se forem.
Com diálogos inteligentes e carregados de sarcasmo, a série permite que se faça piadas da velhice sem apelar para representações caricatas, possibilitando que o humor apareça de forma natural dentro da trama. Entretanto, mesmo sendo extremamente cômica, a produção não abandona seu lado dramático que é quase que inteiramente trabalhado sobre a morte da personagem de Susan Sullivan, Eileen.
Conhecido por seus papéis em filmes como Um Dia de Fúria e Homem-Formiga, Michael Douglas entrega uma performance notável como protagonista da série. Mesmo com poucos minutos por episódio Douglas dinamiza sua atuação criando um personagem “perfeitamente imperfeito”. Dentro de toda sua complexidade, Sandy Kominsky convence como uma pessoa real com qualidades e defeitos tão bem equilibrados que tornam impossível prever suas ações, dando a ele as qualidades de um ser em constante aprendizagem.
Dessa forma, seu enredo é capaz de desconstruir vários estereótipos da velhice reforçados pela indústria cultural, mostrando dois senhores que não são nem tão sábios, nem estão debilitados como se espera que estariam nessa idade. Assim como na também original Netflix Grace and Frankie, O Método Kominsky traz os dilemas da velhice como as dificuldades de retomar a carreira profissional, as ameaças de doenças e a terrível proximidade com a morte sem se esquecer que, apesar de tudo, essa é a melhor fase da vida.
Quebrando tabus, a série aborda temas como a sexualidade nesta fase da vida e a quebra da masculinidade tóxica que, apesar de não ser tão bem trabalhada como em Brooklyn Nine-Nine, também está presente, principalmente dentro da relação dos protagonistas que não veem problema em compartilhar seus sentimentos entre si.
E como se já não bastasse os nomes de peso que protagonizam a história, ainda contamos com a participação de grandes estrelas como Elliott Gould (o pai de Monica e Ross em Friends), Danny DeVito e Ann-Margret. Entretanto, mesmo com um forte elenco, a produção tem nos coadjuvantes seu ponto mais fraco. Por conta de sua curta duração a série não comporta a grande quantidade de personagens secundários que apresenta, deixando que eles se tornem rasos e estereotipados.
O maior exemplo fica a cargo da atriz Lisa Edelstein que interpreta a filha de Norman e Eileen, Phoebe Newlander: uma dependente química que já passou por várias reabilitações mal sucedidas. E mesmo com mais tempo de tela do que a maioria dos coadjuvantes sua atuação caricata e seus diálogos superficiais não convencem, dando vida a uma personagem pouco original e até mesmo irritante, que destoa do resto do elenco.
Apesar de algumas falhas, é inegável que O Método Kominsky é uma das melhores produções originais da Netflix. A série, que não se estende mais do que o necessário, transita de forma harmoniosa entre a comédia e o drama, entregando um enredo coeso e cativante que o deixará ansioso por sua continuação e convencido de que ela é merecedora de seus prêmios.