Leonardo Gimenes
Em uma franquia de filmes, enquanto o primeiro tem a missão de estabelecer um universo e seus personagens, o segundo precisa desenvolvê-los a partir de um novo desafio. Nesse sentido, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo (2024) apresenta mais uma ameaça fantasmagórica que precisa ser derrotada pelos caça-fantasmas, que ainda contam com a ajuda de novos rostos.
No entanto, é justamente o acréscimo desses ajudantes para a missão que parece atrapalhar o desenvolvimento da equipe apresentada em Ghostbusters: Mais Além (2021). Isso porque, além de perder tempo com personagens totalmente descartáveis, o roteiro de Gil Kenan e Jason Reitman apresenta problemas desinteressantes para os membros da família Spengler.
É o caso, por exemplo, do atrapalhado Gary Grooberson (Paul Rudd), que deseja se estabelecer como pai, ou então de Trevor Spengler (Finn Wolfhard), cujo único problema que enfrentou foi tentar capturar um fantasma comilão. No fim, praticamente não existe evolução dos membros da equipe em relação ao filme anterior, o que mostra a ineficiência do roteiro em lidar com tantos personagens.
Quanto à Comédia, marca registrada da franquia, a sequência parece menos inspirada do que o primeiro filme – o que também aconteceu com o drama. Phoebe Spengler (Mckenna Grace) assume novamente o protagonismo, mas com uma história que desperta pouco interesse ao retratar o dilema de uma adolescente que não pode ser uma caça-fantasmas por causa da idade.
Com personagens menos carismáticos que no longa anterior, a continuação acaba sendo sustentada pela nostalgia dos filmes clássicos, seja pelo retorno dos integrantes da equipe de caça-fantasmas original de maneira ainda mais participativa ou pelos famosos objetos usados para capturar os inimigos e a trilha sonora que, dessa vez, ficou sob a responsabilidade de Dario Marianelli. O compositor conseguiu cumprir com a sua função ao retomar as músicas clássicas da franquia, além de equilibrar momentos mais leves e mais tensos.
Já os efeitos visuais, feitos por John Van Der Pool e Geoff Baumann, fundamentais para a construção do já consolidado universo de Ghostbusters, são convincentes e ajudam a desenvolver as poucas cenas com os fantasmas. No entanto, apesar de alguns momentos inspirados, até mesmo a imponente ameaça construída em quase duas horas de filme acaba sendo frustrante por causa de um desfecho morno.
O espírito maligno pode até ser ameaçador e apresentar uma aparência aceitável, mas não se sustenta no ato final. Depois de colocá-lo como um antagonista desafiador até mesmo para tantos personagens, o roteiro, feito por Gil Kenan e Jason Reitman, escolhe a opção mais fácil e decepcionante para a equipe conseguir derrotá-lo e salvar Nova York, uma velha conhecida dos fãs.
Mesmo com momentos nostálgicos, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo é uma sequência apagada de um filme bem mais interessante. É natural que novos longas virão, uma vez que ainda rendem boas bilheterias e mobilizam milhões de fãs. Agora, resta saber até quando uma franquia pode se sustentar entregando apenas saudosismo.