Foo Fighters: há 20 anos, novas cores e uma nova forma

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Vitor Portella

Lançado em 1997, The Colour and the Shape é o segundo álbum do Foo Fighters e também seu o mais vendido até hoje nos EUA, com mais de dois milhões de copias certificadas. No último dia 20, essa obra tão querida pelos fãs e que revolucionou a carreira da banda completa 20 anos de existência.

O Foo Fighters surgiu em 1994 das cinzas da grande Nirvana, logo após o suicídio de Kurt Cobain no mesmo ano, e em meio a todo um cenário formado por bandas underground de rock alternativo, como Soundgarden e Nine Inch Nails, além de uma nova onda de Black Music, Hip Hop e Dance Music. Dave Grohl, ex-baterista da banda que uniu as tribos, passando por um estresse pós-traumático pela tragédia de Cobain, pensou em abandonar o mundo da música. Contudo, possuindo uma série de composições próprias não divulgadas, resolveu gravar, sozinho e sem nenhum tipo de compromisso, um álbum solo num estúdio em Seattle.

Para manter-se no anonimato, Grohl utilizou o nome Foo Fighters em álbum homônimo. Desde então, o projeto cresceu, atraindo a atenção de grandes gravadoras e adquirindo uma formação além de apenas Dave, uma necessidade para as performances ao vivo. Pat Smear (ex-guitarrista do Nirvana e do The Germs) também entrou para o time como guitarrista, além de Nate Mendel (do Sunny Dal Real Estate, no baixo) e William Goldsmith (bateria).

Após as turnês de 1996 (devido ao grande sucesso do primeiro disco), a banda voltava para o estúdio, em Seattle, para gravar seu segundo álbum com o produtor Gil Norton, escolha ideal para trabalhar com a mistura de melodias pesadas e baladas. Todas as condições estavam favoráveis para o novo álbum: grande número de canções de qualidade, banda forte e jovem e integrantes extrovertidos e criativos. O Foo Fighters estava em seu auge já no começo, vivendo o sonho de rockstars com apenas três anos de existência.

Foo Fighters at the Polo Fields, Golden Gate Park in San Francisco, California (Photo by Kevin Mazur/WireImage)
Da esquerda pra direita: Nate, Pat, Dave e William (Foto: Kevin Mazur/WireImage)

A estreia havia sido produzida informal e rapidamente, em apenas cinco dias. Agora, Dave contava com mais três integrantes para escrever, meses de reuniões e diversos projetos de arte para a capa. O primeiro disco era o oposto do segundo, como uma “fita demo” – segundo as palavras de Grohl numa entrevista para a MTV. As composições se tornaram mais profundas e complexas. The Colour and the Shape foi o outro grande salto do Foo Fighters para a mídia e para a história da música. Contudo, nem tudo eram rosas, ou melhor: sexo, drogas e rock n’ roll.

Norton era muito exigente com a qualidade das gravações e com a necessidade da técnica por parte dos integrantes da banda. Sem formação musical, todos tiveram certa dificuldade em gravar. No documentário Back and Forth (2011), Mendel revela ter tido que procurar professores para aprimorar sua técnica no baixo. Dave e Pat também tiveram dificuldade em gravar as baladas, devido às suas origens no punk e no grunge.

Além do problema da habilidade técnica dos integrantes, Grohl não ficou satisfeito com o trabalho de Goldsmith na bateria do álbum e decidiu regravar algumas das faixas, sem o consentimento do dono das baquetas. Porém, quando os outros integrantes se deram conta, ele acabou por regravar o disco inteiro. A pressão das turnês, o ritmo de Dave e a rasteira levada nas gravações fizeram Goldsmith deixar a banda. Logo depois do lançamento do disco, Taylor Hawkins (ex-baterista da Alanis Morissette) assumiu as baquetas e permanece no posto até hoje. Todo o processo de gravação foi difícil e de grande esforço, mas gerou algo muito especial.

Em 97, com Taylor ao lado de um Dave Grohl barbado
Em 97, com Taylor ao lado de um Dave Grohl barbado

The Colour and the Shape foi um sucesso imediato, apesar da crítica falar de um “excesso de polimento da produção”. O título do disco veio do gerente da turnê na época, que gostava de visitar lojas de antiquados e objetos estranhos, dizendo gostar da cor e do formato (colour and the shape) de alguns objetos.

Com 13 músicas, as letras oscilam entre as dificuldades da vida pessoal dos integrantes e assuntos considerados clichês (a “história de amor bobinha”) e mostram o potencial de Dave Grohl em escrever hits e belas canções, revelando uma sintonia positiva quanto ao som que a banda produz em conjunto no estúdio.

O álbum inicia com a “Doll. Nela, Dave aborda o fim de um relacionamento e como ele não conseguia seguir em frente. Curta, calma e suave, serve de introdução para “Monkey Wrench”, o primeiro hit do disco, que segue com um chute na porta e um tapa na cara. Sua letra sugere uma superação por Dave do assunto tratado na faixa anterior: um grito de libertação.

“Hey, Johnny Park!segue, abrindo com uma bateria marcante e um riff de guitarra pesado. Mesmo sendo desconhecida para os fãs dos hits, é uma digna de destaque por oscilar entre o heavy e a balada, numa combinação rítmica de envolver com a alma.

“My Poor Brain segue com uma mistura positiva de balada nos versos, punk nos refrãos e uma letra que traz um desejo de mudar a si mesmo até o final. Então entra “Wind Up com agressividade: uma ode à insatisfação de Dave em relação ao modo como é tratado pela imprensa. Uma faixa ideal para quem gosta dos trabalhos mais excêntricos da banda. Logo depois, “Up In Armsentra para acalmar as coisas; boba nas palavras, mas intensa no instrumental.

É nesse momento que se inicia um dos grandes hits da história do Foo Fighters. “My Hero” é a heroína e o amor dos fãs. Nela, Dave faz uma homenagem às pessoas comuns, que não precisam ser estrelas para fazer algo bom e salvar o mundo. Uma carta de amor: “There goes my hero, watch him as he goes / There goes my hero, he’s ordinary”.

O baixo pesado de Nate Mendel ganha destaque em“Enough Space” – nela, Dave grita por espaço, pois é necessário mais espaço para curtir uma música dessas ao vivo. A balada “February Starsquebra o ritmo do disco, positivamente. Linda, romântica e metafórica, é uma das faixas mais menosprezadas da banda.

Eis que entra “Everlong, o segundo grande hit do álbum. Com o ouvinte já emocionado, ela esmaga corações e arranca lágrimas de rostos com seu belo refrão: And I wonder / When I sing along with you / If everything could ever feel this real forever / If anything could ever be this good again”. Escrita em 45 minutos por um Dave recém divorciado, revela a tristeza e a desolação do autor de modo cativante e emocionante. Uma música quente para momentos de frieza. Aí, cabe a“Walking After Youe “New Way Home fecharem o álbum com chave ouro.

The Colour and the Shape é uma das grandes obras primas do Foo Fighters e a melhor porta de entrada para quem deseja conhecer a banda mais profundamente. Nascida do trabalho duro, da persistência, das dificuldades emocionais de Dave Grohl quanto ao passado e ao presente, mostra a humanidade dos integrantes e a desmistificação do ideal de estrelas do rock. Seus singles conquistaram as rádios, a MTV (na época) e o coração dos fãs até hoje, mas o álbum como um todo é uma peça preciosa na história da banda.

 

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